23 dezembro, 2008

Pandorga

O dia todo olhando para o chão, tentando administrar uma relação de amizade com as sombras na parede. A noite toda ouvindo vozes me dizendo que eu deveria dormir um pouco, pois amanhã pode ser bom para alguma coisa. O infinito se encontra no teto do meu quarto. Atrevo-me a sair pra fora, e me sinto como uma pandorga quando cruzo com o vento e afavelmente comprimento o Sol. A pipa por sua vez se encontra patinando num céu que é só seu, sem importar-se pelo fio que a prende, um fio que vem de baixo e que apesar de toda sensação de liberdade, ela não passa de um brinquedo controlado por alguém, que a qualquer minuto volta a enrolar o fio e a trazê-la de volta para o chão.

Tento corrigir-me às noites em que não estou tão cansada para rever meus erros do dia. E mesmo sabendo no momento das atitudes que não posso, eu faço - em respeito aos meus motivos. Há uma grande diferença entre significado e significante. Perco o ar e respiro pra entender, o que é ser alguém.
Quando reclamo do tempo em seguida vem à acomodação. Não é de tempo que eu preciso pra concertar as coisas, pra fazer mais por essa minha vida que esta passando diante de mim enquanto estou sentada no cordão da calçada reparando nas placas dos carros. Se me fosse concedido mais tempo, não mudaria em nada. Só aumentaria a minha falta de interesse por tudo isso. Só teria mais tempo pra ficar a toa. Existem apenas 3 coisas interessantes para se saber sobre mim. E eu não sou uma delas.

Não sei o quão abstrato tudo isso pode parecer. Pensar no futuro, indagar o depois sempre prejudica o presente.
O tempo passa. Mesmo quando isso parece impossível. Mesmo quando cada batida do ponteiro dos segundos dói como o sangue pulsando sob um hematoma. Passa de modo inconstante, com guinadas estranhas e calmarias arrastadas, mas passa. E a pandorga vai acabar se enroscando em algum poste de luz, ou presa entre os galhos de alguma árvore.

19 dezembro, 2008

Chamada

Faltam algumas horas para minha formatura do colegial. Faz tempo. Tempo que eu espero por esse momento. De pouca coisa eu vou sentir falta. Saudade é algo que descarto, o alivio vai ser inevitável. Não vou chorar, por mais que seja digno. Preciso manter minha maquilagem.

Cada um está indo pra um lado, e não vou forjar que me importo com isso. E quando encontrar algum de meus colegas na rua não irei agir como se sentisse falta dos recreios ou dos métodos de cola na aula de matemática. Não vou ir aos churrascos que eles organizarem e não quero fazer parte de nada disso. Não mais, afinal optar por não ter a presença de pessoas assim não vai mais me fazer repetir de ano.

Sinto como se estivesse vivendo a vida de outra pessoa. Respondia a chamada por outro alguém durante todos esses anos. Eu acordo todos os dias pensando em como evitar as pessoas.
Não sei de nada, e se perguntarem alguma coisa, eu não estava lá.
Sou uma solitária avulsa em uma sala, acelerada por batidas inexplicáveis e sentimentos que me rodeiam como demônios querendo o meu pior.
A única certeza além da morte é que hoje estou trocando o aviãozinho de papel por um bisturi.

Não foi bom enquanto durou.

12 dezembro, 2008

Desencontros

Caminho em frente pra sentir saudade, pois você levou minha alma para um mundo onde eu não posso sobreviver. Então te mando meu amor, mas você está tão longe. Como eu queria que o mundo fosse menor hoje.

05 dezembro, 2008

Atrás da porta

Não consigo dormir, então espero o vento cruzar minha janela
Fico de pé, mas não encosto no chão
Vou até a porta, lutando contra meus passos
Tento ouvir algum barulho, fico ali mortificada
Imagino você do outro lado
Lembro-me de tudo o que planejei não te dizer,
Embora tenha dito tudo o que você não quisesse ouvir
Agora só me resta ir embora e trancar a porta.

Escolhas e sobras, eu tenho medo da minha voz
Bem, prefiro fingi a sentir.
É muito mais fácil correr quando voce não carrega um coração
Não preciso de dias lindos, o sol sempre nasce e a lua nunca morre
Diga-me, e quanto a nós?
Nascemos para morrer. É só

Nada ficou no lugar
Eu vou enganar o Diabo
Vou invadir sua alma e violentar o seu rosto
É pra ver se você volta, pra ver se você olha pra mim
Eu vo te entregar suas palavras
E fazer de conta que elas so pertenceram a mim
Eu vou derramar o resto da minha alegria

Não tenho desculpas convincentes,
Aceite minhas mentiras sinceras
Alguém...
Vou te amar até o fim
De algum jeito vou escolher o errado
Temos você, temos a mim
Não temos o tempo.

É difícil encarar as outras pessoas
Enquanto tento fugir de um espelho,
Porque sei, que me verei com seus olhos
E meu amor,
Terei mais certeza que de todas essas pessoas
Que de todas essas ruas
Que de todas essas dúvidas
Voce ainda estará atrás daquela porta,
E mesmo não tendo saída
É voce e eu contra tudo
Contra o mundo
E eu não vou conseguir tirar meus olhos de você,
Nem por um segundo.

Estarei te esperando até o amanhecer
Depois do entardecer,
Do outro lado,
E de lá nunca sairei, ainda é você
Te amarei até o fim.
Depois de morrer.

02 dezembro, 2008

Amnésia

Fazer alguns versos de bolero é fácil quando você já fracassou tantas e tantas vezes, não preciso mais gritar, o mundo todo se encontra surdo. Estou aqui tentando. Escuto uma música distante. Já quebrei tantas vezes e já me fechei e desaprendi a amar.
Deve-se estar perdido, para achar locais que não se pode achar. Caso contrário, todos saberiam onde fica. Creio que sofra de uma amnésia que delete em mim as partes que deveriam me fazer humana, facas voam.
Enquanto tento lembrar os passos de dança que um dia eu aprendi, decido calar meus pensamentos. Porque se eu pensasse, sofreria. “E como qualquer ser humano que não é masoquista, eu não quero sofrer.”

‘Visto o silêncio do passado para justificar
O que não sou capaz de te dizer agora,
Você aparece na minha mente
E por mais que eu tente
Sou incapaz de te deixar ir,
Preciso tanto de você aqui... ’
Gosto tanto dessas palavras que começam com in, - invisível, inviolável, incompreensível - que querem dizer o contrário do que deveriam. Eu própria sou inteira o oposto do que deveria ser. É.
A certeza que eu tinha de que 'algum' dia eu poderia encontrar alguém que me iria surpreender todos os dias; mais como eu desejava isso, se nem ao menos eu consigo conversar com pessoas por mais de quinze minutos sem bocejar?
E o pior de tudo é achar que mesmo que essa pessoa EXISTA, ela não vai gostar de mim.Se fosse possível alguém, qualquer alguém escutar meus sonhos, talvez não fosse tão difícil dormir. Não creio em amor a primeira vista, novelinha teen não me convence mais. O que machuca é saber o quanto eu estou habituada a mim mesma. O quanto eu me aceito, o quanto eu já dei desculpas para não sair. Eu sou uma tortura, e sofrer de memória seletiva me faz esquecer tudo o que eu acho que deve ser melhor e dizer o quanto esse errado pode dar certo.
'Fica um pouco mais
E me veja dormir, já não importa mais,
Só voce sabe o jeito de me fazer sorrir.
Eu vou te esquecer pra lembrar
Que te encontrar só é possível quando eu já não mais existir...'

