31 maio, 2010

Mau do século

- Há teia de aranha no seu celular.– Tentei não ser tão cruel.

- Eu sei. Pode ver, só a operadora lembra de mim. – Eu conheço esse olhar distante que ele está me lançando.

- São mensagens automáticas, todos os clientes recebem. – Merda! Fiz de novo.

- Pois é, depois tu diz que minha depressão não tem fundamento.



21 maio, 2010

Em suas mãos

- O que fazer quando o amor é tanto, mas tanto que não cabe em uma mão?

- Coloque em duas.

- E se ainda assim não der?

- Os bolsos servem pra isso.

- E se eu não tiver?

- Use os meus.



14 maio, 2010

Preocupação

Precisamos ser mais reais com nossas dores. Parar de criar arrependimentos por tudo àquilo que não foi feito ajuda muito para que seja possível pegar no sono. Não importa o quanto você se ache ruim ou o quanto você tente ser cruel, nunca conseguirá superar a vida. A vida te espanca e não há nada que bata mais forte em sua cara que ela. Mesmo que você continue usando o mesmo par de meias nenhum dia é igual ao outro. E a tal da rotina não passa de um conforto criado pela civilização para se privar de enfrentar o que faz a diferença no mundo. Você será no mínimo contente se saber viver um dia de cada vez. Tome remédios para ansiedade, talvez lhe ajude.

Como se eu me importasse com a humanidade. Estou nem aí pra vocês. Já me preocupo demais se irei dormir e depois se irei acordar. O fato é que sempre acharei algo de errado em tudo que sinto penso e vejo. Sempre me culparei por isso e serei sempre essa menina cansada, irônica e desiludida com tudo. No final só me resta esburacar ainda mais minha memória, arrumando espaço para mais uma cova. E meus cachos estarão brancos por me preocupar tanto em colocar tudo isso pra fora de mim. Talvez se eu me pré-ocupasse menos, chegaria sã a puberdade.


[texto original fevereiro de 2009.

06 maio, 2010

Sábado de manhã

Certas coisas eu queria não conseguir imaginar
te abraço e tudo fica com cheiro de café, então.

04 maio, 2010

Chamada a cobrar

Eu nunca tive uma secretária eletrônica, mas se tivesse, ela sempre estaria vazia. Perco meu celular sempre que ganho um novo para me aliviar do silêncio que ele causa. A verdade é que toda essa globalização afasta ainda mais as pessoas ou sou eu que nasci sozinha. Eu atendo o telefone no primeiro toque.

Mas desligo depois da primeira palavra.

A felicidade me apaga, e a tristeza me faz cia. Entre essas duas, fico com a terceira.



[ texto de junho de 2009.