25 abril, 2008
Bicho Papão
Existem aqueles pavores que nunca mudam aqueles que conseguimos superar e ainda aqueles que deixam de existir após os anos. É bom colocar que também há aqueles que se modificam, mas que continuam ali. Acho que a ápice de todos os pavores humanos é a morte. Ela nem me faz cócegas. Acredite. Mas, sobre ela falarei no meu próximo texto. Ela mal pode esperar. Enfim, vamos falar de solidão. Quantas pessoas têm medo deste ‘estado’ físico? É, é. Quantas pessoas que fogem dela e de jeito nenhum querem se encontrar sozinhos. Então, para mim os grandes ‘heróis’ – ou quase-, são aquelas pessoas que vivem sozinhas e tem a total conscientização do que é isso – oi, eu sou uma heroína! Queres um autografo?
Ah, eu gosto de escrever desta forma ok? Confusa e alienada. E por isso agora irei falar do meu medo, mas disfarçadamente pelas beiradas.
Precisa de muita coisa para mim me apavorar, mas quase nada para eu estar em alerta. Tudo depende dos atos. Não, não dos átomos. Pequenos atos significam muito perante tudo isso que é o amor – sim, irei falar dele -, porque nunca se sabe a intensidade do amor que um tem pelo outro, um pode amar e o outro simplesmente gostar, nunca saberemos ao certo,é bom respeitar tal sentimento porque como ele vem, ele vai,
e se um dia alguém que o amou e que morreria por você te esquecer por perceber tais atos, observar cada defeito e a falsidade que você tem em meio a tudo, você passará a ser apenas mais um existente do mundo. Uma pessoa como todas as outras. Um ninguém. E disso eu tenho medo. Apavora-me pensar que posso amar alguém e depois não amar mais. Acabar e pronto. Não sei amar pela metade, prefiro odiar. Tenho mais medo ainda de ser esquecida por quem eu morreria, tudo bem, agora são poucas as pessoas e não estão limitadas a minha ‘friendlist’ de Orkut. Posso contar nos dedos. Então por medo de sofrer não amo, e por medo de amar eu sofro. É, estou fudida e mau paga. As pessoas falam coisas, e por trás do que falam há o que sentem, e por trás do que sentem – medo esta ali -, há o que são e nem sempre se mostram. Há os níveis não formulados, camadas imperceptíveis, fantasias que nem sempre controlamos e expectativas que quase nunca se cumprem, e, sobretudo, emoções que nem se vive e por tudo isso, por medo, infelizmente, repetirás, insistirás, completamente desesperado, e teu único apoio seria a mão estendida que, passo a passo, através de cada palavra estarás quem sabe afastando para sempre. Mas já não sou capaz de me calar, talvez diga então, descontrolado, e um pouco mais dramático, porque meu silêncio já não é uma omissão, mas uma mentira. O outro te olhará com seus olhos vazios, não entendendo que teu ritmo acompanharia o desenrolar de uma paisagem interna, absolutamente não verbalizável, desenhada traço a traço em cada minuto dos vários dias e tantas noites de todos aqueles meses anteriores, recuando até a data, maldita ou bendita, ainda não ousaste definir, em que pela primeira vez o círculo magnético da existência de um, por acaso banal ou pura magia, interceptou o círculo do outro. Ou seja, alguém ou até mesmo eu poderei entrar em sua vida. Mas, terei medo e por sentir ele até me sentirei respirando, mas não estarei viva. Por que se não for amor, simplesmente estarei morta. O Amor é o ridículo da vida. A gente procura mesmo uma pureza impossível. Uma pureza que está sempre se pondo. Indo embora. A vida veio e me levou com ela. Sorte é se abandonar e aceitar essa vaga idéia de paraíso que nos persegue. Bonito e breve. Como borboletas que só vivem vinte e quatro horas. Morrer não dói. Não precisa ter medo – morte de novo, será que não pode esperar até o próximo texto?
Amor é só o que faz as coisas iguais serem diferentes. E o que nos da coragem para seguir em frente, e não ter medo, não ter medo. Medo. É. É.