21 novembro, 2008

Quando o nada é tudo

Maldito surrealismo excêntrico.

Isso, eu queria dizer, é porque nunca consigo ficar muito tempo sustentando olhares de quem acha que pode me dar a mão. Eu mal tenho pele nela. No resto do tempo eu me evito. Evito principalmente meu quarto, não que precise de um lugar especifico para minhas torturas e perturbações, mas é lá que me encontro afogada constantemente, porém ainda respirando. Ter consciência de que existo de verdade, me desespera.

Vivo em uma constante busca pelo meu interior. Quero dizer; não o interior de um organismo, não a sua construção, mas sim, o seu âmago. A parte mais profunda do ser, a alma, o coração, o íntimo. Sou o que busco em meu meio. Sou um dia e um momento. A minha propensão natural é a busca pelas coisas. Sou. Sou a luta para viver com o meu meio mutável, volúvel e infiel. Fracassado.
Parece pra mim que tudo está girando, fora de controle, e é inevitável. Se aquilo que busco não for encontrado dentro, jamais será encontrado fora. E ainda assim insisto em procurar cores novas para dar nome.


O nada se torna tão tudo. E o tudo não me é nada. Poderia desistir e dizer que está tudo acabado apenas para começar tudo de novo, mas como outra pessoa - toda vez que sonho com um reparo rápido fico aliviada.
Mas agora eu sei como é difícil. Talvez eu não consiga, pois o que antigamente era castigo silencioso, agora é obsoleto. A forte atração pelo fantástico é um defeito capital de meu ser, a tranqüilidade me aborrece.
Perdida entre minhas próprias ações me sinto entreolhada por pessoas que não fazem minha cabeça. Acompanhando outros que não procuro mais. Aspectos infantis de meu ser continuam a transbordar e a idade passa mais rápido que eu consigo raciocinar; uma criança grande em um mundo de adultos pequenos. Sendo assim, disfarço minha infantilidade casual com a indiferença desprovida.

Então me escondo dentro do meu quarto. E me escondo bem.

18 novembro, 2008

Assassina de borboletas

Porque as borboletas precisam ser mortas, meu estomago não é céu. Eu já não me interesso mais pelo que sinto.

11 novembro, 2008

O futuro é passado

Preciso de abraços para me ressuscitar, de sorrisos e chateações. Preciso de lágrimas para me refrescar, do vento para me deixar levar por algo que nem eu e nem ninguém pode saber. Preciso nascer de novo pra conseguir ficar em pé.
A verdade é que por frustração, alguém muito sacana criou o chão. Cair no vazio doe menos – como eu gosto da inércia. Todos estavam perdidos em seu achado lugar. Era possível cair sem se machucar.
Talvez eu esteja anestesiada por já tantas e tantas vezes sentir algo parecido. Agora ele é só mais um desconhecido. Ver o futuro que desenhamos ser amassado e ir pro lixo é algo que no mínimo me trucida. Ainda não me acostumei a decepções. Minha memória poderia ser mais altruísta. O futuro agora não passa de passado, e o presente de solidão. Pra falar verdade, às vezes minto tentando ser metade do inteiro que eu sinto.

Depois de engolir tanto desgosto e decepção, eu odeio tudo o que vocês fazem, pensam; tudo o que vocês são. Vocês são uma mentira, e vocês sabem disso. Vocês inventam tantas situações, alimentam tantos sentimentos, substituem os outros como se fossem descartáveis e como se vocês fossem de verdade. Vocês não são de verdade. Ele não passou de mais um. Vocês se reúnem no fim de semana pra brindar cegamente algo que vocês não são. Pronto, falei. Eu deveria me sentir melhor agora. A verdade é que isso tudo me faz ficar acordada. E quando eu consigo dormi, acordo e penso no que não devia.

As coisas ficam muito boas quando a gente esquece. E sinto exageradamente esse gosto de nunca ter te tido. Minto, ter te tido pela metade e não ter sobrado nada. Dessa vez eu pensei que daria certo, pensei que teria o que escrever sobre o ficar de mãos dadas num dia qualquer, falar não sobre amor...mas, sobre amar.
O meu erro é que espero do amor essa sensação de eternidade. Descobrirei antes tarde que não sinto medo de amar. O que me dá esse pânico desesperador é a idéia de não poder amar, de amar a pessoa errada, de ser abandonada antes de virar pro lado, de não ser amada. Alguém me dá um choque? Só não quero chegar ao fim do mundo e não ter ninguém para abraçar.

E apesar de todas essas suas desculpas que não me interessam, eu sei que o amor verdadeiro é o amor impossivel. Não é um adeus, é só a realidade.

Eu te amei.

Futuro do Pretérito do Indicativo.

04 novembro, 2008

Entrevista com Shakespeare

Sejam todos bem-vindos a mais um programa! – aplausos e sorrisos.
Hoje temos aqui mais um convidado ilustre, irreverente e fantástico. Com vocês, William Shakespeare!

Luara – Não tenho palavras para expressar o quão nostálgica estou por ter sua presença em meu programa. Conseguir entrevistar o senhor no estado que se encontra é algo que qualquer um almeja.
Shakespeare - "Tudo o que nasce deve morrer, passando pela natureza em direção à eternidade”.

L – O senhor é considerado maior dramaturgo da Língua inglesa
e um dos mais influentes no mundo. O que o senhor acha disso?
S – “Ser ou não ser... eis a questão”.

L – Diga-me o que exatamente o senhor quis dizer com essa frase?
S - "Os homens deviam ser o que parecem ou, pelo menos, não parecerem o que não são”.

L – Todas suas palavras inspiram escritores da atualidade, sendo que suas obras são as que mais sofrem atualizações. Muitos de seus textos e temas, especialmente os do teatro, permaneceram vivos aos nossos dias, o que me diz a respeito?
S – “Não chegarão aos ouvidos do Eterno, palavras sem sentimento." – sorriso torto.

L – O senhor sempre foi um homem de poucas e profundas palavras?
S - “Homens de poucas palavras são os melhores homens”.

L - E quando descobriu o seu dom para escrever?
S - “As paixões ensinam a razão aos homens”.

L – Então, Shakespeare foi apaixonado?
S - "Sem saber amar não adianta amar profundamente”.

L – Pouco se sabe sobre sua existência aqui na Terra, embora o senhor tenha sido fundamental, ainda há muitos mistérios sobre sua vida. Há algo que possa nos afirmar?
S - "O maior inimigo do homem é a segurança." – observa ao redor – “Sabemos o que somos, mas não sabemos o que poderemos ser”.

L – As nossas dúvidas continuam...
S – “Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com freqüência, poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar”.

