15 julho, 2013

Não desejo a ninguém a não ser a mim mesma

Ele gosta de ler para me impressionar, mas sente ciúmes quando falo que quero mais de Bukowski na estante ou que não me canso de Gabu. Aprendeu a conviver com a literatura para me convencer, cita minhas próprias poesias para que eu decida por um pouco mais de nós. Mal sabe ele que não precisa insistir. Desisto das férias, das melhores notas, dos compromissos que ainda nem conheci por mais dele em mim.

Ele desculpa minha falta de jeito com o mundo, não se importa se minha delicadeza peca por ansiedade. Uso as meias dele e não me preocupo se ele encontrar manchas de esmalte em suas fronhas. Faz tempo que nossas camas são repartidas, enquanto ele me faz dormir eu retribuo sorrindo. Se algo estiver dando errado eu estarei fazendo parte disso, no entanto se tudo der certo é porque estou com ele. O erro é sozinho, tanto se for dele quanto meu. Não admitimos errar juntos, alguém sempre tem que ter a razão – senão perde a graça, perde a vontade de nos jogarmos na parede, perde o inicio das exigências, da melhora das feridas e da antecipação para amar.

Preciso que ele lave minhas costas, quero experimentar aquelas receitas que ele retira da internet, aceito ser cobaia da felicidade. Me serve mais disso, é tão bom. Pertencer a alguém deveria ser lei, abraçar não sai da moda, querer garantir sorrisos e companhia para o fim do mundo é a melhor escolha a ser feita.

Na dúvida elogio a mãe dele, evito especular sobre o que ele já conheceu sem mim. É difícil acreditar em uma vida em que não seja a nossa. Ele sabe disso e sabe de tudo que há por debaixo da minha roupa. Por isso não ligo se ele esquecer a toalha na cama, não faz diferença se passamos mais tempo longe do que juntos. Esse sentimento é febre, supera a espera do relógio, deserda as expectativas da distância. Reconheço que desejo ele só para mim; fraquejo com hipóteses do diminutivo.

Enquanto ele me amar saberei lidar com o resto que não me faz bem.

Amém.