30 março, 2008

Papo furado

Portanto calo sem pensar, mas penso em dizer que sou forjada e plágio de mim mesma.
Sou vítima de mim mesma, de minhas próprias frases da minha própria consciência.
Frequentemente a única forma de comunicação passiva – ou nem tanto – onde eu me comporto de maneira civilizada – não sei que órgão faz as pessoas se comportarem, mas acho que nasci sem ele, pode apostar -, é quando me encontro comigo mesma. É, crescimento pessoal é tão doloroso.
Não sei o que é conhecer-me. Não vejo para dentro. Mas, sou obrigada a escutar.

Segue-se a seguir um mono dialogo totalmente regenerativo, não leve tudo tão a sério. Qualquer semelhança com alguma pessoa e mera coincidência. Surge então um paradoxo temporal e um conflito lógico de existência a partir do momento que você altera os acontecimentos do passado responsáveis pela sua existência .Sou boa em redirecionar coisas negativas, bem vindo ao meu mundo.


- Eu odeio minha vida, eu odeio minha, eu odeio minha vida – sim, estou cantando.

- Até quando você ficará com esse mau humor?

- A tragédia é a comédia no futuro, querida. O universo conspira contra mim.

- Isso é tão patético. Por que você não me poupa de tudo isso e te priva de tanto drama?

- Luara é artista natural na arte de fazer melodrama e sanduíches, só não sei se isso me classifica para ‘A liga da justiça.

- Eu não sei como posso existir dentro de você.

- Relaxa, não acredito que eu exista por detrás de mim.

- Você é sempre assim. Fria, tem tudo sob controle, disfarça tão bem...

- Isso foi uma afirmação ou uma pergunta?

- Eu posso afirmar, afinal de conta não passo de sua consciência.

- Meu Deus, e eu tenho isso?

- Um mundo sem Luara Quaresma seria um mundo meio sem luz sem vida, então imagine como seria o mundo sem luz.

- Você precisou de ajuda de quantos para constatar isso? – sim, estou sendo drástica e coesa.

- Você me da nojo!

- Olha, a ultra-sensibilidade falando, gente. - mais uma dose de desapego.

- Melhor você me levar a sério. Se você não conversar comigo vai falar com quem?

- Ah, com minha mãe, meu cachorro, aquela árvore.

- Você não se importa nem um pouco, nem um pouco.

- Obra de arte, obra de arte! É, eu sei.

- Mas, se você nunca tentar, nunca saberá exatamente qual é o seu valor. Nós conseguimos ver coisas que ninguém vê.

- Eu já fico bem feliz quando consigo atravessar a rua no momento certo.

- Você precisa querer, eu sei o que você quer. Eu sou sua mente, sua vontade, seus pensamentos.

- Ok, você esta demitida!

- A dor é inevitável. O sofrimento é opcional.

- Nossa, falou a voz da sabedoria.

- E eu só pensava que era a voz da sua consciência. Talvez você só esteja perdida. Toas as pessoas estão.

- Problema é delas!

- Mentalidade de plástico e uma imagem a zelar. Tenho esperança que você cresça.

- E isso faria de você algo descartável? – olhar retraído.

- Gosto de um modo carinhoso do inacabado, do malfeito. Você precisa de mim, um poço de contradição, intensidade e sensibilidade. Só eu te entendo. E se eu fosse embora você sentiria minha falta!

- Oh, não me diga. Você vai quando?

- Você Refugia-se em mim. A gente se acostuma com tudo e a tudo a gente se habitua.

- Uma visita ao hospício mostra que a fé não prova nada.

- Você deveria ganhar o Oscar – palmas.

- Todos me dizem isso – levanto do chão e saio arrastando os pés.

- Não me ignore, eu não vou te deixar dormir!

- Tudo bem, eu odeio minha vida mesmo ...

27 março, 2008

Nove meses

Não venha com essas grandes idéias, elas não vão acontecer - só mais uma concepção sua.


