30 junho, 2009

19 junho, 2009

Funeral

Meus olhos já estão fracos demais. Desnutridos. Secos.
Sou uma só. E durei enquanto durou o amor. Na hora a gente nunca sabe nem pode mesmo saber, fica tudo natural como o dia que sucede à noite, como o sol, como a lua, como o ontem e o sempre, como ele e eu. Eu não pensava no fim como não pensava em respirar. Alguém por acaso fica atento ao ato de respirar? Fica, sim, mas quando a respiração se torna afiada feriando cada pedaço do peito, como uma tortura da qual só a morte pode salvar. Então dá aquela tristeza, puxa, eu respirava tão bem...

Caminho e ninguém percebe que eu me arrasto. Não sei por que essas coisas de doer acontecem com a gente, tudo deveria ser certo, permanecer certo quando existe o amor. Eu paro de andar e me encosto na parede, uma penumbra me acompanha, meu peito esquartejado. Minha voz falha. Lembrei-me então de tudo o que ele havia me dito. Não quero nem devo lembrar, só sei que em redor de tudo era silêncio e treva. E me sinto bem no meio dessa solidão. Porque a parte mais difícil do amor é quando você precisa matá-lo e lhe falta força.

Fiquei assim. Só em osso. Morri e esqueceram de me levar flores. Não seria possível permanecer viva sem coração. E de algum jeito eu sei que nunca vou conseguir descansar em paz, porque ele nunca mais vai voltar. Um funeral do amor, onde quem morreu fui eu.



Não venha me dizer que ninguém morre de amor, porque para mim isso é um prazer.

17 junho, 2009

Geografia

No meio de tudo ele.
É doloroso viver em um mundo que é circunspeto por alguém que nem sabe que você existe.

12 junho, 2009

Dia qualquer

- Você sabe que dia é hoje?
- É sexta - alivio.
- Sim, mas?
- Mas o quê? É mais um dia qualquer. - ele continuou com as mãos no bolso.
- Posso te perguntar uma coisa?
- Mais uma? - ele levantou uma sobrancelha num sorriso torto.
- Por que você nunca me mandou flores?
- Porque eu não gosto de você.

Tive a impressão de ver ela caindo morta no chão.



Um feliz dia dos namorados, porque a noite é dos solteiros. Ou não.

06 junho, 2009

Vacilos póstumos

Por algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo principio ou pelo fim. É preciso aprender a nos esquecer de nós mesmo para não doer tanto quando abrir os olhos. O meu pensamento, não tenho certeza se está em mim, ou em outra parte de você. Talvez eu só precisasse te contar meus segredos, parar de correr em círculos ou gritar o silêncio. O que eu preciso é te encontrar.

Na próxima vida vou escrever menor e mais depressa, para as lembranças poderem fugir. Muitas coisas se dizem que não deveriam ser ditas. Ninguém disse que seria fácil. Mas estas coisas subentendem-se e não se dizem por ociosas. Algumas delas faço de minhas palavras, com gosto de poema. Porém, meus versos é sangue. Eu escrevo como quem morre. Porque eu sei que mesmo depois de tudo, algum dia ele encontrará aqui todas as coisas que não tive tempo de lhe dizer. Por falta de presença e por excesso de ausências. Há quem diga que foi de amor.

Sei que as pessoas não levam flores, mas pedras. Calado, me diga se devo ir embora. E se o mundo tiver razão, o problema é meu. Porque afinal este mundo tal como está, me faz pensar em largá-lo.
E com todos esses vacilos de alguém que viu tudo se transformar em cacos, afirmo que aprendi que não existem mortes, mas a vida que sai de dentro da vida. O amor que não morre, mas adormece. E apesar de todo o esforço do homem, ele nunca encontrará a morte absoluta. A não ser que deixe de amar.

02 junho, 2009

Distanasia

Distância é o pretexto que me impede de realizar sonhos, a desculpa que me faz viver além de uma realidade, o motivo que tira meu sono, a culpada por todas minhas dores. O que está me matando.