L – Não existe quem não conhece a história de Romeu e Julieta. Fale-nos das personagens dessa historia tão grandiosa e fatídica.
S - "Assim que se olharam, amaram-se; assim que se amaram, suspiraram; assim que suspiraram, perguntaram-se um ao outro o motivo; assim que descobriram o motivo, procuraram o remédio”.

L – Descreva esse amor.
S – “O Amor não é considerado um erro, mas sim algo inevitável. Por que se existe alguém que passou na vida e não amou, não viveu só passou”.

L – Realmente. E o amor de Romeu e Julieta prova que o verdadeiro sentimento existe.
S - "Ó poderoso amor! Que por alguns respeitos transformas um animal em homem e por alguns outros, tornas um homem em animal”.

L – Mas, por que não dar um final diferente para essa história?
S – (pausa) “O amor só é amor, se não se dobra a obstáculos e não se curva a vicissitudes... é uma marca eterna... que sofre tempestades sem nunca se abalar”.

L – Eu particularmente após ler sua obra me senti infeliz com o final trágico desse amor...
S – “Pode se viver sem felicidade... mas, não sem amor”.

L – Se Romeu pudesse dizer algo para Julieta agora, o que seria?
S – “Duvides que as estrelas sejam fogo, duvides que o sol se mova, duvides que a verdade seja mentira, mas não duvides jamais de que te amo”.

L – E tudo o que impedia esse amor lhe causou dor?
S - "Todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente”.

L – Algo mais que o senhor queira dizer sobre sua obra?
S – “O resto é silêncio”.

L – E o que o senhor aprendeu em vida?
S – “Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não pára para que você o conserte. Aprende que o tempo não é algo que possa voltar. Aprende que não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam...”. – suspiros – “A vida é muito curta! Passar esse momento de forma vil seria um desperdício”.

L – E o que o senhor aprendeu em morte?
S – “Existem mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia”.

L – A humanidade é algo que o inspira?
S - “Nós somos feitos do tecido de que são feitos os sonhos”.

L – E quanto a toda maldade que é injetada em nosso dia-a-dia?
S – “Não há nada bom ou nada mau, mas o pensamento o faz assim”.

L – Quero agradecer toda sua atenção, desculpe por perturbar seu sono eterno...
S – “O sono é o prenúncio da morte”.
L -... Foi uma honra recebê-lo aqui, meus parabéns por todo o seu trabalho e por saber o que fazer com as palavras. Descanse em paz.
S – “Dormir, dormir... talvez sonhar”.

L – Então, ficamos por aqui, agradeço sua companhia. Shakespeare estará dentre alguns minutos em nosso Chat para conversar com vocês. Tenham uma boa noite e até o próximo programa.


Aplausos. Eu disse aplausos!

31 outubro, 2008

O inferno é os outros

Bilac uma vez escreveu sobre o oitavo pecado: a vida sem amor. Desculpe-me Bilac, mas o MEU oitavo pecado é a negligência. Saber e não agir. Ouvir e não falar. Sentir e não perceber.

“Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de reis.”
(Machado de Assis).

24 outubro, 2008

Falar de amor não é amar

Eu tenho medo de amar. Não, eu tenho é a infeliz capacidade de me entregar intensamente. Eu tenho medo de amar, mas mesmo assim amo.
Esse é um tipo de problema que necessita de atenção aguda. Eu o resolvo apagando as luzes e indo dormir. Por isso escrevo, por isso devo morrer.

A gente devia morrer quando o coração se parte.

21 outubro, 2008

Aqui jaz eu, uma humana que agora voa

O último dia da minha vida...
...ou o primeiro da minha morte.


Não espero a morte, como a maioria de vocês – não que eu seja tão presunçosa, na verdade sou mais do que aparento. Na verdade. Bem na verdade sou muito mais que tudo isso que aparento, mas como sou egoísta e só distribuo, de boa vontade ou não, o mínimo de mim. Bem de verdade, é só o mínimo. -, é a morte que me espera.

Eu busco a virgindade das coisas gastas.
Às vezes eu me pergunto, não eu não sei o porquê, o dia em que vou fugir desse mundo. Eu até penso em me dar presentes, depois eu mudo de idéia. Eu sinto como se já tivesse vivido milhões de anos, como se já conhecesse tudo isso, como se já soubesse no que tudo isso irá dar, como se já estivesse aqui antes de estar. Meu coração está cansado – e um coração de 17 anos não deveria estar nesse estado.
Acho bobagem tentar viver como se fosse o último dia da minha vida, o que eu tento fazer é preencher meu passado. As horas passam. Não me preocupo em tentar adivinhar quando será a ultima vez que estarei nesse lugar. Busco por uma nova chance, uma nova vida. Mas, não aqui. Definitivamente, não é aqui.

É o último dia da minha vida, eu fecho os olhos, tudo o que aparece são fotografias. Laranja. Fotografias laranja. Lembro-me de tempos atrás, quando eu achava que tudo tinha conserto, que o resto da minha vida podia ser remendado. E quando eu vejo, eu sinto, eu lembro – das coisas que vi, das coisas que senti, das que não tive-, eu tenho a certeza que eu até amei. A gente esquece dos sorrisos que deu durante a vida, das pessoas que maltratou e nunca teve sequer a chance de pedir desculpas. A gente finge que entende, finge que cresce, finge que esquece. Mas, o último dia será sempre o último. Esta é a verdade.

As pessoas me perguntam: para onde voce vai? Enquanto eu tento descobrir para onde eu fui. As duvidas são muito longas, eu sinto falta de tudo que não sou. Uma dica; ser muito mais que tudo isso só é menos do que eu poderia ser. Não escrevo para te convencer com minhas palavras, o que eu tento fazer é convencer a mim mesma. Grande trabalho. Sempre fui meio teimosa. A eternidade nunca aceitou bem isso, nem o agora.

Como é o último dia, vou viver. Quero ver para crer. Nada será tão perfeito, acredito que irei decepcionar a morte também. A coitada me espera para sua coleção, eu sou seu trabalho. Não que eu seja tão presunçosa – risos. É que me subestimo, e sem o mínimo esforço. Será que meu sucesso para fracassos irá continuar depois da vida? O que eu vou esperar da morte. Uso o silêncio, um dos deuses mais lindos.

Breve uma despedida. Nunca fui boa o suficiente. Nunca fui boa em dizer adeus. As pessoas por fim traduzem isso com meu olhar - humanos são péssimos tradutores, se diga de passagem. Detalhes, quem se importa com detalhes. Terei algumas satisfações ainda, não sei bem ao certo como e quando. Não vou voltar. Juro que não volto.
Não tenho um último pedido, não tenho nada. Mas, deixo. Deixo tudo. Eu não sou como vocês, não espero o dia da minha morte, mas o último dia da minha vida. Desta vida. Por quê? Ora, por que o último dia é o dia que se deve esperar. E o dia de sua morte é o dia que vale a pena viver. Realmente viver.


Qual será a cor do céu, quando aqui eu enterrar meus sonhos?

14 outubro, 2008

Menos eu, menos que eu

Pouco é menos da metade.
Muito é quando os dedos da mão não são suficientes.
Indecisão é quando você sabe muito bem o que quer mas acha que devia querer outra coisa.

03 outubro, 2008

22 segundos antes do beijo

Fechei os olhos.