Diga-me, quantas vezes já às pessoas te atormentaram com essa pergunta:
O que você vai ser quando crescer?’ – é. Perdi a conta de quantas vezes me abordaram com isso, e sabe o que é mais interessante? Eu sempre soube o que responder.
Sobra tanta falta de paciência, que me desespero. Sou alguém com espírito de velho – nunca respondi que gostaria de ser pop star, astronauta, cientista ou modelo.
As coisas vão acontecendo e você não tem nenhum controle sobre nada, o tempo esta se indo, quantas horas você dormiu hoje?
Então, nós esperamos nove meses ate chegarmos a isso aqui – esse mundo -, parece que ele nos degusta, sinto que ele se nutre de nossas almas. Pratique o desapego, o carrego dentro da bolsa.
Na nossa infância tudo é tão legal, até cair no chão e se ralar vira aventura. Quando adultos, podemos cair, mas é muito mais difícil de conseguirmos levantar – maldita gravidade.

Estou de saco cheio pra viver, muito nova pra morrer.

Voltando a mim, tudo o que eu sempre quis ser era livre. E essa sempre foi minha resposta. Quando cicrano, beltrano ou a amiga da minha avó me perguntavam o que eu gostaria de ser quando crescer, minha resposta era simples: quero poder fazer o que eu quiser – estarei disposta a pagar o preço da liberdade? Será que ela aceita cheque de terceiro?
Mas, menina... Você precisa se alimentar, ter dinheiro para sustentar os iates e jatinhos dos políticos, você precisa ter uma profissão!
Tudo bem, entendo. Aonde tem vestibular para nada? - a inundação de um ambiente insólito me faz transpirar, eu aprecio o nada.
Quem disse que eu preciso ser alguém para ser grande? Ou ser grande para ser alguém?
Poupem seus poucos neurônios de tentarem executar a impossível tarefa de enfadar-me, ok?
Mas, então posso ser uma medica livre?

Um poço de contradição, intensidade e sensibilidade. Não confunda minhas atitudes heterogênea
com egocentrismo – até porque ele ainda não esta em prática.
Eu sou tudo isso e não consegui ser nada, sinto que já estou ficando grande. As juntas de meus joelhos estão doloridas.
Eu sou um simulacro de idéias: alguém que está sempre mergulhando num abismo
sedutor procurando melancolias , tristezas , remorsos pois, assim acho respostas e me completo – bem, quase me completo. Ainda falta a tal da liberdade.

Não consigo suportar aquele tipo de pessoa que acha que é gente só porque tem pernas. Preciso ser fria e calculista, afinal não é só porque eu sobrevivo que quer dizer que eu to vivendo. Preciso me manter afastada de pessoas – e a medicina? Você terá que salvá-las minha cara.
Estou com medo do que vai acontecer daqui para frente, sim. Medo. Minhas pernas tremem e eu me afogo em lágrimas em cima dos livros. Tenho tantas expectativas para alcançar – sendo que a maioria nem são minhas -, porque de tudo isso?
Mas, o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui está preta. Com o qual ou sem o qual o mundo permanece tal e qual. Ou seja, ele não vai parar para eu poder me juntar.
A questão é que agora faltam nove meses para minha ‘maior idade’, uma quase independência, talvez a liberdade. Será que ela vai ser tudo que eu almejo e venero?
Enfim, esperei nove meses para nascer, o que custa esperar mais nove meses para poder entrar em qualquer festa?

A propósito, o que você vai ser quando crescer?

24 março, 2008

E se...

Abençoados os que esquecem, pois aproveitam até mesmo seus equívocos.

- Pare de chorar, garota! Como se fizesse a diferença o que você acha ruim, como se eu tivesse prometido alguma coisa pra você.

Ela achou que não ia dar em nada, só mais uma diversão – o tédio estava sufocando-a, poderia ser legal -, ela entrou num mundo que não é dela, foi recebida bem. Conseguiu se manter nos primeiros dias.

Ela me lembra aquilo que desajeitada mente tenta um pequeno vôo e cai sem graça no chão – mas, dessa vez o chão era de concreto e o vôo nem tão pequeno assim. Só esqueceram de avisá-la.

Prossiga.

Era tudo uma farsa, tudo invenção. Tudo pelo ORKUT – miserável -, a imaginação era o que importava. Com um ‘oi’ e logo depois um ‘tudo bem’, já bastava para estar amando.

Até, que um dia ela, sem nem perceber – tudo por causa de um ‘jovem geográfico’-, acabará de assinar sua condenação. Aqui os deuses não aceitam oferendas.

