31 outubro, 2008

O inferno é os outros

Bilac uma vez escreveu sobre o oitavo pecado: a vida sem amor. Desculpe-me Bilac, mas o MEU oitavo pecado é a negligência. Saber e não agir. Ouvir e não falar. Sentir e não perceber.

“Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de reis.”
(Machado de Assis).

24 outubro, 2008

Falar de amor não é amar

Eu tenho medo de amar. Não, eu tenho é a infeliz capacidade de me entregar intensamente. Eu tenho medo de amar, mas mesmo assim amo.
Esse é um tipo de problema que necessita de atenção aguda. Eu o resolvo apagando as luzes e indo dormir. Por isso escrevo, por isso devo morrer.

A gente devia morrer quando o coração se parte.

21 outubro, 2008

Aqui jaz eu, uma humana que agora voa

O último dia da minha vida...
...ou o primeiro da minha morte.


Não espero a morte, como a maioria de vocês – não que eu seja tão presunçosa, na verdade sou mais do que aparento. Na verdade. Bem na verdade sou muito mais que tudo isso que aparento, mas como sou egoísta e só distribuo, de boa vontade ou não, o mínimo de mim. Bem de verdade, é só o mínimo. -, é a morte que me espera.

Eu busco a virgindade das coisas gastas.
Às vezes eu me pergunto, não eu não sei o porquê, o dia em que vou fugir desse mundo. Eu até penso em me dar presentes, depois eu mudo de idéia. Eu sinto como se já tivesse vivido milhões de anos, como se já conhecesse tudo isso, como se já soubesse no que tudo isso irá dar, como se já estivesse aqui antes de estar. Meu coração está cansado – e um coração de 17 anos não deveria estar nesse estado.
Acho bobagem tentar viver como se fosse o último dia da minha vida, o que eu tento fazer é preencher meu passado. As horas passam. Não me preocupo em tentar adivinhar quando será a ultima vez que estarei nesse lugar. Busco por uma nova chance, uma nova vida. Mas, não aqui. Definitivamente, não é aqui.

É o último dia da minha vida, eu fecho os olhos, tudo o que aparece são fotografias. Laranja. Fotografias laranja. Lembro-me de tempos atrás, quando eu achava que tudo tinha conserto, que o resto da minha vida podia ser remendado. E quando eu vejo, eu sinto, eu lembro – das coisas que vi, das coisas que senti, das que não tive-, eu tenho a certeza que eu até amei. A gente esquece dos sorrisos que deu durante a vida, das pessoas que maltratou e nunca teve sequer a chance de pedir desculpas. A gente finge que entende, finge que cresce, finge que esquece. Mas, o último dia será sempre o último. Esta é a verdade.

As pessoas me perguntam: para onde voce vai? Enquanto eu tento descobrir para onde eu fui. As duvidas são muito longas, eu sinto falta de tudo que não sou. Uma dica; ser muito mais que tudo isso só é menos do que eu poderia ser. Não escrevo para te convencer com minhas palavras, o que eu tento fazer é convencer a mim mesma. Grande trabalho. Sempre fui meio teimosa. A eternidade nunca aceitou bem isso, nem o agora.

Como é o último dia, vou viver. Quero ver para crer. Nada será tão perfeito, acredito que irei decepcionar a morte também. A coitada me espera para sua coleção, eu sou seu trabalho. Não que eu seja tão presunçosa – risos. É que me subestimo, e sem o mínimo esforço. Será que meu sucesso para fracassos irá continuar depois da vida? O que eu vou esperar da morte. Uso o silêncio, um dos deuses mais lindos.

Breve uma despedida. Nunca fui boa o suficiente. Nunca fui boa em dizer adeus. As pessoas por fim traduzem isso com meu olhar - humanos são péssimos tradutores, se diga de passagem. Detalhes, quem se importa com detalhes. Terei algumas satisfações ainda, não sei bem ao certo como e quando. Não vou voltar. Juro que não volto.
Não tenho um último pedido, não tenho nada. Mas, deixo. Deixo tudo. Eu não sou como vocês, não espero o dia da minha morte, mas o último dia da minha vida. Desta vida. Por quê? Ora, por que o último dia é o dia que se deve esperar. E o dia de sua morte é o dia que vale a pena viver. Realmente viver.