A vontade de hesitar é a mesma que a de fazer. Muita coisa pode acontecer antes dos lábios dele tocarem os meus, vinte e dois segundos que sucedem esse beijo faz o planeta Terra aparecer um feto. No olhar dele eu encontro a eternidade. No olhar dele eu encontro meu chão, meu céu, meu ar. Não importa o que aconteça, eu não consigo tirar meus olhos de você.
17 segundos.

Tem tanta coisa que eu quero te dizer, mas agora eu não preciso. Ele está se aproximando. Eu sinto a respiração que cambaleia entre os centímetros que nos separa. Ele está dando aquele sorriso torto, e eu não consigo pensar em mais nada. Cada pedaço dele está em minha mente. Vejo em câmera lenta todos os meses de espera por esse beijo, escuto todas as músicas que ele cantou para mim, embora eu sempre precisasse adivinhar o que ele sentia.
9 segundos.

Não importa o dia e nem as horas, eu trocaria a eternidade por um beijo seu. Você disse o que eu mais queria ouvir, mas será que foi a tempo? O que vai acontecer depois que seus lábios deitarem sobre os meus? Porque é você e eu, e todas as outras pessoas. Não importa o que escolhemos, não importa o que seremos e não importa o que perdemos. Importa o que sentimos.
2 segundos.

Você não sabe o que foi aquele beijo. Nem eu. Havia em seus olhos uma multidão de milhares de pequenos bons momentos - momentos nossos, noites de pouco sono, pensamentos soltos e o amor sentado escutando tudo, ouvindo a gente -, de repente, parou instantes para olhar. Para me olhar. Empurrei os seus olhos com os meus e ouvi o silêncio dos seus pensamentos, já não sabendo se aquilo que eu pensava era meu ou se era dele porque olhar nos olhos de um estranho freqüentador de meus sonhos é se deixar espiar por estrelas. Como se aquilo que eu pensava também já fosse tarde demais, meus pensamentos sugados pelos olhos do dele. Havia naqueles olhos uma correria inútil de tampar segredos e eu soube de todos eles, não por meio de palavras, mas por meio de silêncios. Eu soube que apesar dele não saber o que queria, sabia que o lugar dele era aqui. Eu nunca soube decifrar silêncios, mas posso tocá-lo com a ponta dos dedos. Assim eles ficaram, os segredos daquele olhar, no canto das coisas que eu pensava e pensava, antes de aproximar os meus lábios. Você não sabe o que foi aquele olhar. Os olhos dele eu nunca mais vi, não eram os olhos que me fitaram, de maneira fugidia, como na primeira vez. Eram olhos que guardavam perguntas inocentes, que guardavam palavras não ditas, que guardavam uma proteção e uma paixão, e eu quase arrumei de volta os seus cabelos, abotoei a sua camisa e perguntei se ele me olharia assim de novo se eu ficasse cega. Ele me ama.
Sorrisos são pontes que se abrem no rosto para o outro poder passar. E só por conta daquele sorriso eu atravessei a distância entre o meu rosto e o dele para encostar os meus lábios aos seus novamente. Meus lábios tinham gosto de sorvete. E os dele tinham meu gosto.

6 horas da manhã.
Abri os olhos. Ele nunca esteve aqui, mas meus lábios ainda sentiam os dele.

30 setembro, 2008

Distraidamente contrária

É óbvio que você está morrendo. Quando eu me noto eu já esqueço o porquê de tentar lembrar. Eu me distraio e me torno mais distante, invisto em mentiras disfarçadas para confundir o que sobra de humano em mim. Memórias às vezes me tornam alguém com pulso, embora eu negue a existência de vida dentro e fora de mim.
Não faço questão de ser alguém que te faça sorrir, você lembrara muito mais de mim se eu te beliscar. Ou não. Eu não quero que voce lembre de mim. Quando penso em ir meus pensamentos já foram.

Ao contrário do que todos pensam, eu ainda sonho. Mentira, sonhos só existem na padaria. Sonhadores são inúteis e sempre morrem mijados e famintos em hotéis imundos... Alcoólatras fingidos, que escrevem sobre algo que nunca tiveram a coragem de fazer. O meu fracasso se divide em antes e depois. Eu sou distraidamente ao contraria, escrevo coisas que eu quero que voce leia, mas digo o que eu não quero escrever.

Não aceito mais convites, não quero ser a primeira a sair da sua festa, não tenho mais roupas. Chego e reparo em tudo que ninguém nota e não me preocupo em fingir orgasmos ao ver o quanto você se importa com minha presença. Tenho medo de morrer e reencarnar em mim mesma. A verdade é que ser má coloca tudo nos eixos. Você até pode negar, mas no fundo todas suas ações altruístas não passam de desejos egoístas. Eu não abro mão do meu egoísmo.

Certos rancores guardo com todo carinho, não basta eu me recompor, em qualquer lugar eu estou. E vou. Eu sinto que o mundo é realmente amargo, tento desaparecer. Gosto de saber a verdade, como todo masoquista, e minto como qualquer humano. A gente nunca sabe o suficiente, algumas coisas te entorpecem e outras te deixam sem ar, o mundo me esqueceu. Eu não vou voltar. Não tente me aliviar, por mais que eu feche os olhos, a minha certeza é que preciso enxergar o que não existe. Um dos aspectos bons da vida é que ela acaba rápida. Todas as pessoas vão se perder, e ninguém vai conseguir me alcançar, se eu me distraio é por minha sobrevivência. Frases inteligentes não mudam nada, agora tente agir.
A vida é assim: uns choram outros vendem lenços.
No inicio eu passava por cima das pessoas, agora sei que o divertido é dançar sobre elas.

Sou à contrária do que não posso ser, quando olho pra fora da janela e sinto o vento, desgrudo de mim e fujo. Hoje vi um pôr-do-sol cheio de vermelhos e amarelos, e pensei: Puxa, como sou insignificante! O interessante é que ontem pensei a mesma coisa, embora estivesse chovendo.

23 setembro, 2008

15 minutos

Foi só o que eu pedi. Mas, ele não vai acreditar. O que fazer quando se tem tudo o que quer, mas não o que se precisa?
Então eu seco meus olhos vazios, e vou para baixo d’água. Não adianta, não sei explicar. As palavras traem o que a gente sente
Ás vezes, pequenos grandes terremotos ocorrem do lado esquerdo do meu peito. Não facilite com a palavra amor.

O que nos separa agora não é meros km, é algo muito maior. A pior distancia que pode existir: a do coração. Eu não fiz o que eu quis – caso contrário já estaria tocando pedrinhas na janela dele -, eu fiz o que eu tinha que fazer. Substituí-lo. Não. Apenas, substituir em mim o que pertence á ele. Talvez eu tenha demorado muito tempo para lhe jogar certas verdades, talvez eu perdi muito tempo por ter segurado a força tudo o que sinto, talvez. Eu sempre uso o talvez.
Embora, estivesse esperando. Há coisas que eu me negava e ainda me nego a dizer para ele de qualquer jeito, há palavras que eu preciso que ele leia em meus olhos. Talvez não haja tanta coisa por dizer mesmo tendo tantas. Ele precisa me sentir. Pessoas são feitas de água e medo. Eu que marquei um encontro com o amor, acabei encontrando a solidão antes.