Eles conversaram, em menos de algumas horas descobriram que tinham mais um do outro em si do que qualquer outra pessoa. O inicio perfeito para um relacionamento perfeito. Ele era capaz de fazê-la sorrir. - Estranha e estou piorando a cada dia, alguém viu meus antidepressivos? Um copo d’água, por favor. Com gás.

Alguns dias foram se indo, ela até tentava prender o tempo com ela, só pra poder filmar tudo o que ele a fazia sentir, ela tentou gravar cada pensamento. Ela só queria abraçá-lo. Quando se deram conta, estavam fazendo promessas.

O ‘eu te amo’ era diferente dos outros, era verdadeiro. Eles podiam sentir.

Verdadeiro.
Haha. Mas, o mundo dela não era. Ele era. O rapaz era de verdade. Ela não passava de uma fraude. Pegue meus pensamentos e suma daqui.

Ela nunca teve coragem pra encarar a realidade e dizer a verdade pra ele.

- Ei, essa aqui na foto não sou eu. Eu sou essa! Essa! Eu te amo!

Alguém estava com os dois pés no pescoço dela, essa foi a desculpa.
Sempre deixando pra mais tarde, para oportunidade certa, o momento exato.
E quando ele chega? Quando soubemos a hora certa? Ao menos sabemos de alguma coisa? - é ilusão viver assim.
Ela não conseguia tirar os olhos dele. Desde quando precisa ter hora pra ser feliz?


Não me agüento dentro de minha própria pele.
Pra que tentar salvar algo que nem existiu – alguém, por favor, diga a ela para cair na real? Quem mandou tentar brincar de faz-de-conta?
Então, o que restou para a covarde foi à fuga. Escreveu um adeus para ele, e deletou o perfil do ORKUT.

Hoje, ela ainda continua sem conseguir dormir, antes a culpa de estar ‘enganando’ a fazia querer torturar a si mesma. Agora, a dor de não ter ele e de não saber se poderia ter dado certo. - a tortura esta sendo mais cruel, a tortura é ser eu.
E se ela tivesse falado a verdade? E se ela tentasse falar com ele agora? E se ele não se lembrasse mais dela? E se, e se, e se... - quando morrer essas vão ser as palavras gravadas em minha lapide: e se?

Ela não tinha planejado nada disso. Uma coisa é certa: está tudo errado.
O pulmão da pobre se encontra em um abismo profundo, e seu coração ela esqueceu de pedir de volta. Os dias passam vazios. As lágrimas nem pedem permissão pra nascerem, elas caiem ao chão. Ela está no chão.

Algo a faz pensar que isso não pode acabar assim, e se eles se encontrarem numa mesa de bar? Talvez o mesmo vento que o trouxe uma vez volte. Ela vai esperar na varanda. O vento gosta de passear por lá.

Ela só queria que ele soubesse quem ela realmente era.


Baseado em fatos reais.

19 março, 2008

A lei do menor esforço.


Casar com a filha do patrão, arrumar um padrinho, escutar desaforos de patrões mal-comidos e derivados não será mais necessário.

Siga meu raciocínio...

O mundo hoje está tão rápido que as pessos precisam de pessoas que consigam acompanhá-las – há cerca de 2.000 vagas em aberto em muitas multinacionais -, ou seja, empregos existem o que falta são pessoas qualificadas.

Comece a se preocupar com seu futuro profissional, deixe de ser babaca.

Deixe os mangas e as musicas depressivas de lado. Você precisa se destacar.

QUAL O TEU DIFERENCIAL?! Surpreenda-me, por favor!

Porque é exatamente isso que importa – to nem ai se você sabe falar latim ou aramaico -, seja realista e comece a buscar um talento tolhido. A meritocracia voltou a ser moda, quem tem talento e competência que vai conseguir pagar suas contas e ter um fim de semana em Búzios.

Mas, há de ter uma saída. Ou se não sente e comece a chorar – creio que rezar de nada vai adiantar -, o mundo é uma competição. Você precisa saber que vai ter que ser melhor que aquele, você precisa superar os outros. Ou ele, ou você, ou eu.