Meu medo então é esse, de amar. Medo de não ter medo. Medo de ter coragem e enfrentar qualquer coisa pelo amor. Medo de pessoas. Por que não consigo amar ‘coisas’, apenas livros e cores. Não me agrada lembrar que há tantas outras faculdades descansando em mim, que bem podem enferrujar se não forem usadas, e por hora tenho de ocultar com cuidado! É que esse coração já fermenta o bastante por si próprio. E talvez seja por isso que eu o trato como uma criança doente, satisfazendo-lhe todas as vontades. Mas, não diga isso adiante, há pessoas que poderiam usá-lo contra mim. E disso, eu morro de medo, até mais do que do Bicho Papão.
20 abril, 2008
Sala 11
Teutônia, 09 de maio de 2004.
08h15min.
Aula de Ensino Religioso – Proposta de trabalho:
- Fale sobre você (o que pensa, gostos, defeitos, qualidades e etc.).
Valor: 30 pontos.
08h 21 min.
Luara Quaresma:
Eu sou feita de sonhos interrompidos, detalhes despercebidos, amores mal resolvidos. Feita de choros sem ter razão, atos por impulsão. Alguém cansado de seguir regras impostas pela sociedade contemporânea. Sinto falta de lugares que não conheci experiências que não vivi momentos que já esqueci. Eu a solidão e a indignação constante. Sou altista e hiperativa. Cumpri coisas não-prometidas. Sorri para não chorar. Ninguém pra você, mas uma legião de personalidades para mim e para meu uso. Tenho saudade de pessoas que fui conhecendo, lembranças que fui esquecendo, amigos que acabei perdendo. 12 horas social 12 horas anti-social. Refugio-me em meu quarto e nas minhas angustias. Falante, principalmente em momentos impróprios. "Julia Wind Smile". Leitora compulsiva. Hermaníaca. Atrasadíssima. Cachorrista militante. Não sou politicamente correta, NÃO! Chorona convicta. Chocólatra. Letrista. (A)normal. Fã de botecos regados a Coca e caminhadas sem rumo. Caio Fernando Abreu, Clarice Lispector, Amélie Poulain, talvez, me entenderiam. Não gosto de carne. Tim Burtom, um ídolo. E como penso muito, tenho dificuldade de me concentrar no que estou fazendo. Sou muito distraída. Adoro futebol e handebol. Competir me atrai. Detesto Aglomerados Humanos. Metade extro, metade introvertida. Moleca. Bochechuda. Crítica. Piadista, mas sem graça. Sonolenta. Psicóloga-não-formada-sem-conselhos-úteis, contudo em constante plantão. Sentimental, dependente de música e de oito horas de sono. A única parte da Bíblia que eu já li foi I Cor 13:4-7, não me pergunte por quê. Eu sempre achei legal ser tão errado. Não suporto gente sem iniciativa ok.
8h 43 min.
Entrega do trabalho.
8h 51 min.
Professora:
- Luara, venha comigo até a sala 11.
- Por que professora?
- Para conversar com a diretora.
8h 54 min.
Depois desse dia, Luara nunca mais foi vista.
15 abril, 2008
Quase uma carta de amor
Silêncio.
Suspiro.
Papel amassado. Jogado no Chão.
Começo novamente – minhas mãos tremem, que porra é essa? Devo ter algum problema de coordenação motora ou sei lá -, não é tão difícil, só escreva uma carta de amor:
‘Eu nunca imaginei que eu precisaria de você. Os dias parecem anos quando vejo que não está aqui. E quando você vai embora os pedaços do meu coração sentem a sua falta.
Nunca consegui organizar o que sinto de verdade em parágrafos. É tão difícil eu mostrar o que é tão óbvio. Os bons criam amores platônicos ao seu próprio (des)gosto, maneira e fantasias. Sexuais ou não. Eu até acreditava que se não fosse amor platônico não teria graça, mas e quando a dor se torna mais constante e mais covarde?
