25 abril, 2008

Bicho Papão

Nunca parei pra pensar em quantas vezes senti medo, foram tantas. Todos sentem medo não é mesmo? Claro que é! Sabe o tal do herói? Ele só é o cara que não conseguiu fugir a tempo. A covardia esta na seiva do ser humano, faz parte do DNA de cada um, talvez o que diferencia um dos outros é como conseguem disfarçar é até tolerar todas as fobias que atormentam cada um. O medo provoca reações físicas facilmente observáveis.
Existem aqueles pavores que nunca mudam aqueles que conseguimos superar e ainda aqueles que deixam de existir após os anos. É bom colocar que também há aqueles que se modificam, mas que continuam ali. Acho que a ápice de todos os pavores humanos é a morte. Ela nem me faz cócegas. Acredite. Mas, sobre ela falarei no meu próximo texto. Ela mal pode esperar. Enfim, vamos falar de solidão. Quantas pessoas têm medo deste ‘estado’ físico? É, é. Quantas pessoas que fogem dela e de jeito nenhum querem se encontrar sozinhos. Então, para mim os grandes ‘heróis’ – ou quase-, são aquelas pessoas que vivem sozinhas e tem a total conscientização do que é isso – oi, eu sou uma heroína! Queres um autografo?
Ah, eu gosto de escrever desta forma ok? Confusa e alienada. E por isso agora irei falar do meu medo, mas disfarçadamente pelas beiradas.

Precisa de muita coisa para mim me apavorar, mas quase nada para eu estar em alerta. Tudo depende dos atos. Não, não dos átomos. Pequenos atos significam muito perante tudo isso que é o amor – sim, irei falar dele -, porque nunca se sabe a intensidade do amor que um tem pelo outro, um pode amar e o outro simplesmente gostar, nunca saberemos ao certo,é bom respeitar tal sentimento porque como ele vem, ele vai,
e se um dia alguém que o amou e que morreria por você te esquecer por perceber tais atos, observar cada defeito e a falsidade que você tem em meio a tudo, você passará a ser apenas mais um existente do mundo. Uma pessoa como todas as outras. Um ninguém. E disso eu tenho medo. Apavora-me pensar que posso amar alguém e depois não amar mais. Acabar e pronto. Não sei amar pela metade, prefiro odiar. Tenho mais medo ainda de ser esquecida por quem eu morreria, tudo bem, agora são poucas as pessoas e não estão limitadas a minha ‘friendlist’ de Orkut. Posso contar nos dedos. Então por medo de sofrer não amo, e por medo de amar eu sofro. É, estou fudida e mau paga. As pessoas falam coisas, e por trás do que falam há o que sentem, e por trás do que sentem – medo esta ali -, há o que são e nem sempre se mostram. Há os níveis não formulados, camadas imperceptíveis, fantasias que nem sempre controlamos e expectativas que quase nunca se cumprem, e, sobretudo, emoções que nem se vive e por tudo isso, por medo, infelizmente, repetirás, insistirás, completamente desesperado, e teu único apoio seria a mão estendida que, passo a passo, através de cada palavra estarás quem sabe afastando para sempre. Mas já não sou capaz de me calar, talvez diga então, descontrolado, e um pouco mais dramático, porque meu silêncio já não é uma omissão, mas uma mentira. O outro te olhará com seus olhos vazios, não entendendo que teu ritmo acompanharia o desenrolar de uma paisagem interna, absolutamente não verbalizável, desenhada traço a traço em cada minuto dos vários dias e tantas noites de todos aqueles meses anteriores, recuando até a data, maldita ou bendita, ainda não ousaste definir, em que pela primeira vez o círculo magnético da existência de um, por acaso banal ou pura magia, interceptou o círculo do outro. Ou seja, alguém ou até mesmo eu poderei entrar em sua vida. Mas, terei medo e por sentir ele até me sentirei respirando, mas não estarei viva. Por que se não for amor, simplesmente estarei morta. O Amor é o ridículo da vida. A gente procura mesmo uma pureza impossível. Uma pureza que está sempre se pondo. Indo embora. A vida veio e me levou com ela. Sorte é se abandonar e aceitar essa vaga idéia de paraíso que nos persegue. Bonito e breve. Como borboletas que só vivem vinte e quatro horas. Morrer não dói. Não precisa ter medo – morte de novo, será que não pode esperar até o próximo texto?
Amor é só o que faz as coisas iguais serem diferentes. E o que nos da coragem para seguir em frente, e não ter medo, não ter medo. Medo. É. É.
Meu medo então é esse, de amar. Medo de não ter medo. Medo de ter coragem e enfrentar qualquer coisa pelo amor. Medo de pessoas. Por que não consigo amar ‘coisas’, apenas livros e cores. Não me agrada lembrar que há tantas outras faculdades descansando em mim, que bem podem enferrujar se não forem usadas, e por hora tenho de ocultar com cuidado! É que esse coração já fermenta o bastante por si próprio. E talvez seja por isso que eu o trato como uma criança doente, satisfazendo-lhe todas as vontades. Mas, não diga isso adiante, há pessoas que poderiam usá-lo contra mim. E disso, eu morro de medo, até mais do que do Bicho Papão.