Comece deixando de ser um analfabeto funcional – de 10 pessoas 12 são -, é aquela pessoa que sabe ler e escrever, mas não tem idéia nenhuma do que acabara de ler. Não entende porcaria nenhuma. E não sei porque tenho a impressão que você faz parte desses 12. – calma, só foi pra descontrair.

Vou abrir a janela.

Afinal de contas, sou uma pessoa seria – sorriso. A bomba relógio vai explodir em sua mão. Você precisa permanecer estável. Eu falo com você. – você, você e você.

O erudito pode prevalecer, não perca tempo.

Isole a fadiga, comece a se mexer - estou imprecionada com meus conselhos.


Os incompetentes que se cuidem!

17 março, 2008

Dispenso a previsão.


T
alvez eu seja uma ótima observadora e até sensível a toques, gostos e cheiros.
Mas eu não sei escutar. É, não sei não.

Não me importo se alguém lê o que eu escrevo aqui – sou grata pelos que fazem isso, afinal qual escritora não quer ter suas palavras mastigadas? Mas, falaremos disso mais tarde. -, o arcano é pra ser escrito e não para ser lido, se é que você me entende.

Pensamentos viram palavras. E palavras viram pensamentos. Ou seja, prefiro que minhas palavras perturbem sua mente. Tudo o que somos é resultado do que pensamos.
Você não irá discutir comigo – e se por acaso querer arriscar, venha com bons argumentos. Posso arrancar informações sem você nem perceber.
Não sou completamente inútil, eu sirvo de mau exemplo.
Não sou completamente inútil, sei chamar a atenção.

O que sobrou de ontem, não é nada alem do que vai faltar amanha. E agora eu não ouço mais todas velhas novidades da sua vida. Cansei de tentar agradar as pessoas – estufo o peito – danem-se!
Eu tenho pensamentos. Eu tenho palavra. Eu existo.

Escrever me fortalece, se transformou em uma rotina, em uma necessidade e em uma metamorfose. Palavras me acompanham ate no chuveiro. E eu nunca encontro uma caneta quando preciso.

Não sei se o que escrevo aqui atinge ou te afeta de alguma maneira. A questão é que você esta lendo isto. Eu estou em sua mente, imagine minha voz.
Talvez eu te escreva quem sabe escrava pra você – se conseguires ler as entrelinhas terei que matá-lo. Você sabe de mais.
Busco com tudo isso encontrar uma forma de vida inteligente. Por favor, se você estiver ai, faça contato. – estralo meus dedos.

Eu dispenso a previsão - perca chance de ficar calado -, vou te mostrar a outra forma de ver a forma. Encontro-me em constante estado de adaptação...
Você passa sua vida toda perseguindo palavras e nem se quer sabe o que elas realmente querem dizer.
Você perde sua vida inteira, atrás de um sonho, enquanto não sabe nem o que é dormi.
Se não me falhe a memória, eu quero me enroscar num canto e morrer. – sorria. O humano é assim, só dão valor quando perdem.

Preciso ir dormir, amanha tenho que copiar as resposta de história e os cálculos de matemática – espero que me passem certo -, e sobre ser escritora te conto outra hora, mas, me pergunte. Estou treinando amnésia.

15 março, 2008

Urtiga

Sou estúpida e contagiosa. Quero plantar um filho, escrever uma árvore, e ter um livro.

Só queria acreditar que não há só maldade no mundo. A humanidade não merece ser salva, vamos deixar tudo assim. Antes se preocupar com que roupa você irá à festa do que com todas as crianças que morrem a cada 9 segundos num mundo completamente fusco.

Admito que no mundo ninguém esteja sozinho. Todo ser está interligado, um ato pode transformar tudo – o destino é sacana, não se prenda ao futuro.

Mas, não concordo.

Exato, não concordo. Não sou obrigada a concorda, ora. Os pensamentos são meus, as palavras são minhas, eu criei meu mundo – ele tem cores, consigo beijar o vento -, faço dele o que quiser. E estou aprendendo a ser egoísta o suficiente para não aceitar visitas.

Ou seja, para mim o humano não passa de um amontoado de ossos boiando em carne.
Aqui as únicas coisas que realmente possuem vida é o céu e o mar. O resto só existe.

Estou sem ritmo para pessoas acordadas.

