28 dezembro, 2010

Bem-te-quero

Não sei mais onde te colocar. Dentro de mim já não há mais espaço pra tanto você.


21 dezembro, 2010

Do outro lado da cama

O casal resolve comprar abajur para por ao lado da cama quando a aliança já deixa a marca do sol no dedo. Antes é preciso barganhar quem irá se levantar e ir desligar a luz, e é ai que amor prefere ficar cego.

Não quero abajur, nem pegar no sono sozinha. Ah, meu bem, pra nós o lençol vira pretexto e os travesseiros empecilho, minha boca já nem precisa esperar. E do outro lado da cama sobra espaço pro amor cochilar.

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17 dezembro, 2010

Gravidade

Era como se vivesse com a cabeça embaixo d’agua, eu sabia que precisava respirar, mas, não sabia como. E toda a ajuda magoa. Meu coração pesado afundava entre os olhares sem expressão do resto do mundo, toda a minha miséria já não cabia mais no meu guarda-roupa e minha alma trasbordava pela vigésima quarta xícara de café. Lembro de fechar os olhos e me deparar com um rosto, completo desconhecido; embora soubesse que o coração eu fosse capaz de reconhecer. Sentia você antes de estar aqui.

Fazia tudo certo no lugar errado, já nem amarrava mais meus cadarços e havia tanto vazio no que ficou. Apesar de a pele ter ficado mais densa, ela queima quando você se derrama sobre mim; como se só isso fosse a solução de todos os meus problemas, preciso tanto de você.

Ao te encontrar deixei para trás todas as minhas coleções, você me prende sem o toque. E agora eu sei, que em todas aquelas noites sem dormir era você que se arrastava em mim. Minha força tão frágil permanecia em jejum e daquelas chuvas só lembro-me do resfriado que não era convidado.

Pois, alguma coisa sempre me trará de volta para você. E nunca demora. Tudo fica melhor quando não está de cabeça para baixo, até os peixinhos do aquário amanhecem feliz. E por favor, eu só preciso me afogar em seu amor.

