11 agosto, 2008

Muda de suspiros

Deixar os outros em paz não quer dizer indiferença, mas apenas demonstração de inteligência e maturidade. Não importa a onde eu vá, todos parecem estranhos. Somos responsáveis por aquilo que cativamos, mas ele deixou a flor. O Principezinho a deixou. Enquanto me sinto, não tento cativar nada nem ninguém, uso o silêncio de meus suspiros para não ter que gritar com minhas lágrimas. Porque nos abandonamos. – pense em uma interrogação ali.

Tenho tantas coisas importantes para dizer. Mas, é tão importante que prefiro não dizer. Só se é sincero aquilo que não se diz. Então isso também não é sincero. Também não. Só o silêncio é sincero. É preciso escutar o silêncio, não como um surdo, mas como um cego. Minha Nossa Senhora, que coisa bonita que eu falei. Teria sido linda se eu tivesse ficado em silêncio. O silêncio das coisas tem um sentido. Quem não entende isso, não entende nada. É preciso entender um olhar. Nunca fui boa em decifrar gestos.
É tudo o que eu digo, ou o que eu não digo. Não que eu ache atraente as coisas subentendidas, mas acostume-se, esse é meu silêncio. Quem tiver ouvidos para ouvir que ouça.
Sabe, a música também é silêncio. Bach sabia disso, Mozart também. Beethoven só soube quando ficou surdo – que Cláudia Leite a descubra, pelo amor de Deus. -, o vento não faz barulho? E o que é o vento senão ar? A música é o silencio em movimento, sendo assim faço dela minha cúmplice, e das palavras minha sombra, do meu silêncio meu óbito. As palavras estão em quem fala – a música em que a sente – e em quem escuta. O silêncio fica entre os dois, intocado, um silêncio enorme, intransponível. Ao passo que a música está entre nós, isto é, no que resta além de nós. E o resto é silêncio.

Sobram tantos medos que nem me protejo mais. Mas, decorei com exatidão como um passado que eu mesmo criei; tudo aquilo que ainda não possuo. De tudo só fiquei com meu silêncio, bendito o seja. Acredite, ficar calada não é tão ruim. Mas, não digo para você se tornar mudo, apenas use seu silêncio. Podemos até nos comunicar, aprecio pessoas que me deixem em paz. Prefiro que não me cative porem te odiarei se voce não tentasse. Mas, que fique claro que você não é uma flor, então não irei te abandonar. Pelo menos não até que voce o faça.

9 comentários :

Maquinaria de Linguagem disse...

Estranho emudecer para quem escreve. Gostei desse silêncio na escrita.

Padma Norbu disse...

Bem, eu ia escrever um comentário em silêncio, ou seja, sem escrever nada, em branco... porém: "O campo obrigatório não pode ficar em branco." Sou obrigado a escrever alguma coisa...
Ai penso o quanto nossa sociedade nos obriga a nos comunicar, a nos expressar... e o silêncio, o vazio, o nada, que são sinônimos da perfeição são totalmente marginalizados...

Anônimo disse...

  

Unknown disse...

... (leia-se: silêncio)


bjs

Henrique Monteiro Alive disse...

Adeus, disse a raposa, eis o meu segredo: o essencial é invisível aos olhos. Só se vê bem com o coração.

E agora acabo de descobrir: o essencial é também "invisível" aos ouvidos.

S disse...

muitas vezes o silencio tende a significar mais que o som, uma vez que as palavras perdem o significado e se tornam simples ruídos, a preferencia é ficar calado.

em certos casos, especificos, a escrita tende a gritar mais alto que os próprios urros, mocinha!
:]

Thaís Dourado disse...

Você abandona flores?

Luara Quaresma disse...

E sementes.

E não valho nada.

Jessi disse...

Muito profundo esse trecho do livro "O encontro marcado". Viajei junto com as filosofias de Fernando Sabino. Bom texto ;)