Não sou, e não faço questão de ser alguém importante pra você – não quero que você pense em mim antes de adormecer.

Gosto de provocar brigas e inventar desculpas. Sou uma guria que não combina com ninguém. Não se iluda.

As sensações que desenho não me servem para nada, não quero sua pena. Mas, agradeceria se você me desse seu dinheiro. Prefiro dizer que não estou.

Eu vejo sangue pelo meu jardim, a Terra precisa ser adubada. As calotas estão derretendo e eu preciso fazer minhas unhas. Necessidades.

Haverá o dia – como disse Einstein -, em que matar um animal será tão grave quanto matar uma pessoa. Essa possibilidade me faz pensar. O que são pessoas?

Vou continuar a barganhar os pensamentos alheios, a observar minhas mãos e tentar poupar água.

Que fique claro que eu não sou explícita, o fato de eu não me demonstrar claramente não quer dizer que eu não sinta. Aliás, pisar em urtigas é bem doloroso, não tem como não sentir.

10 março, 2008

Terminal

Era tarde da noite, se me concentra-se poderia escutar os mais profundos demônios. Se fechasse meus olhos. Bastaria? - Um silogismo completo, a premissa antes da conseqüência, a conseqüência antes da conclusão -, vou subir naquele ônibus, vou me disfarçar com os fones de ouvido e escutar Roxete.

Se não VOCÊ, então quem? Se não AGORA, então quando? – a interrogação corre junto de minhas enzimas, a resposta talvez esteja em outra língua, eu não consigo nem perguntar.

Sentei no mesmo acento desconfortável de sempre – o motorista já conhecia aquele meu ar de prepotência, ele me faz ser obrigada a atuar mais. Preciso mudar de roteiro, quem sabe treinar mais em frente do espelho -, era o ultimo da fila à esquerda, era possível espalhar minhas pernas e ter uma visão privilegiada de todo redor. A janela estava embaçada.

Cerca de três acentos antes do meu estava uma mulher fazendo tricô – agora faltava pouco pra terminar, acredito eu. As linhas emaranhadas como em uma coreografia já davam forma ao blusão de lã azulado -, suas afeições eram ariana, sentia em sua presença algo majestoso, mas, acredito que sua rotina era esfregar chão. Roupas surradas, sacolas plásticas, olhar cansado e rugas espalhadas faziam seu figurino de cada dia.

Ela é uma mãe dedicada e carinhosa. Usa a água sanitária e a vassoura como instrumento – ela precisa trabalhar, colocou seu filho em uma escola privada, sonha com um futuro melhor, doa-se de completo. O Dr. em frente ao nome do filho realmente ficara muito bonito. Mas, algo a preocupa.

Apesar de ter conseguido pagar pelo bom ensino do filho durante tanto tempo, ela sabe que não conseguira bancar uma faculdade. A única esperança é uma universidade federal, mas, sabe que não será nada fácil. Cotas. São elas. Na opinião desta exausta consciência materna é uma injustiça.

Tento escutar melodias, no intuito de não prestar atenção no que meus olhos enxergam. Isso esta ficando cansativo. Só quero chegar em casa e deitar no chão.

Uma vida inexistente me possui toda e me ocupa como uma invenção – não posso ignorar a presença daquele garoto que está sentado do outro lado do ônibus, praticamente ao meu lado.

Suas roupas de marca dão à impressão que não esta sob o mesmo céu que os demais, o Ipod que esta em suas mãos me faz pensar na possibilidade dele ser um bom partido – o cabelo bagunçado e o sorriso no canto da boca confessam, me desperta uma vontade de mudar de acento e perguntar qual o seu signo. – O que será que ele está escutando?

Apesar da sua criação sofisticada, a mordomia e toda a atmosfera burga em que sempre viveu, seus pai o tratam de forma madura desde sempre. Ele não quer mais andar nesse transporte, talvez ele nem me note aqui. As melodias fazem um bom trabalho com ele.

Talvez seu nome seja Caio, Felipe, Juliano ou Douglas. Ele tem cara de Eduardo.

Ele está revoltado que eu sei, acredito que o jeito que seus olhos se movem com tamanha indignação e desprezo pelo rapaz lá da frente não seja algo pessoal.