20 abril, 2008

Sala 11

Teutônia, 09 de maio de 2004.

08h15min.

Aula de Ensino Religioso – Proposta de trabalho:

  1. Fale sobre você (o que pensa, gostos, defeitos, qualidades e etc.).

Valor: 30 pontos.
08h 21 min.

Luara Quaresma:

Já fui a pessoa mais boazinha do mundo, hoje dependendo da situação sou fria, minto, cálculo, mas ainda sou leal a tudo que amo – e são poucas as coisas. Meus cabelos são pretos. Filmes de guerras são no mínimo interessantes. Raras são as vezes que falo de meus problemas a alguém. Adoro meus pés. Farei um ‘mochilão’ pela Europa. Adoro listras. Nunca quis ter um casamento tradicional e muito menos ter filhos, com o tempo passei a pensar em adotar e hoje eu quero constituir família. Doces e capuccino me deixam de bom-humor. Não acredito no comunismo. Chuva. Sempre que vou à livraria penso em comprar no mínimo uns dez livros. Cinza. Tenho simpatia pelos judeus – eu sou judia. Vejo fotos onde não existe. Minha carreira há de ser brilhante. Prefiro o frio. História me interessa. Vou passar no mínimo seis meses no Canadá. Música é essencial. Nada como um bom jeans. Meu personagem preferido sempre foi o Mickey. Já pensei em desistir. Getúlio foi um cara muito esperto. Se eu amo, não deixo. Sou mulher, entende? Nada como um baralho, uma mesa de sinuca e um videogame. Tenho pena de quem se acha o centro do mundo. Sou bem individualista. Os seres humanos aterrorizam-me. Já dei abertura pra gente de quinta, merda mesmo, e hoje o que eu sinto é nojo e um grande desprezo pela pequenez destas. Se for válido, dou-me por inteiro. Sei ser irônica, pateta, ogra, fofa, esperta ou filha-da-puta, depende dos meus interesses e principalmente das pessoas. Se não está legal, eu vou embora, não por egoísmo, mas por fidelidade a mim mesma. Tenho certeza de que certas pessoas jamais me abandonarão, aconteça o que acontecer. Tenho um amor que já me deixou lembranças pra vida toda.

