A pequena sentia dor, não costumava ralar o joelho, embora o que doía nem ao menos sangrava. Era todo o vácuo que preenchia seu peito. Ela não conhecia ninguém, estava presa e acostumada com tudo isso. Acostumada a não ter coração.
Em um dia lilás – dias lilás são os mais legais depois dos dias laranja -, a bailarina acorda com o barulho das estrelas que brincavam de se esconder atrás do sol, ela acordou triste e seus olhos derramavam lágrimas de chocolate, quando de repente um principezinho que passava por ali a ouviu chorar.
O amor nasce de quase nada, morre de quase tudo.
Silêncio.
- Eu não te farei nenhum mal – ele fazia gestos e ficou na ponta dos pés como se pudesse ajudá-lo a construir alguma relação bilateral –, eu tenho algumas jujubas. – humanos, sempre apelam para a soberba.
Silêncio.
- Não chore, está tudo bem. – ele dava pulos fracassados contra o muro – Eu estou aqui.
- E o que me importa, você não estava antes.
- Estou agora.
- E não estará depois! (!!)
Silêncio. O dia mudou de cor, ficou amarelo.
O principezinho tentou colocar o ouvido mais próximo de uma pedra no formato de um chapéu, não escutou nenhum detalhe. Vasculho o muro por uma brecha entre as pedras. Nada encontrou.
Ele era alguém tão só quanto ela, porém tinha coração, mas sentia a mesma dor. A bailarina sonhava no dia que poderia fugir dali e ir à busca do seu. Ou quem sabe comprar um no mercado negro. O comercio de órgãos está em alta.
- Não vou embora. – disse ele.
O principezinho de fato tinha muita coragem e prometeu para a bailarina que faria qualquer coisa para tirá-la dali. Ela já não acreditava em mais ninguém.
- E me diga, da onde voce tira tal pretensão?
- Todos os outros que tentaram, desistiram porque não era eu – e então o leão se apaixonou pelo cordeiro-, porque só eu tenho o seu coração.
Silêncio.
- E como você sabe que esse coração me pertence?
- Porque eu o encontrei em uma possa qualquer e levo desde então no bolso, e hoje quando passava por aqui ele começou a pulsar, e me trouxe até você.
O principezinho não iria desistir.
- Eu não vou te abandonar – e dizendo isso ele a fez sorrir.
O principezinho queria conquistar o mundo, enquanto a bailarina fugir dele. E apesar de toda sua valentia e amor, de veras o muro era muito alto. Impossível para o principezinho escalar ou tentar derrubar, então fez uma promessa: todo dia iria até o muro e cantaria para a bailarina poder dançar. Todo dia ele atiraria uma rosa para o outro lado do muro para ela saber que ele estava ali. E apesar de tão distantes, juntos esperariam até o dia que o principezinho fosse grande o suficiente para chegar ao outro lado.
O dia mudou para sua cor favorita.
19 comentários :
nossaaaaaa!!
adorei! mto bom!!! vc escreveu com um carinho muito peculiar essa história, esse conto, não sei... adorei msm! ficou mto bem escrito!
bjsss
Muito bom o texto! Gostp um monte da tua escrita densa, quase palpável.
O que falaste lá no meu blog tem TUDO A VER!!!
Sintetizou todas: é verdade não basta escrever, quem não passou pelo céu e o inferno dos sentimentos, quem ainda não andou na corda bamba, pelo fio tênue, pelo fio da navalha, pela adaga afiada das emoções que rolam no cotidiano da inexplicável vida. Quem vive somente no raso, somente escreve, não conta com a sensação como parceira na escrita.É preciso viver a vida!
bjos e bom findi
Que bom que me adicionou na lista de links. :D
Eu já tenho você na minha há bastante tempo, rs.
Que belo conto. Tão simples e meigo.
A forma como tu destaca as cores fez eu me lembrar dA Morte, a narradora do livro A Menina que Roubava Livros. Ela também percebe bem as cores.
Realmente lindo. Os diálogos tão inocentes e puros. E tem uma frase que simplesmente diz tudo ""O amor nasce de quase nada, morre de quase tudo".
Concordo plenamente.
Um beijo.
p.s.: querida, tu usa Orkut?
'Primero as cores, depois os humanos' :]
o começo me lembrou muito the wall. e a idéia do muro em si.
gostei!
adicionar-te-ei tambem.
Que lindo!
Também é muito bom ler você! E... eu acho que eu preciso que o principezinho arranje um coração pra mim também... =/
By the way, os dias lilás são mais bonitos que os laranjas =]
Beijãão!
Muito obrigada pelo seu comentário! Também adorei o seu blog!! :)
Beijos
Mia Ballantine.
Olha só... que texto mais bonito, sensível e delicado. Mto bom, moça. Mesmo. Vou te adicionar nos meus blogs-amigos tbm. Bjs.
Tu portas uma grande sensibilidade, garota. Tua meiguice ao escrever deixa tudo tão sutil.
Lindo texto, cheio de cuidado.
:)
[ironia]Alguém me empresta um coração?[/ironia]
Até o dia em que o princepizinho achar uma diversão mais interessante!
hahahahaha
Esse mundo é cruel...
ps: Você tb me inspira muito... minha única leitora!
=)
Herr Schreiber disse...
Até o dia em que o princepizinho achar uma diversão mais interessante!
É por essas e outras que te venero :D
HAHA
Obrigado por ter aparecido lá..eu ando sempre aqui. Só agora consegui postar e gostei dessa coisa do amor começar de quase nada, do Nada e morrer de quase tudo, do Tudo. Do excesso. Um dia amei assim. Morreu de todas as coisas acumuladas. Precisamos aprender a lidar, manusear a alma, os sentimento para que o excesso não nos sufoque e termine como tudo começou. Estamos só, bailarina. Estamos só, escritora mas apostamos naquilo que ainda não conhecemos. Vou colocar seu blog como link no Maquinaria. Não sei de onde você escreve, mas respiramos quase todas as impressões. Quase. Beijo
Amei lluly *-* :D
Eu escrevo do vazio.
Esse texto foi sensacional!!!
Me emocionei muito!!Porque eu mesma já construí um muro ao redor de mim....
A história é doce e frágil...Alegre e triste ao mesmo tempo!!
Meus parabéns, Luara!!Você é uma grande escritora!!
Texto maravilhoso!!Tão doce e tão frágil...Quase palpável!!
Me emocionou muito!!
Meus parabéns, Luara!!Você é uma grande escritora!!
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