10 dezembro, 2010

Entrevista com Caio


Boa noite!
Há tempo nosso programa estava ausente, mas voltamos. E voltamos com um convidado maravilhosamente fantástico. Pois, senhoras e senhores, nesta noite estará em meu divã Caio Fernando de Abreu.
*Aplausos*
Luara – Caio, é um imensurável prazer te ter aqui hoje. Como já havia te dito nos bastidores, você para mim é um ponto de chegada. E estar em sua presença me faz muito feliz.
Caio – "Venha quando quiser, ligue, chame, escreva - tem espaço na casa e no coração, só não se perca de mim" - (Sorrisos)
L – Você é considerado um gênio da literatura contemporânea, suas obras são um ápice na arte moderna. O que têm a me dizer sobre isso?
C – (Tragada no cigarro) - "Quem diria que viver ia dar nisso?", mas "É preciso estar distraído e não esperando absolutamente nada. Não há nada a ser esperado. Nem desesperado."
L – Me diga como é para você ser uma referência para tudo que as pessoas vivem? É como se cada um que leia suas palavras sentisse que aquilo foi escrito para eles.
C - “As pessoas falam coisas, e por trás do que falam há o que sentem, e por trás do que sentem, há o que são e nem sempre se mostra..."
L – Você escreveu sobre morte, amor, sexo, vícios, solidão. Sua escrita é bem pessoal não é?
C – "Durante algum tempo fiz coisas antigas como chorar e sentir saudade da maneira mais humana possível: fiz coisas antigas e humanas como se elas me solucionassem. Não solucionaram".“Continuo a pensar que quando tudo parece sem saída, sempre se pode cantar. Por essa razão escrevo."
L – E hoje, você está curado de toda a angústia e dor que se esconde em suas entrelinhas?
C – “... Eu sentia profunda falta de alguma coisa que não sabia o que era. Sabia só que doía, doía. Sem remédio."
L – É evidente sua busca incansável pelo amor. Você conseguiu encontrá-lo?
C – “O que tem me mantido vivo hoje é a ilusão ou a esperança dessa coisa, "esse lugar confuso", o Amor um dia. E de repente te proíbem isso. Eu tenho me sentido muito mal vendo minha capacidade de amar sendo destroçada, proibida, impedida”. “Meu coração tá ferido de amar errado."
L – Mas, sabe Caio. Apesar disso acho que todos precisam e querem encontrar um amor. Ele deve está por aí, perdido em algum lugar...
C – (Ascende mais um cigarro) – “Cuidado com as ilusões mocinha, profundas e enganosas feito o mar.”
L – Mas lembro de ter lido em algum lugar algo assim: “Não, meu bem, não adianta bancar o distante: lá vem o amor nos dilacerar de novo...”
C – (Risos) – Ah, “Acho que sou bastante forte para sair de todas as situações em que entrei, embora tenha sido suficientemente fraco para entrar."
L – E você quando se assumiu ser homossexual, se sentiu vitima de algum preconceito?
C – “Só que homossexualidade não existe, nunca existiu. Existe sexualidade - voltada para um objeto qualquer de desejo. Que pode ou não ter genitália igual, e isso é detalhe. Mas não determina maior ou menor grau de moral ou integridade.”
L – Nos revele quem realmente foi sua paixão, e certamente inspiração para sua poesia?
C – “Fico quieto. Primeiro que paixão deve ser coisa discreta, calada, centrada. Se você começa a espalhar aos sete ventos, crau, dá errado. Isso porque ao contar a gente tem a tendência a, digamos, “embonitar” a coisa, e portanto distanciar-se dela, apaixonando-se mais pelo supor-se apaixonado do que pelo objeto da paixão propriamente dito. Sei que é complicado, mas contar falsifica, é isso que quero dizer — e pensando mais longe, por isso mesmo literatura é sempre fraude. Quanto mais não-dita, melhor a paixão. Melhor, claro, em certo sentido que significa também o pior: as mais nobres paixões são também as mais cadelas, como aquelas que enlouqueceram Adele H., levaram Oscar Wilde para a prisão ou fizeram a divina Vera Fischer ser queimada feito Joana d’Arc por não ser uma funcionária pública exemplar. "
*Aplausos*
L – Muito bem. Caio, o que você gostava de fazer por aqui?
C – “Versos, livros, filmes, músicas, quadros. Qualquer coisa, desde que seja bonita.”- (Sorrisos)
L – E agora? Como estão seus dias?
C - "Tenho dias lindos, mesmo quietinhos"
L – O que foi pior de todo seu antes?
C - "Fiquei tão só, aos poucos. Fui afastando essas gentes assim menores, e não ficaram muitas outras. Às vezes, nos fins de semana principalmente, tiro o fone do gancho e escuto para ver se não foi cortado. Não foi."
L – Então você sente solidão ainda?
C – “Toda a minha saudade e o meu amor de sempre.” “Talvez bastasse qualquer coisa, como chegar muito perto de você, passar a mão no teu cabelo e te chamar de amigo. Ou sorrir, só sorrir.”
L – E isso te deixa triste?
C – “De vez em quando a gente fica triste sem motivo, ou pior ainda, sem saber sequer se está mesmo triste.” – (Tragada no cigarro)
L – Mas, vamos falar de coisas boas. Como foi sua vida aqui?
C – “... Foram muito poucas as coisas que eu vivi percebo que não cheguei a existir exatamente...” “... temos muito pouco tempo nesse pouco tempo...”
L – Você não queria ter partido, não é mesmo?
C - "Mas sempre me pergunto por que, raios, a gente tem que partir. Voltar, depois, quase impossível." – (Olhar distante, cigarro) – “Tenho uma vontade besta de voltar, às vezes. Mas é uma vontade semelhante à de não ter crescido".
L – Você gostaria de reencontrar alguém?
C - "Natural é as pessoas se encontrarem e se perderem".
L – Qual a sua vontade agora?
C – “Chorar por tudo que se perdeu, por tudo que apenas ameaçou e não chegou a ser, pelo que perdi de mim, pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo amanhã que não existe, pelo muito que amei e não me amaram, pelo que tentei ser correto e não foram comigo. Meu coração sangra com uma dor que não consigo comunicar a ninguém, recuso todos os toques e ignoro todas tentativas de aproximação.”
L – Então, você teria feito as coisas diferentes?
C – "Às vezes a gente vai-se fechando dentro da própria cabeça, e tudo começa a parecer muito mais difícil do que realmente é. Eu acho que a gente não deve perder a curiosidade pelas coisas: há muitos lugares para serem vistos, muitas pessoas para serem conhecidas."
L – Mas, agora você está livre...
C - "É difícil aprisionar os que tem asas".
L – E hoje, o que você diria para seus fãs?
C – “Chegue bem perto de mim. Me olhe , me toque, me diga qualquer coisa. Ou não diga nada, mas chegue mais perto. Não seja idiota, não deixe isso se perder, virar poeira, virar nada.”
L – Ah, Caio. Você pode ter certeza que você nunca irá ser esquecido.
C - "Só quero ir indo junto com as coisas, ir sendo junto com elas, ao mesmo tempo, até um lugar que não sei onde fica, e que você até pode chamar de morte, mas eu chamo apenas de porto."
L – Tenho absoluta certeza que fez todas as pessoas muito felizes, principalmente hoje. Você trouxe conforto e companhia para muitas vidas. E nem sei como agradecer sua vinda aqui hoje...
C - "Te desejo uma fé enorme, em qualquer coisa, não importa o quê, como aquela fé que a gente teve um dia, me deseja também uma coisa bem bonita, uma coisa qualquer maravilhosa, que me faça acreditar em tudo de novo, que nos faça acreditar em tudo outra vez."
L – Te desejo Caio, próximas vidas cheias de amor, que você possa descansar em paz e continue a encantar a todos com suas palavras. Obrigada, muito Obrigada.
C - "Penso: quando você não tem amor, você ainda tem as estradas...”, então “que seja doce”.
*Aplausos*
No próximo programa, mais um convidado ilustre. Sabe o Mário? Pois é, o Quintana estará por aqui.
Obrigada.