Qual será a cor do céu, quando aqui eu enterrar meus sonhos?

14 outubro, 2008

Menos eu, menos que eu

Pouco é menos da metade.
Muito é quando os dedos da mão não são suficientes.
Indecisão é quando você sabe muito bem o que quer mas acha que devia querer outra coisa.

03 outubro, 2008

22 segundos antes do beijo

Fechei os olhos.

A vontade de hesitar é a mesma que a de fazer. Muita coisa pode acontecer antes dos lábios dele tocarem os meus, vinte e dois segundos que sucedem esse beijo faz o planeta Terra aparecer um feto. No olhar dele eu encontro a eternidade. No olhar dele eu encontro meu chão, meu céu, meu ar. Não importa o que aconteça, eu não consigo tirar meus olhos de você.
17 segundos.

Tem tanta coisa que eu quero te dizer, mas agora eu não preciso. Ele está se aproximando. Eu sinto a respiração que cambaleia entre os centímetros que nos separa. Ele está dando aquele sorriso torto, e eu não consigo pensar em mais nada. Cada pedaço dele está em minha mente. Vejo em câmera lenta todos os meses de espera por esse beijo, escuto todas as músicas que ele cantou para mim, embora eu sempre precisasse adivinhar o que ele sentia.
9 segundos.

Não importa o dia e nem as horas, eu trocaria a eternidade por um beijo seu. Você disse o que eu mais queria ouvir, mas será que foi a tempo? O que vai acontecer depois que seus lábios deitarem sobre os meus? Porque é você e eu, e todas as outras pessoas. Não importa o que escolhemos, não importa o que seremos e não importa o que perdemos. Importa o que sentimos.
2 segundos.

Você não sabe o que foi aquele beijo. Nem eu. Havia em seus olhos uma multidão de milhares de pequenos bons momentos - momentos nossos, noites de pouco sono, pensamentos soltos e o amor sentado escutando tudo, ouvindo a gente -, de repente, parou instantes para olhar. Para me olhar. Empurrei os seus olhos com os meus e ouvi o silêncio dos seus pensamentos, já não sabendo se aquilo que eu pensava era meu ou se era dele porque olhar nos olhos de um estranho freqüentador de meus sonhos é se deixar espiar por estrelas. Como se aquilo que eu pensava também já fosse tarde demais, meus pensamentos sugados pelos olhos do dele. Havia naqueles olhos uma correria inútil de tampar segredos e eu soube de todos eles, não por meio de palavras, mas por meio de silêncios. Eu soube que apesar dele não saber o que queria, sabia que o lugar dele era aqui. Eu nunca soube decifrar silêncios, mas posso tocá-lo com a ponta dos dedos. Assim eles ficaram, os segredos daquele olhar, no canto das coisas que eu pensava e pensava, antes de aproximar os meus lábios. Você não sabe o que foi aquele olhar. Os olhos dele eu nunca mais vi, não eram os olhos que me fitaram, de maneira fugidia, como na primeira vez. Eram olhos que guardavam perguntas inocentes, que guardavam palavras não ditas, que guardavam uma proteção e uma paixão, e eu quase arrumei de volta os seus cabelos, abotoei a sua camisa e perguntei se ele me olharia assim de novo se eu ficasse cega. Ele me ama.
Sorrisos são pontes que se abrem no rosto para o outro poder passar. E só por conta daquele sorriso eu atravessei a distância entre o meu rosto e o dele para encostar os meus lábios aos seus novamente. Meus lábios tinham gosto de sorvete. E os dele tinham meu gosto.

6 horas da manhã.
Abri os olhos. Ele nunca esteve aqui, mas meus lábios ainda sentiam os dele.