05 março, 2008

Diagnóstico

Falo em quadrados. Com os cantos pouco aguçados.

Mas tente escutar, pode ser que seja interessante.

Eu que jamais me habituarei a mim, gostaria que o mundo não me escandalizasse – não quero que ninguém tente me esculpir, que ninguém me analise e exponha meus defeitos ou me diga o que eu tenho que fazer – faça me rir, contenha-se, por favor.

Outro dia minha mãe chegou empolgada em casa – pensei que ela tivesse achado dinheiro na rua, porque isso é algo que me empolga -, ela me procurou pela casa e quando me encontrou encheu a boca e disse num abafado suspiro:

- Vou te levar pra benzer!

Hã, da licença? Acho que preciso limpar meus ouvidos, não só pode.

As paredes estão se movendo, é impressão ou as vozes estão ficando mais agudas?

Não é possível que a mulher desvelada que me carregou em seu útero durante 9 meses tenha acabado de dizer isso. Minha mãe não sabe que expelir uma piada dessas faz mal para minha ‘quase asma’?

Eu não sei o que eu vou ser – isso foi uma persuasão falsa -, mas sei o que eu não quero ser. E ser exorcizada não esta em meus planos.

O que fez minha mãe pensar numa coisa dessas? Ela já quis que eu freqüentasse psicólogo e fizesse ioga, mas isso foi a gota d’água.

Deixe-me remoer minhas suplicas em paz, meus tormentos não são fatais ao próximo, minha depressão acontece aqui, não passo de uma misera mortal.

Tudo o que sou é o resultado do que eu penso. Não tente mudar os fatores.

Sabe do que preciso? – nascer de novo seria uma boa alternativa -, mas na verdade eu só queria não estar aqui ou o aqui não estar. A busca por sentido em tudo me deixa entediada.

Banhos de arruda e colares de alho ou ainda água benta não vão curar minhas feridas. Preciso sentir o vento, agora!

Meu pulso está um décimo de nitroglicerina em efervescência, o abstrato vai continuar a borrar meus sentidos, mas como um sentimento de auto preservação.

Não quero ajuda de ninguém, não quero que você tente me salvar. Nesses últimos meses aprendi muito e descobri que não tenho simplesmente nada, vou aprender a ser mais draconiana – estou com dor nos pés -, meu diagnostico foi confirmado, me deixe ficar sentada na varanda. Não se preocupe comigo eu não me importo com você.

Todos esses meus medos e angustias desencadeiam tão visível turbulência, vou deixar a felicidade para quem ficar atrás.

Mãe, eu não vou me benzer. Até porque perto de mim o Diabo é uma criança de colo.

Meus fracassos e frustrações me servem como combustível, e tenho a certeza que tenho em abundancia. Não me preocupa a falta de tal recurso, a fonte é vasta, só basta cavar.

Pra não ser deserdada tentarei suprir as necessidades da minha mãe, pelo menos até ontem.

Fui para um retiro zen-budista, tchau.

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