Mudando para permanecer a mesma. E tentando me equilibrar nessa corda bamba de infelicidades – olá, sou apenas uma garota de 17 anos que acredita em príncipes encantados! -, tudo bem. Eu sei que preciso beijar alguns sapos – eu fui sarcástica agora, se por acaso não percebeste.
Outro papel. Outra tentativa.
‘Bem, quero que você saiba que existe alguém que pensa em você antes de dormir, que queria poder te tocar e te fazer sorrir. Se eu pudesse nem pediria nada de mais, só gostaria de poder te entregar esta carta.
Sinto-me perdida de um jeito que você não conseguira imaginar, sinto o vento amargo e o mundo vazio, só porque não te tenho do meu lado. Já cansei de tentar aceitar, minhas lágrimas já nem são meu limite, preciso respeitá-las, tento evitá-las. Quero que me veja sorrir e diga: É ELA! MEU DEUS! É ELA!’
Papel amassado. Jogado no Chão.
Silêncio.
Suspiro.
Lágrima.
Em qualquer circunstância, estarei no lugar certo, na hora certa e no momento exato. E vai ser quando vou te encontrar, porque quanto mais fujo de ti, mais de descubro em mim. Necessito de um refugio melhor.
Outra folha. Mais um começo.
‘ Estou escrevendo uma carta de amor. Amor mesmo, porque nunca senti isso por ninguém, e tenho tanta certeza quando digo que preciso de você em meus dias. Quero poder te abraçar e te proteger, conseguir te olhar no olho e pegar na tua mão. Sei que tudo isso pode ser estranho, afinal sou eu, a Luara que esta aqui se declarando, acredite o amor não me livrou e nada que eu faça consegue mudar esse roteiro de sufrágio e carência, essa vontade de te ter e de poder te dizer tudo que não consigo colocar nesta carta, é muito mais fácil quando as palavras estão soltas. E entenda, não sou muito boa com elas e nem sei como apresentá-las. Só queria que soubesse que por você eu matava que por você eu morreria. ’
Silêncio.
Lágrima.
Silêncio.
Outra folha. Agora é pra valer. Uma carta de amor não é tão difícil de escrever.
‘Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem.
Caso contrário os honestos, simpáticos e não-fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta. O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão.
O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar.
Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano.
Isso são só referências. Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá,
ou pelo tormento que provoca. Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera. Ama-se justamente pelo que o amor tem de indefinível.
Não se deve brincar com os sentimentos alheios nem transformar o amor em
apenas palavras repetidas ao vento. Quero poder te beijar em cada defeito, predominar e ouvir sua respiração. Amar pelo que tu és. Ser o que eu sou.
Conto todas as infindáveis frações de tempo.Quis ter o tempo, mas ter o tempo, sem te ter a ti, é ter saudade.
Abrace-me, saiba que esse é meu ultimo pedido.’
Silencio.
Papel amassado. Jogado no chão.
Silêncio.
Silêncio.
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12 abril, 2008
Equívocos de um heterônimo
Eu continuo errando, a cada dia. A cada vez. A cada desespero de buscar o que é certo – preciso aprender que o que é certo nem sempre é o melhor -, talvez esse seja o apogeu do fracasso, durante muito tempo me encontro inerte, num mar de vertigem com a ânsia de que preciso chegar a algum lugar. Será que alguém vai estar me esperando? Toda essa culpa me torna alguém de aço, sim. Culpa. É ela que me faz querer apodrecer num canto, a culpa de não ter tentado o suficiente ou a culpa de nem ao menos ter tentado. Errado. Só errei porque não fiz o que era correto, e pago. Não se tem a chance de voltar atrás e fazer tudo de novo. Não se iluda, o conserto nem sempre se torna resistente o suficiente, nunca mais volta a ser como era antes.
