Se o que eu sou é também o que eu escolhi ser aceito a condição. Vejo-me como um estilete sem cabo. Quer pegar, pega. Só que não entro nem saio da vida de ninguém sem deixar marcas. Marcas boas ou ruins. Mas marcas. Eu não amo ninguém e não faço bulhufas, não quero nem tentar me distrair, ou esconder a verdade, a vida é uma sacanagem de merda, e cada segundo de lucidez é um suplício. Se beleza interior contasse... Ainda assim eu seria feia. Reviro-me na cama, às vezes penso que dormir irá me salvar, ilusão. Comporto-me como fugitiva, mas uma fugitiva esperta. Não deixo que me peguem. Sento e olho as paredes do quarto, ele não está totalmente escuro, grande parte está discretamente iluminado pelo poste da rua. Gosto de acordar durante a noite, ou não dormir porque fico nostálgica com o silencio que encontro. Não se escuta nada. Não se sente nada. Silêncio. Era divertida a época em que acreditávamos nas mesmas coisas. Era mais divertido pensar que íamos todos viverem juntos ou morrerem juntos e que nenhum de nós iria antecipar essa grande solidão.
Alguém dentro de mim é mais eu do que eu mesmo. E você acha que me importo? Me encontro momentaneamente desinteressada. Você nunca vai saber que ação ou reação esperar de mim. Sou ‘levemente’ imprevisível. Possuída, de fato, por mim mesma, em diversas versões. Preenchida de indagações, angústias, incertezas. Não recuo diante das encruzilhadas, não me amedronta com transgressões, não adoto as opiniões dos outros. Se eu tiver que andar sozinha, vou até onde eu quero. Eu tenho um dom de causar conseqüências. Já estou acostumada, mas só a idéia de daqui a alguns meses não ter que voltar a freqüentar aquela maldita escola, me deixa feliz. Exato, feliz! Não é a escola em si, a merenda até que é boa. O que não suporto são aquelas pessoas. Juro que não é implicância minha você me daria razão.
Muita coisa vai mudar, vão surgir novos motivos casuais para minhas amedrontadas noites de insônia. Se estiver preparada ou não eu não sei. O fato é que eu vou conseguir. Uma vez, li um livro chamado "Como ir pra frente". A chave do sucesso, diz o autor, é levantar da cama com um sorriso. Isso, aparentemente, é meio caminho andado. A outra metade é ser honesta o bastante pra poder dormir de novo no fim do dia. Honesta eu até sou. Nem por isso durmo bem à noite. Preciso largar do café.
8 comentários :
belo fluxo de consciência, texto bem articulado e rico. dormir/insônia, dupla que jamais dará certo. nos meus momentos de não dormir, a música me salva, e os pensamentos me condenam. é a vida. gostei imenso. abraços.
Sua imprevisibilidade surpreende até a você mesma hein?
heheheheheh
O sono é, de fato, uma coisa imprevisível. Jamais ousei imaginar a reação que isso causaria em uma pessoa que, também, possui o temperamento imprevisível.
É, abandone o café.
Além de não ser tão boa coisa, ele amarela os dentes. Creio que isso diminua o efeito do que o autor do livro mencionara.
;)
E não se preocupe em ser honesta, já que não dormes. :P
O café é o meu companheiro da noite. A noite é minha companheira de inspiração.
Nisso tudo se encaixa o barulho silêncioso da mente...
"Alguém dentro de mim é mais eu do que eu mesmo."
Ser sempre imprevisível já não ser encaixaria numa previsibilidade?
Bjos
Não se optar pelas segundas opções (:
Dizem que uma maça é mais eficiente do que o café para não deixar dormir. Enfim...
"O que seria do poeta sem a dor"
Isso é uma verdade, uma lógica, quase...A dor é o drama mais "poeticizável"...
Excelente exposição de idéias.. Procure-se. Ache-se. Interesse-se
Impressão minha ou li um texto que desapareceu...ou está na fila?
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