Eu não sei o que vai acontecer agora. Sempre temos escolhas, e sempre escolho decepcionar. Deus sabe que não faço por mal. Ou não. Mas, eu me pergunto: que religião ou razão pode conduzir um homem a desistir de seu amor? Não desista de mim. Eu dizia que parecia uma despedida. Odeio quando eu acordo no meio da noite e começo a pensar em algo que eu não deveria. Odeio me pegar pensando em você.

Se todo o resto permanecesse e voce sumisse, eu deixaria de existir. Se todo o resto desaparecesse voce permaneceria em mim. O que te faz pensar que eu não tentei ser o melhor para voce – não pense em NX Zero agora, eu estou falando sério.
Sabe o que é o pior de ter o coração partido?...Não se lembrar de como você se sentia antes. Tente manter esse sentimento... Porque se ele for embora, nunca volta. A minha dor não sai no jornal, e meu silêncio se converte a suspiros. E eu grito pra você me perdoar. Quantas vezes ficamos com medo de partir, quantas vezes partimos com medo de ficar quantas vezes dizemos baixinho o que gostaríamos de gritar.

Eu só preciso de 15 minutos, engula sua covardia. Eu errei. Cede-me o resto dos seus dias. As músicas que voce sopra dizem tudo que eu preciso ouvir. Sempre foi você.
Por vezes, quando reflito sobre as tremendas conseqüências das pequenas coisas, fico tentado a pensar que não são pequenas coisas. Isso tudo significa muito, significa tudo. O acaso faz o tempo lento quando quero te encontrar. Eu não vou, eu não posso, eu não quero te deixar. Morremos de algo que gostamos. Você esta me matando.
- E agora, o que acontece a final?
- Voce espera.
Eu não sei o que vai acontecer agora, foram os 15 minutos mais asfixiantes de toda minha vida. Eu não sou igual a elas. E nunca serei. Tranco-me em quatro paredes.
Prefiro esquecer do mundo por hoje. Acho que é isso que gente normal faz todo dia. Só não esqueça de pensar em mim antes de fechar seus olhos.

Queria te abraçar agora. Eu te amo!

19 setembro, 2008

Nunca é para ser

Sofro de azar convulsivo sucedido por fracassos inevitáveis. E não há cura para isso. Talvez, algum remédio. Não gosto de remédios. Eu deveria ter nascido hipocondríaca e autodidata. Maldita! Maldita seja a seleção natural. Na verdade tudo isso e ruim de menos perto da sorte que talvez um dia eu tenha.
Sabe aquele tipo de coisa que você acha que nunca pode acontecer? É, é. Esse mesmo, algo como ISSO NUNCA VAI ACONTECER COMIGO. Pois é, comigo acontece. Já até faz parte da minha rotina, acredito que possa ser ate um distúrbio imunológico. Não sei se saberei viver sem isso. Veja bem, não estou me queixando, na verdade eu faço mais coisas do que só reclamar – mas, prefiro deixar subentendido. Para seu bem, caso contrário; terei que matá-los.


Fique claro que eu sou o azar em pessoa. Sim, pessoa. E digo que não é divertido – seria cômico se não fosse trágico-, embora, o humor e a dor entrelaçados a uma soberba frigidez se torne minha maldita sorte. Tudo de errado que pode acontecer com uma pessoa não acontece comigo. Acontece como se fosse com duas. Diria até que é uma carga um tanto quanto incomoda. Isso consome muito do meu tempo, esse meu dom para problemas é humilhante. É tão patético que quando eu estou livre – o que acontece raras vezes. Eu disse rara. -, me anseio para encontrar algum, transformo até a solução num problema. Bem patológico.


Outra frustração que eu tenho é aquela ‘ideologia’ que diz que quando voce realmente quer algo, o universo inteiro conspira ao seu favor. Não que seja legal, mas gosto da idéia de te dizer que isso é uma grande, abobada e cretina mentira – mas, se te consola, eu também já acreditei em Papai Noel.

Pois é. O universo esta andando e cagando para seus sonhos, para seus problemas, para sua vida. Até porque ele deve estar mais preocupado em se manter vivo, alias coisa que se tornou bem mais difícil nos últimos anos. Não, não. Eu sou realmente fã da globalização. Não coloque palavras nos meus textos.
Portanto, aí é que está, o pior de nossos problemas é que ninguém tem nada a ver com isso. E nessas horas voce percebe o quanto está sozinho, e se ainda não ficou, relaxa. Seu dia vai chegar.

Odeio a idéia de planejar. Tenho que fazer um esforço fora do comum para me manter distante de planos. Idealizar é quase um parto por aqui. Tudo o que eu planejo NUNCA dá certo. Não culpo ninguém, nem mesmo meu pessimismo - os unicos otimistas que eu conheço tem menos de 10 anos. No fim sempre estou certa, porem admito que torça para não estar. Tento não adotar a idéia de que nunca é para ser. Mas, não é fácil. E ainda vêm uns miseráveis e tentam me convencer de que se não foi é porque não era pra ter sido. Que Deus sabe o que faz. Oh, bendito seja o seu Deus. Só não entendo porque ele não te forneceu um cérebro. Querem que eu acredite na idéia de destino. Então me diga lá, se Deus realmente tem um destino para cada um de nós, o pecado não existe. Correto? Nada há de errado em pôr-se à parte e pensar. Não se pode pensar e bater em alguém ao mesmo tempo.

Quem cala consente.

O que me resta é o tempo. Tento a sorte porque o azar é inevitável. E não vou na fé, vou na vontade.

14 setembro, 2008

Após

Depois de alguns instantes existem coisas que voce deve saber e outras que voce deve fingir que nunca existiu.
Você não sabia que o homem chegou à Lua.
Que a vida é uma contagem regressiva.
Que Berlim já foi duas.
Que na Idade Média a Igreja vendia lugar no céu.
Que homens e dinossauros nunca conviveram.
Que muitos remédios não curam, mas viciam.
Que o voto do povo salvou Barrabás e condenou Jesus.
Que computador foi criado para resolver problemas que não tínhamos.
Que o Sudeste alaga e o Nordeste seca.
Que as pessoas dizem eu te amo sem querer dizer nada.
Que sexo pode ser feito sem amor.
Que o cientista que inventou a bomba atômica recebeu um prêmio por isso.
Que somos divididos em 1° e 3° mundo.
Que você vai fazer de tudo para não repetir os erros dos seus pais.
Que você, eu e eles iremos morrer.
Que Getúlio saiu da vida para entrar na História.
Que esmola é o imposto informal da injustiça social.
Que as pessoas irão te fazer sofrer.
Que pessoas servem para isso.
Que algumas pessoas não deveriam existir.
Que somos julgados pela aparência e condenados pela cor da pele.
Que o homem ainda não decidiu se veio do macaco ou de Adão e Eva.
Que todo mulçumano deve ir à Meca pelo menos uma vez na vida.
Que enquanto voce respira cerca de 150 crianças morrem.
Que se você tentar respirar mais devagar não irá funcionar.
Que são grandes as chances de alguém estar lembrando de voce, mas são muito maiores as chances desse alguém nem saber que voce existe.
Que quem faz aniversario no natal não é Papai Noel.
Que o cinema já foi mudo.
Que existe Aids.
Que não existe cura.
Que as pessoas sentem medo.
Que as pessoas sentem frio.
Que as pessoas sentem fome.
Que as pessoas sentem falta.
Que eu não sinto nada.

