28 agosto, 2009

Aqui, ali, e em qualquer lugar

Na maior parte do tempo eu não me divirto muito. O resto do tempo eu não me divirto nada. Pouca coisa me chama atenção, definir o que fazer do meu tempo me cansa. O mundo não me interessa, não quero saber do resto da humanidade. Preciso de espaço. Espaço para mim. Espaço para nada. Esse mesmo mundo divide-se em pessoas boas e pessoas más. As pessoas boas têm um sono tranqüilo. As pessoas más aproveitam bem mais as horas em que estão acordadas. Logo, creio que se divertem.

Nasci adorável, encantadora e pura de coração. Aí fui civilizada. Quanto mais o tempo passa, mais tenho coragem de dizer a verdade e melhores ficam as minhas mentiras, e me encaixo no conceito de pessoa. Por livre espontânea pressão.
A vida em mim é tão insistente que se me partirem, os pedaços continuarão estremecendo e se mexendo.

E me esgoto de explicações toda vez que encontro alguém que tenta me mostrar o quanto eu tenho que mudar para ser feliz. O quanto eu ainda tenho que fazer. Querem que eu aceite que há um motivo para tudo isso, para minha dor, manias e afins.

Aqui, ali ou em qualquer lugar eu sei que somos sozinhos. Não passamos de uma piada de mau gosto de Deus e se você duvidar conte a Ele seus planos, isso o fará dar risadas.
Contudo, não me importo com o que deveria, não faz diferença. Sem rancor, sem relação, sem desculpas. Meu único arrependimento da vida é o de não ser outra pessoa.



Obs: Se eu tocar Debussy baixinho, será que Deus me escuta?

25 agosto, 2009

21 agosto, 2009

Óbito

Quando o medo de existir chegar, tenha sempre um revolver por perto. Vai morrer todo mundo abraçadinho.

18 agosto, 2009

Bagatela

Minhas angustias de conduta são fúteis, cada vez mais fúteis, infinitamente fúteis. Se o outro ocasionalmente ou negligentemente, me dá o número do seu telefone fico logo afobada: devo ou não devo lhe telefonar? Seria um convite discreto para fazer uso dele imediatamente, por prazer, ou apenas caso fosse preciso, por necessidade?
Ás vezes me cansa de tanto deliberar sobre "nada".

11 agosto, 2009

Tudo são hipóteses

Há pessoas que parecem nascer errado, e eu sou uma delas. Não tenho que argumentar tal fato para que você concorde comigo, basta encarar minhas palavras.

Deixei me rechearem de angustias, mas há quem lê e diz que isso acrescenta a intensidade em minha escrita que buscam. Já eu percebo em minhas palavras uma benevolente ironia, no fundo dessa ironia se esconde, contudo, uma indisfarçável tristeza. Então, culpo a tudo e a todos. E todos sabem que sofro de excesso. Escrevo ora devagar, ora depressa, conforme meus sentimentos atropelam meus pensamentos.


Eu esqueci de mim, me escondo nesses parágrafos. Acanhada, repeli o relógio: meus escritos são fracos, não prestam! – Assim como eu.
Uma dor que se dissimula sempre doe mais, mas ouvi dizer que pode se vender mais também. Como não posso comercializar em frascos o que sinto, escrevo. E você lê. Ou não. Patético do mesmo jeito.
Meus olhos embotados de cimento e lágrimas pescam as letras, eu sou a que no mundo anda perdida, não moro em parte nenhuma e além das palavras nada me pertence. Ao mesmo tempo em que corro, atiro pedras para trás. Se eu acerto alguém? Há, isso são só hipóteses.

- Por que faço eu tudo o que não queria? – Sobre isto digo coisas que não importa dizer aqui. Cuidado, ai vem uma pedra. Ou mais algumas palavras. Hipóteses.

04 agosto, 2009

Poucas coisas

Não foi como eu pensei
As coisas estão distantes
Deito na cama e sinto frio e calor
Não posso mais sentir o que sinto
Diga o que voce precisa dizer

Eu caminho de cabeça para baixo pelas ruas alagadas
Eu tenho pedaços seus em meus bolsos
Não me importo para onde tudo isso vai me levar
Tudo o que eu queria é poder te abraçar
Encontrar-te de novo, perdido por aí

Como tudo pode ter acabado assim?
As coisas estão quebradas pelo chão
E está tudo acabado
Voce me fez ficar assim
Apenas seus suspiros e um pouco mais de tempo
Traria toda minha razão de volta

Poucas coisas restou, entre elas meu amor.

02 agosto, 2009

Almofadas de saudade

Eu sinto que a minha vida é uma pequena e limitada amostra grátis, ela me parece pouca e nada basta. Eu realmente não esperava me sentir tão assim. Eu poderia ficar o dia inteiro sem respirar, a dor já suportável. Sabe, é até engraçado. Tudo continua a mesma coisa, a mesma falta de algo que nunca tive - posso até mudar o corte de cabelo, trocar as gavetas de lugar, responder as cartas que nunca recebi ou quem sabe ler as piadas que saem na contra capa do jornal -, por dentro o vazio continuará o mesmo.
Sinto-me tão só, tão apagada. E eu gosto tanto dessa solidão, mas eu queria que uma mão qualquer me puxasse e me forçasse a viver. E só, só isso. E agora estou me refugiando, em uma das coisas que sempre evito, apertar o grande botão. Televisão, eu não suporto tanto, e agora, a única coisa que consegue me fazer rir seriamente.

As coisas estão estranhas e nada parece se encaixar, eu me sinto distante, mas faz algum tempo que eu não apenas me sinto só, mas não sinto nada. Ando pela casa, ouço sons, leio, canto e rio, mas me sinto longe, avoada, fora do ritmo da sociedade. Se eu morresse agora, não faria diferença, não faria diferença para mim. Tampouco viva em carne e osso aqui estou, morta e vaga internamente me sinto. Eu escravizo quem me resta, e não me importo com nada a não ser pelo fato de não me importar. É tudo frágil e largo, tudo monótono e adorável. E só o que me basta e uma boa noite de sono, mesmo com a insônia dos meus devaneios, duráveis três horas sonhando com os olhos abertos, dormir é a melhor parte de existir. Fechar os olhos, não ver, ouvir ou sentir. Sumir do mundo. A dor que envolveu todas as dores que eu já senti.

Quando tudo isso acabar, vai sobrar apenas um corpo mole jogado no sofá, um pensamento acabado, um olhar distraído, um coração abandonado.