E nisso tudo, constato que meu maior e talvez mais hediondo erro foi ter acreditado demais nas pessoas, ter amado demais elas, ter me dado, ter deixado elas me usarem, ter deixado elas me largarem. Só pensei que assim, colocaria um sentido na minha vida, que estaria realmente sendo merecedora de cada passo que eu desse durante ela, a cada tombo. E ai, quando me encontro de braços e pernas atadas, sem consegui gritar, me falta força. Força pra mandar toma no cu todos aqueles que me deixaram pelo caminho. Sou antagônico nato. Sou uma daquelas pessoas que são feitas para exceções, não para regras. E a cada dia estou me revelando alguém que não tem nada a ver com esse mundo, com essas pessoas. Respondo por meus atos, mas não espere que eu os justifique. Talvez eu tenha pouca idade, mas acredite: tenho muito a dizer!
Quando eu era criança sonhava todas as noites que arrancava os olhos de todo mundo porque só eu poderia enxergar o quanto era feio eu ser como sou. Alguém que não quer amar que não quer sentir saudade, que não quer ser humana. Eu nasci assim e foram os acontecimentos de meu dia-a-dia que fortaleceram todo esse espírito – de antítese e repetição humanizada, uma intensidade frágil e descabida-, manipulando para me descobrir só um pouco mais rápido. Esse meus erros tão banais e comuns são como a sede de anteontem. Em qualquer circunstância serei uma errante, continuarei a dormir sorrindo em lugares públicos, amo a angústia de ser incomum. Erre antes que eu o faça.
07 abril, 2008
Nó
Entre o espírito e coração existe uma enorme diferença: se você perde seu coração pode achá-lo... já a alma, não! Ok, alguém viu meu coração se afogando em alguma fossa de barro? Deixem-no lá, que morra o desgraçado! Minha alma não sabe até quando continuará cumprindo tamanha penitência. Nunca ninguém me perguntou se eu sou feliz, as obrigações sociais são mais intensas do que o sentimento verdadeiro, sou só um ser humano vivendo na era do descarte. Algum problema? Sim, sim. Sou patética por perder tempo escrevendo todas minhas frustrações e indignações – oi, eu sou uma fracassada -, e você que está aqui lendo, é o que? Foi o que pensei. Vá pro inferno com todo esse seu espírito caótico e solene.
Na verdade só queria conseguir desmanchar esse nó na minha garganta, a fonte de lágrimas já secou. Ou virou gelo.
05 abril, 2008
‘Eles não sabem o que fazem’
As mãos que deveriam protegê-la de tudo que há de ruim – por alguns momentos do meu dia eu até tento esquecer o mal -, acabou causando sua maior dor, roubado sua vida. A justiça humana nunca será capaz de um julgamento justo, espero que as almas desses carniceiros apodreçam juntamente com suas consciência. Era uma criança, alguém que por não ver perigo e confiar em quem ama, até então respirava.
Não existe perdão, espero que ninguém sinta misericórdia. Não são pessoas. Os animais são os melhores pais, não me venha falar de amor. Até que ponto o ser humano será capaz de chegar? O roubo é o maior pecado. Roubar a vida de alguém é tão, tão, tão...
Não merecem perdão, que Deus seja sensato, e que o Diabo faça bom proveito da alma desses assassinos. Ela só tinha 5 anos!
02 abril, 2008
Testamento utópico
Não sofro por ninguém. Esse é o princípio do amor próprio – se você estiver lendo isso, sim, meu amor próprio está uma muralha e nenhum cavalo de madeira será capaz de persuadi-lo. - Os tombos nunca me fizeram crescer, só aumentaram a frieza aqui dentro.
Realmente não sei o que posso deixar para os que ficarem, todas as minhas lembranças estão perdidas, então transformo essa impressão em certeza de solidão física – nesse estado é possível transformar-se o ódio em amor, que nunca passa na verdade da procura do amor, e vou te falar... nunca fui boa em jogos de ‘caça-tesouros -, a ausência diminui as pequenas paixões. Tudo bem, tudo bem. Admito. Não é que eu não ame, é que eu apenas não sei como executar o amor! Processe-me se quiser.
Respiro mal, como se dentro de mim não tivesse lugar para o ar – acredito que já está na hora de escrever meu testamento.