Eu sou feita de sonhos interrompidos, detalhes despercebidos, amores mal resolvidos. Feita de choros sem ter razão, atos por impulsão. Alguém cansado de seguir regras impostas pela sociedade contemporânea. Sinto falta de lugares que não conheci experiências que não vivi momentos que já esqueci. Eu a solidão e a indignação constante. Sou altista e hiperativa. Cumpri coisas não-prometidas. Sorri para não chorar. Ninguém pra você, mas uma legião de personalidades para mim e para meu uso. Tenho saudade de pessoas que fui conhecendo, lembranças que fui esquecendo, amigos que acabei perdendo. 12 horas social 12 horas anti-social. Refugio-me em meu quarto e nas minhas angustias. Falante, principalmente em momentos impróprios. "Julia Wind Smile". Leitora compulsiva. Hermaníaca. Atrasadíssima. Cachorrista militante. Não sou politicamente correta, NÃO! Chorona convicta. Chocólatra. Letrista. (A)normal. Fã de botecos regados a Coca e caminhadas sem rumo. Caio Fernando Abreu, Clarice Lispector, Amélie Poulain, talvez, me entenderiam. Não gosto de carne. Tim Burtom, um ídolo. E como penso muito, tenho dificuldade de me concentrar no que estou fazendo. Sou muito distraída. Adoro futebol e handebol. Competir me atrai. Detesto Aglomerados Humanos. Metade extro, metade introvertida. Moleca. Bochechuda. Crítica. Piadista, mas sem graça. Sonolenta. Psicóloga-não-formada-sem-conselhos-úteis, contudo em constante plantão. Sentimental, dependente de música e de oito horas de sono. A única parte da Bíblia que eu já li foi I Cor 13:4-7, não me pergunte por quê. Eu sempre achei legal ser tão errado. Não suporto gente sem iniciativa ok. Evidências em minhas mãos da minha nova e súbita velhice. Vácuo Sou a teoria do caos. Não que eu seja um caos, sou só a teoria.
A harmonia secreta da desarmonia: quero não o que está feito, mas o que tortuosamente ainda se faz. Meu 'recesso' acabou. Falsa intelectual. Às vezes tenho muita vontade de matar certas pessoas. Num mundo onde só o que importa é estragar a vida dos outros, e só tem vez quem é rico e lindo, me resta mandar você para o inferno com sua sua sensatez, leve junto de você tudo o que você acredita e ama, pra mim é desnecessário. Não me venha acrescentar essas coisas tão interessantes de sua sabedoria, pois eu alego que estou satisfeita só com o que tenho. Não tente fazer de mim uma ouvinte da adolescência, não estou tendo problemas com a minha, é tudo passageiro e problema nunca se resolve. Eu só preciso do que eu realmente acredito. No que eu acreditava mais eu não acredito mais, mas, eu tenho que ver pra crer. Seu deus? Não significa uma morte boa, uma ressurreição, não faz a mínima diferença se ele vai me perdoar ou não, eu não acredito no demônio nem ao menos sou agnóstica, quero apenas sossego, não ter que seguir essas regras que me impedem de amar ou quem sabe ofender alguém, sinto-me ofendida com as coisas que vejo por aí e elas vêem justamente de quem se dizem crentes, se elas acreditassem em algo, algo que realmente as movesse, elas não pecariam e nem ao menos cometeriam crimes. Pode me asfixiar e jogar de um prédio. Vou morrer e assim então, irei somente pro fundo da terra com um caixão de madeira que criará fungos e aí então comerão meus restos mortais. Eu existi um dia e que bom, estou aproveitando cada momento dessa existência como todas as possíveis lágrimas a mim proferidas, ou que eu mesmo deixo escorrer. Eu só quero viver. Só viver.

8h 43 min.

Entrega do trabalho.

8h 51 min.

Professora:

- Luara, venha comigo até a sala 11.

- Por que professora?

- Para conversar com a diretora.


8h 54 min.

Depois desse dia, Luara nunca mais foi vista.

15 abril, 2008

Quase uma carta de amor

Papel ok. Caneta ok. Caneta para enfeitar ok. Aperto no peito ok. Pensamentos e sentimentos ok – agora posso começar a escrever. Como vou começar esta carta? Preciso escrever tudo que está entalado, meu peito precisa ser esvaziado, ele tem que entender, é uma carta de amor afinal, qualquer um entende uma, não? Se eu começar com: ‘Oi, como você está? Espero que bem, eu quero te dizer que meu peito dispara toda vez que eu penso em você, que meus pensamentos já não me pertencem, quero que você saiba o quanto é especial pra mim, que te vejo nos meus sonhos até quando estou de olhos abertos, nada vai me fazer mais feliz que no dia em que você saber que eu existo! – Você, você, você...nossa! Parece uma garotinha da 5° série, nem escrever sabe, e pelo amor de Deus, isso ta muito dramático.
Silêncio.
Suspiro.
Papel amassado. Jogado no Chão.