10 setembro, 2008

Só o que me resta

Hesito entre duas palavras, escolho uma terceira e no fim digo o sinônimo. Meu mundo se resume a palavras que me perfuram, a canções que me comovem, a paixões que já nem lembro, a perguntas sem respostas, a respostas que não me servem, à constante perseguição do que ainda não sei. Meu mundo se resume ao encontro do que são terra e fogo dentro de mim, onde não me enxergo, mas me sinto.
Se você perceber qualquer tipo de constrangimento, não repare, eu não tenho pudores, mas no raro, sofro de timidez. E note bem: não sou agressiva, mas defensiva. Impaciente onde você vê ousadia. Falta de coragem onde você pensa que é sensatez.
Não é por nada que olho: é que gosto de ver as pessoas sendo. E eu morrendo.

Pergunto-me se existem outras pessoas como eu. Entristece-me pensar assim, ou na verdade sou egoísta o suficiente acreditando que só eu sobreviva a tudo isso que não sei explicar. Tento acordar. “Bom dia tristeza! Você veio me ver.” – patético.
Mas mesmo assim, sempre pinta um momento qualquer em que eu esqueço todos os conselhos e sigo por caminhos escuros. Estranhos desertos. E, ignorando todas as regras, todas as armadilhas dessa vida urbana, dessa violência cotidiana (se você me assalta, eu reajo).
Um olhar, uma lágrima que cai, um abraço… Isso é muito pouco na vida. Então, isso vale mais que tudo para mim. Tempos atrás era muito mais fácil tentar ser feliz. Desde pequena, sempre quis voltar a ser criança. Porem, me esmaga o fato de muitas vezes constatar que o melhor da infância foi ter a abandonado. Eu bebo contradições. É relativo. Voce não precisa entender.

Muitas vezes me indigna o fato de não ter nenhum dom. Mas, eu tenho um ‘poder’; segundo muitas pessoas que tentam me animar, me mostrando o quanto eu posso ser importante, o quanto posso ajudar – se eu te contasse voce não acreditaria; então me pergunte se voce quiser detalhes.
Com o decorrer do meu crescimento fui conhecendo mais palavras, fui me embebedando de contradições e fui aprendendo, graças a Deus, a me defender. É o de mais agradável na natureza humana; chama-se tortura psicológica.
Meu sonho é ser uma escritora repugnante, indigesta, ramosa... Ser ovacionada, rejeitada, ver as pessoas se entupindo dos meus contos estúpidos, desabafos dramáticos e cretinos, histórias sem sal e vomitando aos meus pés...má sorte, destino, praga, olho gordo, inferno astral... Chame do que quiser, eu só quero acordar. Sou uma mentirosa, egoísta. E terminou a conversa.

Vou ser má, porque ser boazinha está fora de moda. Ser odiada me favorece muito mais, afinal não sei lidar com o amor. E eu te pergunto, eu me pergunto: o que me resta?
A resposta vem logo depois. ESCREVER. Só me resta escrever.


Nota da autora: Nem sou má, é tudo marketing.

05 setembro, 2008

Monera

Talvez seja até angustiante todo o eufemismo que eu aplico a mim mesma. Pôr em evidencia todo esse tino que me faz cambalear não amortece tudo o que sinto. Eu, uma partidária do idealismo, minha mania de poetizar a banalidade alheia. Essa idéia de que todos são personagens de algum romance barato. Estou situada no limite entre viva e não-viva.

Quero poder escrever tudo o que penso, tudo o que sinto. Mas, a verdade é que não escrevo. Gostaria de saber por que somos sinceros só quando pensamos. O pior de tudo, é que nunca sabemos quando vem a hora da morte.

No fundo de todas as coisas só existe esta verdade triste: nós vivemos na solidão – se você não faltou à aula de biologia ou grego, o titulo fará algum sentido.

Eu lido muito bem com minha solidão, ela nunca se queixa do que eu penso, de como eu lido, do que eu vejo. Ela aceita tudo. E não é isso? Humanos adoraram se relacionar com o submisso, é fácil. Enquanto algumas pessoas se preocupam em como banir a solitude, eu me desespero com todos meus amores indefinidos. Deixa o coração um tempo alegre e perturbado e tem o encanto fugido e misterioso de uma música ao longe...

Outras lágrimas aparecem e seguem a primeira no brinquedo de patinar pelo meu rosto. Voce precisa compreender o grande precipício que existe entre o sentimento de solidão e o estado. Não, eu não vivo esse isolamento, eu o sinto. Ninguém ao meu arredor é capaz de se fazer presente – não de fato. Ninguém. -, provavelmente porque eu não estou aqui. Provavelmente nasci no tempo errado, no corpo errado, no mundo errado. Oh Deus, como eu sou errada. Creio que faço Darwin e Nietzsche chorarem.

Quando queremos olhar tudo, acabamos descobrindo o que há de feio no mundo. É engraçado. Vivemos com desilusões. O tempo é responsável por elas tanto quanto as outras pessoas.

Aprendi a disfarçar temporariamente tudo isso com a leitura, os versos, os poemas, os amores... Tornei-me indiferente a solidão, as pessoas e ao chão. Tudo sem importância. Porem eu sei, que o bonito de fato não é um verso de amor, mas sim o amor em si. O amor nos livros e nos poemas é muito ridículo para quem lê e não está amando. Mas o amor em si é a coisa mais bela – cretina, suicida, repugnante – do mundo. E digo mais, só quem não pode amar é que escreve versos de amor. Estando sós, ou não.

02 setembro, 2008

Alternativa D

A sala era clara e gelada. As cadeiras azuis. Entrei e já sabia bem onde ia sentar. Na parede, quarta classe. Sabia exatamente o que esta fazendo ali, estava mais fria que o normal, nada que declarasse o quanto me importo em me destacar agora.
Existem mais pessoas além de mim, sempre quando reparo a atmosfera em que me encontro, imagino o que cada um que se está ali pensa. Talvez meu silêncio esbarre com alguém, só como de costume.
Não quero mais que todo mundo tentando adivinhar o que sinto, o que vivo e quem sou.

Entregaram a prova. Pego a caneta, brinco de inventar uma assinatura. Do meu lado direito, quinta classe, está sentado um garoto. Ele parece intimidar o resto da turma, menos eu. Ele trouxe uma caneta e um pacote de tridente de hortelã. Se não tivesse cansada de tudo, teria certeza que ele fazia barquinhos de papel com as embalagens do chicle. Eu podia sentir ele, e escutava um grito, algo como: ‘eu falhei em tudo!’, vinha dele. Talvez, ele ache que não mereça a oportunidade de responder essas questões, talvez ele viva como um condenado, como se já tivesse aceitado sua sentença. Injusta e covarde. Mas, ele olha pras mãos com expressões que dizem, ‘eu sei que mereço isso’.