Arrisco a dizer que ele já tentou mais de três vezes uma universidade federal – quando conseguir, ele deixara de passar pela roleta e de pagar passagem. Ele terá um Audi. Será que consigo carona? -, o tempo não esta fazendo bem para ele, como se não conseguisse ver um negro em sua frente. Cotas. São elas.

Ele está preste a atacar. A lei dos mais fortes de nada adiantará.

E agora eu sei como Joana d'Arc se sentiu, enquanto o fogo queimava seu perfil romano, e começava a derreter seu discman.

Consigo ver o rosto do rapaz da frente graças ao reflexo involuntário da janela. Não que seu cabelo seja ruim, não que suas roupas baratas sejam um problema, não que a voz de seu estomago peça por comida e nem pelo fato dele ser um afro-descendente. Nada disso me faz pensar que ele não seja digno de entrar em uma universidade.

Ele tem um aroma de direito, talvez queira ser advogado. Não vou lhe perguntar onde seus pais se encontram. Posso não gostar da resposta.

Ele parece tão perdido quanto eu – a única diferença é que não tem um fone de ouvido para se enfeitar -, a passagem pode ficar mais cara.

Seus braços são fortes – carregar livros pode ser tão bom quanto freqüentar uma academia e vestir uma suplex.

Sei que ele está tentando entrar em uma universidade federal, sua vida depende disso. Mas, não sinto que ele entrará por causa delas – cotas – algo me faz pensar que ele não precisa disso. Mas, seria justo que seus outros ‘irmãos de pele’ sofressem tamanho preconceito e fossem abstraídos da massa intelectual afirmada em nossa tão 'idolatrada pátri gentil', só por não terem condições de um ensino mais adequado, aliás um ensino que eles realmente merecessem?

Aumentei o volume.

Eu não passo de um pequeno léxico de palavras incompreendidas.

Isso tudo me deixa com nervos frangalhos. Sei que para entrar em uma universidade federal não basta ser boa. Preciso ser a melhor. Não posso pensar muito, preciso agir mais. Tem muita gente na minha frente.

Algo me faz sorrir aliviada. São elas. Cotas.

Todos os santos, Jeová e afins já foram convocados, tenho cerca de 10 messes e 4 dias para me preparar para a batalha do século. Vestibular. Algo me diz que haverá muito sangue – os mortos enterraram os mortos.

Já mandei fazer minha fantasia de Pocahontas, irei fazer a prova de pés descalços e com uma trança embutida. Cotas. São elas. Ouvi dizer que também valem para os indígenas.

05 março, 2008

Diagnóstico

Falo em quadrados. Com os cantos pouco aguçados.

Mas tente escutar, pode ser que seja interessante.

Eu que jamais me habituarei a mim, gostaria que o mundo não me escandalizasse – não quero que ninguém tente me esculpir, que ninguém me analise e exponha meus defeitos ou me diga o que eu tenho que fazer – faça me rir, contenha-se, por favor.

Outro dia minha mãe chegou empolgada em casa – pensei que ela tivesse achado dinheiro na rua, porque isso é algo que me empolga -, ela me procurou pela casa e quando me encontrou encheu a boca e disse num abafado suspiro:

- Vou te levar pra benzer!

Hã, da licença? Acho que preciso limpar meus ouvidos, não só pode.

As paredes estão se movendo, é impressão ou as vozes estão ficando mais agudas?

Não é possível que a mulher desvelada que me carregou em seu útero durante 9 meses tenha acabado de dizer isso. Minha mãe não sabe que expelir uma piada dessas faz mal para minha ‘quase asma’?

Eu não sei o que eu vou ser – isso foi uma persuasão falsa -, mas sei o que eu não quero ser. E ser exorcizada não esta em meus planos.

O que fez minha mãe pensar numa coisa dessas? Ela já quis que eu freqüentasse psicólogo e fizesse ioga, mas isso foi a gota d’água.

Deixe-me remoer minhas suplicas em paz, meus tormentos não são fatais ao próximo, minha depressão acontece aqui, não passo de uma misera mortal.

Tudo o que sou é o resultado do que eu penso. Não tente mudar os fatores.

Sabe do que preciso? – nascer de novo seria uma boa alternativa -, mas na verdade eu só queria não estar aqui ou o aqui não estar. A busca por sentido em tudo me deixa entediada.