Começo novamente – minhas mãos tremem, que porra é essa? Devo ter algum problema de coordenação motora ou sei lá -, não é tão difícil, só escreva uma carta de amor:
‘Eu nunca imaginei que eu precisaria de você. Os dias parecem anos quando vejo que não está aqui. E quando você vai embora os pedaços do meu coração sentem a sua falta. As coisas que eu faço lembram você. Quero ter você aqui comigo. Sinto sua falta. Porque eu TE AMO. ’

Nunca consegui organizar o que sinto de verdade em parágrafos. É tão difícil eu mostrar o que é tão óbvio. Os bons criam amores platônicos ao seu próprio (des)gosto, maneira e fantasias. Sexuais ou não. Eu até acreditava que se não fosse amor platônico não teria graça, mas e quando a dor se torna mais constante e mais covarde?
Mudando para permanecer a mesma. E tentando me equilibrar nessa corda bamba de infelicidades – olá, sou apenas uma garota de 17 anos que acredita em príncipes encantados! -, tudo bem. Eu sei que preciso beijar alguns sapos – eu fui sarcástica agora, se por acaso não percebeste.
Outro papel. Outra tentativa.
‘Bem, quero que você saiba que existe alguém que pensa em você antes de dormir, que queria poder te tocar e te fazer sorrir. Se eu pudesse nem pediria nada de mais, só gostaria de poder te entregar esta carta.
Sinto-me perdida de um jeito que você não conseguira imaginar, sinto o vento amargo e o mundo vazio, só porque não te tenho do meu lado. Já cansei de tentar aceitar, minhas lágrimas já nem são meu limite, preciso respeitá-las, tento evitá-las. Quero que me veja sorrir e diga: É ELA! MEU DEUS! É ELA!’

Papel amassado. Jogado no Chão.
Silêncio.
Suspiro.
Lágrima.

Amar dá trabalho. O melhor é ignorar o sentimento. Eu até suponho que possa algum dia trocar confidencias com alguém, q possa colocar minha escova de dente junto à dela, mas são suposições, assim como eu suponho o céu. Queria que minha escova estivesse do lado da dele. Não agora, são apenas devaneios de uma mente a quem um coração enclausurado se diverte. Há duas tragédias na vida: uma, é não conseguir o que seu coração deseja e a outra, é conseguir. A solidão e o amor estão sempre em cartaz em todo esse espetáculo que apresento, acredite. Nem tudo é como eu digo. É pior, muito pior! A nossa realidade é o que não conseguimos nunca, e o platônico é o sujeito do conceito da dor de um ser humano. O amor tem pacto com demônios – eu estou vendendo minha alma, aproveite! -, abençoados os corações flexíveis, pois nunca serão partidos.
Em qualquer circunstância, estarei no lugar certo, na hora certa e no momento exato. E vai ser quando vou te encontrar, porque quanto mais fujo de ti, mais de descubro em mim. Necessito de um refugio melhor.
Outra folha. Mais um começo.
‘ Estou escrevendo uma carta de amor. Amor mesmo, porque nunca senti isso por ninguém, e tenho tanta certeza quando digo que preciso de você em meus dias. Quero poder te abraçar e te proteger, conseguir te olhar no olho e pegar na tua mão. Sei que tudo isso pode ser estranho, afinal sou eu, a Luara que esta aqui se declarando, acredite o amor não me livrou e nada que eu faça consegue mudar esse roteiro de sufrágio e carência, essa vontade de te ter e de poder te dizer tudo que não consigo colocar nesta carta, é muito mais fácil quando as palavras estão soltas. E entenda, não sou muito boa com elas e nem sei como apresentá-las. Só queria que soubesse que por você eu matava que por você eu morreria. ’

Silêncio.
Lágrima.
Silêncio.