Encaro a prova em cima da minha mesa. Estou preparada, começo a ler. De aparência nada me amedronta, subestimar as coisas é um dos meus maiores e mais frustrantes defeitos. Eu cuido a hora.
Volto pro garoto, tive a impressão que ele esta lendo a prova. Volto para minha prova. Uma garota da outra fila me chama a atenção, pude perceber que a dele também. Enrolado na mão, ela usava um terço, sobre a mesa uma imagem de santa e perto da garrafinha d’agua estava santo Expedito. Flagrei o sorriso torto do garoto enquanto analisava a menina. Ele inocentemente olhou para cima, posso apostar que estava verificando o que já sabia: estamos sozinhos e Deus não passa cola.

Comecei a redação, fiquei satisfeita pelo tema proposto ser algo que eu tenho facilidade, mas isso não quer dizer que minhas palavras no papel vão se comportar. Então, só escrevo. O garoto também escrevia e por alguns momentos ele me pareceu disposto, escrevia com uma segurança e uma delicadeza. Gostaria de saber o que ele estava dizendo no papel.
Talvez depois da prova eu pudesse esperar por ele no corredor, talvez pudesse dizer algo como: ‘eu sei bem o que você esta sentindo’ ou ‘que grande merda é tudo isso, você não acha?’

Escrevo tudo, trocando as pessoas. Mas, elas sempre me entendem. Ou não. E com isso me justifico, e uso como desculpas. Estar aqui é importante para mim, e ser intelectual é muito diferente de ser inteligente. Eu sei que vou conseguir, porque é o que quero. Pelo menos, morrerei tentando.
Falta pouco pra terminar o tempo que nos é concedido. Sobre minha mesa há vestígios de borrachas e pensamentos. Irei para o inferno por escrever pensamentos nas classes? Ok, não me responda.
Sobre a mesa do garoto está só ele. A prova e a caneta não têm mais nenhum significado. Acabei minha prova, poucos restaram na sala. E me pergunto por que ele está entre esse resto. Ele levantou, se aproximou do fiscal e entregou o gabarito. Mas, a redação não. Apesar de ele ter um charme escondido, não entendi o que ele realmente queria. Afinal, era inevitável reparar que pelo menos uns três anos nos diferenciavam. Ele era um adulto. Um frágil e estúpido adulto. E isso não seria uma atitude sensata. Por que é isso que se espera de um adulto. Ou não.
Ele saiu porta fora. Eu entreguei a minha. Eu saí. Parei entre o corredor, ele estava no outro pólo. Num movimento planejado e harmonioso ele amassa a folha de redação e joga no lixo. Por alguns segundo achei que talvez o conhecesse. Mais do que qualquer coisa. Ele desceu as escadas e sumiu. Eu fiquei ali - tem gente estranha por debaixo do mundo.
Depois do efeito mortificado de minhas pernas ter cessado, fui em direção a lixeira. Peguei a redação, e nela só tinha uma frase escrita: Talvez ano que vem!

29 agosto, 2008

Cantotubo

Esta prosa é do Will (http://mesmamesmicedesempre.blogspot.com/ ).
Como ele mesmo disse 'Falamos do mesmo assunto, de maneiras e visões diferente.... acho que a idéia se manteve... o tema, mesmo mudado, continuou o mesmo.... '
Bem interessante a esperiencia de trocar palavras, visite o blog dele, você irá adorar e ver a minha versão desse cubículo.

Cantotubo

Pareciam poucos
um canto, um cubo
Mas contando
cada cantocada lado, sempre calado
retrato-quadrado
uma históriaa memória
Era um cubo de tudo.
Até mais: um cubículo.
Que mente!!!

27 agosto, 2008

Honestamente desonesta

Algumas pessoas ouvem suas próprias vozes interiores e vivem de acordo com o que ouvem... Essas pessoas tornam-se loucas ou lendas. Dificilmente creio que alguém lembrará de contar minha história, isso é muito injusto. Poxa, eu me esforço. Não quero só entrar na hístoria, não. Quero fazer historia. E louca. Tenho tanto bom senso que minha loucura só se manifesta depois da meia noite. Existem três formas de se fazer às coisas. O jeito certo, o jeito errado e o meu jeito. Talvez de alguma forma menos formal ou digna.

Eu sou desonesta – e sincera também. Se voce for pedir minha opinião sobre alguma roupa, pode apostar que serei muito clara e objetiva. - E pode-se sempre confiar num desonesto, porque vocês sabem que ele sempre será desonesto. Honestamente, são os honestos que devem ser vigiados. Porque nunca se sabe quando eles farão algo incrivelmente estúpido!
É legal o que acontece quando você para de ser quem você pensa que é, e começa a ser quem você é de verdade.

Não existe um destino, apenas caminhos diferentes. Algumas escolhas são fáceis outras não, mas as que realmente importam são aquelas que nos definem como pessoas. Não sei o quanto disso me qualifica como má, mas, sempre prefiro o Darth Vader.
Acho uma perda de tempo à preocupação das pessoas de mostrarem o quanto são boas, o quanto são capazes – eu não tenho que provar nada a ninguém -, vocês se preocupam em transbordar as qualidades mais cretinas, inventar uma postura honesta, preocupada e altruísta. Acho muito mais inteligente expor seus defeitos, se torna mais divertido e consequentemente, acredito que se fosse assim o mundo seria um lugar melhor, mais fácil de lidar. Um lugar menos sujo. Porque lidando realmente com nossos demônios é que fica mais fácil de consertar, de entender e de desfazer. Isso tudo é uma grande maldade, se pergunte como voce contribuiu para todo esse Inferno. O cara que é bom se preocupa em ajeitar o que esta ruim, ele não precisa se preocupar em quanto já é bom. Isto esta me confundido.

Algumas coisas são verdadeiras, acreditando nelas ou não. Dê-me dinheiro que faço poesia, te ensino a não chorar e brinco com seu cachorro. Por que minha maldade não existe para afetar os outros, só faço mal a mim mesma. Mas, nada posso fazer para evitar que meu plano atinja pessoa que não deviam estar aqui. Eu já as mandei embora.
É difícil, não dá para planejar, você precisa observar as pessoas, ficar de olho nelas e protegê-las. Nem sempre a gente sabe o que precisa. É a grande chance de consertar uma coisa que não seja a sua bicicleta. Dá para consertar uma pessoa. Mas, agora estou muito ocupada tentando me destruir. Maldito egocentrismo, costuma me derrubar da cama.
Eu tenho medo de mudar, de pensar que as coisas podem mudar. O mundo não é feito somente de merda! Mas é difícil pra quem se acostumou com as coisas como elas são. Mesmo que sejam ruins elas não mudam, então as pessoas desistem, eu desisti... Quando isso acontece todo mundo sai perdendo.

24 agosto, 2008

Ex-romântica

Num mundo cada vez menos sólido, os vínculos humanos se tornam mais frágeis e voláteis. Então, não diga que o problema sou eu. Tão pouco a solução. Você entende, o mundo só parece o conto de fadas que ele não é. Muita gente diz eu te amo sem querer dizer nada.
Todos nós temos um lado que não devemos ser amados. Arrisco a dizer que em mim seja por inteira. Mas, eu estou gritando, as pessoas que mais precisam de amor, são as que se encontram dentro de mim.
Nem venha com piedade, porque piedade não é amor...