Banhos de arruda e colares de alho ou ainda água benta não vão curar minhas feridas. Preciso sentir o vento, agora!

Meu pulso está um décimo de nitroglicerina em efervescência, o abstrato vai continuar a borrar meus sentidos, mas como um sentimento de auto preservação.

Não quero ajuda de ninguém, não quero que você tente me salvar. Nesses últimos meses aprendi muito e descobri que não tenho simplesmente nada, vou aprender a ser mais draconiana – estou com dor nos pés -, meu diagnostico foi confirmado, me deixe ficar sentada na varanda. Não se preocupe comigo eu não me importo com você.

Todos esses meus medos e angustias desencadeiam tão visível turbulência, vou deixar a felicidade para quem ficar atrás.

Mãe, eu não vou me benzer. Até porque perto de mim o Diabo é uma criança de colo.

Meus fracassos e frustrações me servem como combustível, e tenho a certeza que tenho em abundancia. Não me preocupa a falta de tal recurso, a fonte é vasta, só basta cavar.

Pra não ser deserdada tentarei suprir as necessidades da minha mãe, pelo menos até ontem.

Fui para um retiro zen-budista, tchau.

02 março, 2008

Geração photo shop.

Porque de longe tudo parece mais bonito.

As pessoas estão cada vez mais vazias e ridículas - quanto mais conheço o ser humano e suas atitudes, mais tenho nojo de mim. - Eu generalizo, sim. Faço isso sempre que posso.

O ORKUT, já chegou a distrair meu tédio – agora ele está totalmente sem graça, é só uma rede de conspiração. Futilidades. -, mas, sou obrigada a admitir que estou no ORKUT a fim de afirmar minha existência e comprovar a minha imortalidade.

Passo mais tempo na frente de um monitor do que sentada no sofá do lado do meu pai – é que ele troca descontroladamente de canal e isso me deixa irritada.

Vamos aos fatos. A mídia ou o que seja, influencia a mente abitolada das pessoas, quem não consegue seguir os padrões impostos por ela, só resta baixar na internet um bom programa de photo shop – acredite em mim, ele ajuda, mas, não faz milagres – e assim tentar concertar o que gostaria que fosse diferente.

Como seria fácil se pudéssemos retirar as olheiras, os olhos vermelhos, a pele flácida, a gordura exposta, as expressões falsas, adicionar cores e movimentos, se transformar em algo gostoso de ver.

Um de meus vícios é a fotografia, procuro fazer fotos onde não tem. Gosto de paralisar o momento e tentar revivê-lo

Escrúpulos. Você irá valorizar pelo que vê. Aprenda que não adianta o quanto você modificar suas fotos e tentar parecer top, o que vai importar é o cara a cara – como gosto disso.

Quanto mais nos enganamos, buscamos a beleza e a satisfação do ego, deixamos de aproveitar o que realmente importa – humanos, francamente -, de 10 mulheres, 8 me responderam que querem ter um corpo ideal – 4 delas têm o corpo simplesmente perfeito.

Aonde iremos chegar?

Existem os FAKES.
Você sabe do que eu estou falando – paro e penso e dou risada -, o que faz um alguém tentar se passar por outro alguém? Corte seus pulsos.
Essas máscaras de humanos são tão repugnantes. Falta de personalidade é uma doença – eu continuo sendo uma fraude.

Sou como o almuadem que percebe a tênue linha que separa o drama da comédia, a verdade da mentira e a noite da manhã. Não sou não. Brincadeira. Te peguei, não foi? – risos.
Mas tento ser, como esse maldito almuadem!

E eu continuo a falar, falar e falar, e não digo simplesmente nada. Entre mim e mim, há vastidões bastantes para a navegação dos meus desejos afligidos.

Não tente parecer o que você não é, as decepções são revoltantes e doloridas, confiança é necessário. Você ainda pode deixar sua mascara dentro daquela gaveta. Perca a chave.
Nem tente buscar a beleza alheia, você tem a sua, é do que precisa. – Eu estou me causando náusea, auto-ajuda é para os fracos, estou mais interessada em autodestruição.

Por motivo de narcisismo ao nível de mania de onipotência te aconselho a usar o Adobe 7.2.