Nada do que sentimos ontem vai nos segurar aqui. Na ausência de amor tudo parece funcionar plenamente. A grande verdade é que você é a pessoa que escolhe ser, mas acho que minha complexidade obscena demais. Não me faça perguntas, e não te direi mentiras – não pergunte se te amo-, se estar vivo bastasse, seria uma pessoa melhor. Seria, e conseguiria lidar com toda essa ladainha de sentimento e afeto.
Outra folha. Agora é pra valer. Uma carta de amor não é tão difícil de escrever.
‘Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem.
Caso contrário os honestos, simpáticos e não-fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta. O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão.
O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar. Costuma ser despertado mais pelas flechas do cupido que por uma ficha limpa.
Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano.
Isso são só referências. Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá,
ou pelo tormento que provoca. Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera. Ama-se justamente pelo que o amor tem de indefinível.
Não se deve brincar com os sentimentos alheios nem transformar o amor em
apenas palavras repetidas ao vento. Quero poder te beijar em cada defeito, predominar e ouvir sua respiração. Amar pelo que tu és. Ser o que eu sou.
Conto todas as infindáveis frações de tempo.Quis ter o tempo, mas ter o tempo, sem te ter a ti, é ter saudade.
Abrace-me, saiba que esse é meu ultimo pedido.’

Silencio.
Papel amassado. Jogado no chão.
Silêncio.
Silêncio.

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12 abril, 2008

Equívocos de um heterônimo

Vivo perdida nas contradições do meu mundo interior, descrente de que possa haver uma saída. Sou, ao mesmo tempo, minha melhor e pior companhia, não existe vestígios de mim. Faço tudo bem feito e sempre dá tudo tão errado. Em qual parte da fórmula se encontra o equívoco? É inútil tentar, ninguém pode acreditar em coisas impossíveis. A vida não é medida pelo número de vezes que você respirou, mas pelos momentos em que você perdeu o fôlego, não espero que esse meu turbilhão de idéias e pensamentos sejam entediados por alguém, só preciso por alguns instantes desprender-me deles.

Eu continuo errando, a cada dia. A cada vez. A cada desespero de buscar o que é certo – preciso aprender que o que é certo nem sempre é o melhor -, talvez esse seja o apogeu do fracasso, durante muito tempo me encontro inerte, num mar de vertigem com a ânsia de que preciso chegar a algum lugar. Será que alguém vai estar me esperando? Toda essa culpa me torna alguém de aço, sim. Culpa. É ela que me faz querer apodrecer num canto, a culpa de não ter tentado o suficiente ou a culpa de nem ao menos ter tentado. Errado. Só errei porque não fiz o que era correto, e pago. Não se tem a chance de voltar atrás e fazer tudo de novo. Não se iluda, o conserto nem sempre se torna resistente o suficiente, nunca mais volta a ser como era antes.
Se todas as pessoas que eu amava me esqueceram, por quais motivos eu ainda devo me lembrar delas? Isso é para todas as pessoas que eu perdi, isso é para todas as pessoas que eu amei. Às vezes eu me pergunto por onde vocês todos andam? – sempre dependi da delicadeza dos estranhos. Uso um heterônimo para fixar aquilo que ainda não tenho coragem de expor, visto uma carapuça de indiferença para tentar mudar de tom. Não te enchas de ar: a menor picadela te esvaziaria – é só um conselho.

E nisso tudo, constato que meu maior e talvez mais hediondo erro foi ter acreditado demais nas pessoas, ter amado demais elas, ter me dado, ter deixado elas me usarem, ter deixado elas me largarem. Só pensei que assim, colocaria um sentido na minha vida, que estaria realmente sendo merecedora de cada passo que eu desse durante ela, a cada tombo. E ai, quando me encontro de braços e pernas atadas, sem consegui gritar, me falta força. Força pra mandar toma no cu todos aqueles que me deixaram pelo caminho. Sou antagônico nato. Sou uma daquelas pessoas que são feitas para exceções, não para regras. E a cada dia estou me revelando alguém que não tem nada a ver com esse mundo, com essas pessoas. Respondo por meus atos, mas não espere que eu os justifique. Talvez eu tenha pouca idade, mas acredite: tenho muito a dizer!

Oscilações de tristeza, todos os erros que cometi e mais um pouco de poesia, é isso que me tornei, é isso que serei. Ou não.
Quando eu era criança sonhava todas as noites que arrancava os olhos de todo mundo porque só eu poderia enxergar o quanto era feio eu ser como sou. Alguém que não quer amar que não quer sentir saudade, que não quer ser humana. Eu nasci assim e foram os acontecimentos de meu dia-a-dia que fortaleceram todo esse espírito – de antítese e repetição humanizada, uma intensidade frágil e descabida-, manipulando para me descobrir só um pouco mais rápido. Esse meus erros tão banais e comuns são como a sede de anteontem. Em qualquer circunstância serei uma errante, continuarei a dormir sorrindo em lugares públicos, amo a angústia de ser incomum. Erre antes que eu o faça.

07 abril, 2008

Tiro fotos felizes e ando pulando, canto sem saber a letra. Brinco com minha sombra, desenho e digo palavras positivas para as pessoas e elas me perguntam: ‘ – Você é sempre assim? Tão alegre, colorida? Tão cheia de vida?’ - aprendi que o ser humano só enxerga o que quer ver, que sabem usar bem a semântica, que são tão artificiais e vazios. Vamos comemorar a estupidez humana – Sarah, te agradeço por me isolar da parte desse cotidiano.
Entre o espírito e coração existe uma enorme diferença: se você perde seu coração pode achá-lo... já a alma, não! Ok, alguém viu meu coração se afogando em alguma fossa de barro? Deixem-no lá, que morra o desgraçado! Minha alma não sabe até quando continuará cumprindo tamanha penitência. Nunca ninguém me perguntou se eu sou feliz, as obrigações sociais são mais intensas do que o sentimento verdadeiro, sou só um ser humano vivendo na era do descarte. Algum problema? Sim, sim. Sou patética por perder tempo escrevendo todas minhas frustrações e indignações – oi, eu sou uma fracassada -, e você que está aqui lendo, é o que? Foi o que pensei. Vá pro inferno com todo esse seu espírito caótico e solene.

Se apaixonar virou perda de tempo. As coisas nunca mais vão ser as mesmas, e eu acho que eu nunca mais vou acreditar em alguém quando me disserem: 'eu te amo, pra sempre’. Pra sempre virou um mês, uma semana, um dia. Se apaixonar virou moda. E como toda moda, um dia passa, e esse sentimento fica velho e desgastado com o tempo. Se apaixonar virou se machucar. Amar virou suicídio. Mas, de um jeito muito estranho sinto falta de um abraço, de que alguém me provoque e faça-me ter vontade de simplesmente suspirar. Quando você elimina o impossível, o que sobra, por mais improvável que pareça, só pode ser a verdade. Essa é a verdade, eu busco um amor distante, só de palavras. Tenho medo do toque, mas necessito dele, tenho medo de sentir o que sei que vai ser minha sentença, tenho medo de arriscar o que eu não tenho. Eu quero minha mãe, tenho medo. Grandes expectativas envolvem risco de frustração – experiência própria -, esse negocio de amar sem sofrer, de ter alguém pra gostar é tão, tão, tão...humano! Um círculo vicioso que termina onde começou.

Eu adoro andar a luz do por do sol, bater em pessoas e não sorrir, mas não sei ate quando vou gostar de me sentir vazia. Alguns me dizem que é só questão de tempo, que isso é coisa da idade e que logo entro nos eixos. O tempo não cura nada, ele apenas desloca o incurável do centro das atenções. Eu até sonho. Sim. Eu sonho acordada e não tenho paciência para esperar o tempo passar. Todo esse meu comportamento volátil, efusivo, temperamental, ansiosa, irritante, sem-vergonha e individualista surge de tudo aquilo que não vivi, que não senti, que não tive. Eu sou a individualidade metafísica de mim. Exprimo-me pra me livrar de qualquer responsabilidade, não quero cativar nada, e me torno tão contraditória.

Sou feito um menino que permite ao coração sair correndo sem destino ou direção. Um alívio que meu coração se encontra em coma, abandonado em uma fossa qualquer, eu simplesmente sinto com a imaginação não uso o coração. A gente devia morrer quando o coração se parte, eu já estaria podre a essas alturas.
Na verdade só queria conseguir desmanchar esse nó na minha garganta, a fonte de lágrimas já secou. Ou virou gelo.

05 abril, 2008

‘Eles não sabem o que fazem’

Ela só tinha 5 anos. Talvez a gente pudesse se tornar amigas – trocar figurinhas ou brincar de casinha -, Isabella Nardoni morta no sábado passado, logo será esquecida por quem nunca compartilhou de sua presença- iluminada diga-se de passagem -, mas, creio que ela não irá esquecer dos últimos momentos de vida. Será que ela sabia o que estava acontecendo? Concordo que seu sorriso e traços fossem angelicais, mas ela não sabia voar, é não sabia...
As mãos que deveriam protegê-la de tudo que há de ruim – por alguns momentos do meu dia eu até tento esquecer o mal -, acabou causando sua maior dor, roubado sua vida. A justiça humana nunca será capaz de um julgamento justo, espero que as almas desses carniceiros apodreçam juntamente com suas consciência. Era uma criança, alguém que por não ver perigo e confiar em quem ama, até então respirava.
Não existe perdão, espero que ninguém sinta misericórdia. Não são pessoas. Os animais são os melhores pais, não me venha falar de amor. Até que ponto o ser humano será capaz de chegar? O roubo é o maior pecado. Roubar a vida de alguém é tão, tão, tão...
Não merecem perdão, que Deus seja sensato, e que o Diabo faça bom proveito da alma desses assassinos. Ela só tinha 5 anos!

02 abril, 2008

Testamento utópico

Nunca vi alguém ter tanta raiva das pessoas, mas uma raiva sincera e desprezo também. E ser ao mesmo tempo tão boa...secamente boa – e eu adoro esse meu jeito, talvez seja só mais um desumano de tão humanas carências -, ódio é uma palavra forte, mas eu realmente, realmente, realmente não gosto de você. Não consigo, não quero. Consigo disfarçar tão bem, não tenho coração ou pelo menos não deixo que as pessoas o notem - tento sempre ser coerente com ele. Deixo tudo pra mim.
Não sofro por ninguém. Esse é o princípio do amor próprio – se você estiver lendo isso, sim, meu amor próprio está uma muralha e nenhum cavalo de madeira será capaz de persuadi-lo. - Os tombos nunca me fizeram crescer, só aumentaram a frieza aqui dentro.

Porque, talvez aceitei sucumbida o próprio medo de sofrer, minha incapacidade de conduzir-me além da fronteira da revolta. Mal posso acreditar que tenho limites, que sou recortada e definida. Às vezes é mais fácil viver na mentira, todos mentem – mentimos para sobreviver -, não existe mais o lado bom ou mal, o certo e o errado. Várias vezes por dia me sinto a pessoa mais ridícula do mundo, e não culpo ninguém por isso, juro. Se fico muito tempo sem escrever ou me ver até esqueço que sou humana, tudo o que eu possuo está muito fundo dentro de mim, não tenho mais perguntas, mas com certeza tenho desculpas de sobra.

Se eu lhe mostrasse todos os meus vícios, você adoeceria comigo? Creio que não, é preciso ter CORAGEM de ser o que você é diante de QUALQUER pessoa!
Realmente não sei o que posso deixar para os que ficarem, todas as minhas lembranças estão perdidas, então transformo essa impressão em certeza de solidão física – nesse estado é possível transformar-se o ódio em amor, que nunca passa na verdade da procura do amor, e vou te falar... nunca fui boa em jogos de ‘caça-tesouros -, a ausência diminui as pequenas paixões. Tudo bem, tudo bem. Admito. Não é que eu não ame, é que eu apenas não sei como executar o amor! Processe-me se quiser.

É muito difícil fugir dessa atmosfera de fracassos e de revolução. Há uma distancia que separa as palavras dos sentimentos – e o mais curioso é que no momento que eu tento falar não só não exprimo o que eu sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo. Não sei que herança poderei deixar, não sei. Não sou nada, estou sendo.
Respiro mal, como se dentro de mim não tivesse lugar para o ar – acredito que já está na hora de escrever meu testamento.