O amor pode nos matar, pode nos separar, mas se tivermos sorte pode nos reaproximar. Às vezes o amor é inesperado e imprevisível, e às vezes você só tem que entrar com o coração. E torcer para dar certo... Pensamento positivo não é algo que funcione no Brasil.
Então nos apaixonamos por alguém que não podemos ter, e que nunca, eu disse nunca, vai te enxergar ou até mesmo te amar como você verdadeiramente queira, então fantasiamos que um dia essa pessoa vai perceber o que estava perdendo e que todos os seus sonhos depois disso irão se realizar como num maravilhoso filme.

Mas, esse dia nunca chega e antes que perceba o tempo passou, você desperdiçou sua vida, seus amigos por alguém que hoje em dia passa na rua e você nem enxerga. Assim nos tornamos mais uma alma que pesa o mundo, me assumo como ex-romântica, porque flores – as que nunca recebi-, cartas – as que nunca recebi -, amor – o que nunca recebi – não irão me convencer a me entregar. Não por medo, mas porque sou sagaz o suficiente para diferenciar as palavras que são ditas e levadas pelo vento. Mentiras caramelizadas não me interessam. Ninguém deseja saber de verdade como é se apaixonar, porque é um saco. É como um diamante; por fora parece lindo, mas por dentro é duro, cheio de arestas e cortante. O ato de verdadeiramente amar alguém nunca deveria ser confundido com uma fase agradável. Amar alguém é tão doloroso e decepcionante quanto é conhecer a si mesmo. É provável que seja a única coisa que vale a pena fazer, mas nem por isso quer dizer que será um passeio.
É assim que funciona: você é jovem até não ser mais. Você ama até não amar mais. Você tenta até não poder mais. Você ri até chorar. Você chora até rir. E todo mundo deve respirar até o último suspiro.

As pessoas olham as coisas como elas são e se perguntam Por quê. Eu olho as coisas como elas poderiam ser e me pergunto Por que não? Sinto um soluço e a vontade de ficar mais um instante. É vazio, tudo é vazio, as coisas só vêm para ir embora, todas as coisas feitas precisam ser desfeitas, e elas precisam ser desfeitas simplesmente porque foram feitas. Assim são os amores, promessas e desejos. Experimente ficar despreocupado, quando você menos precisa que alguém invada sua vida, alguém invade. E não precisa se justificar, embora voce a acuse, já está tarde para manda - lá embora. Prestamos atenção só quando esse alguém precisa nos deixar, e ai voce percebe que o pra sempre é muito tempo, e que voce precisa trabalhar na segunda. E o que estava feito, se desfaz. E nunca mais, eu disse nunca; vai voltar a ser a mesma coisa...


..Ah, o amor!

22 agosto, 2008

O muro


Em um lugar que não importa havia uma bailarina. Ela era singular de tudo que você acha que já viu, ou de tudo que você acredita que sentiu. Alguém sozinha e frágil, de olhos brilhantes que se alegravam em caçar rabiscos nas nuvens, e dançar sob o vento. Tudo ao seu redor era cinza, delicadamente cinza. Quando ela dançava esquecia todo o abandono, o mundo se calava. Tudo o que ela escutava era uma canção, qualquer uma.
A pequena sentia dor, não costumava ralar o joelho, embora o que doía nem ao menos sangrava. Era todo o vácuo que preenchia seu peito. Ela não conhecia ninguém, estava presa e acostumada com tudo isso. Acostumada a não ter coração.
Tempos atrás ela mesma fez sua prisão, um grande e forte muro construído com todos seus medos e mágoas. Não sei como ela conseguiu apesar de tudo, mas seu mundo não girava; ele embalava a bailarina e ela dormia com a esperança de nunca mais precisar abrir os olhos.

Em um dia lilás – dias lilás são os mais legais depois dos dias laranja -, a bailarina acorda com o barulho das estrelas que brincavam de se esconder atrás do sol, ela acordou triste e seus olhos derramavam lágrimas de chocolate, quando de repente um principezinho que passava por ali a ouviu chorar.
O amor nasce de quase nada, morre de quase tudo.

Ele gritou pro outro lado do muro como se esperasse um copo d’agua no meio do deserto, queria saber quem chorava. Silêncio. Nenhuma resposta:

- Por favor, não tenha medo. Vamos, me diga.
Silêncio.

- Eu não te farei nenhum mal – ele fazia gestos e ficou na ponta dos pés como se pudesse ajudá-lo a construir alguma relação bilateral –, eu tenho algumas jujubas. – humanos, sempre apelam para a soberba.
Silêncio.

- Vá embora e me deixe em paz – os soluços quase a impediram de gritar.

- Não chore, está tudo bem. – ele dava pulos fracassados contra o muro – Eu estou aqui.

- E o que me importa, você não estava antes.

- Estou agora.

- E não estará depois! (!!)
Silêncio. O dia mudou de cor, ficou amarelo.

O principezinho tentou colocar o ouvido mais próximo de uma pedra no formato de um chapéu, não escutou nenhum detalhe. Vasculho o muro por uma brecha entre as pedras. Nada encontrou.
Ele era alguém tão só quanto ela, porém tinha coração, mas sentia a mesma dor. A bailarina sonhava no dia que poderia fugir dali e ir à busca do seu. Ou quem sabe comprar um no mercado negro. O comercio de órgãos está em alta.

- Já disse, sai daqui e pare de me jogar suas palavras – ela já podia sentir a intensidade do principezinho.

- Não vou embora. – disse ele.
O principezinho de fato tinha muita coragem e prometeu para a bailarina que faria qualquer coisa para tirá-la dali. Ela já não acreditava em mais ninguém.

- Não fale besteira – a sua voz estava baixinha, a bailarina queria que dessa vez fosse diferente. Mas, por que haveria de ser? – outros antes de voce já tentaram. Mais fortes, mais inteligentes, mais altos... Todos fracassaram. Eu mesma já tentei escalar esse muro, acabei desistindo no meio do caminho por não saber mais a onde apoiar meus pés. – Agora ele desistira, argumentos não sustentam os fatos.

- Você me subestima. – ele sorriu -, eu sou a exceção.

- E me diga, da onde voce tira tal pretensão?

- Todos os outros que tentaram, desistiram porque não era eu – e então o leão se apaixonou pelo cordeiro-, porque só eu tenho o seu coração.
Silêncio.A bailarina não podia acreditar.

- E como você sabe que esse coração me pertence?

- Porque eu o encontrei em uma possa qualquer e levo desde então no bolso, e hoje quando passava por aqui ele começou a pulsar, e me trouxe até você.

O principezinho não iria desistir.

- Eu não vou te abandonar – e dizendo isso ele a fez sorrir.

O principezinho queria conquistar o mundo, enquanto a bailarina fugir dele. E apesar de toda sua valentia e amor, de veras o muro era muito alto. Impossível para o principezinho escalar ou tentar derrubar, então fez uma promessa: todo dia iria até o muro e cantaria para a bailarina poder dançar. Todo dia ele atiraria uma rosa para o outro lado do muro para ela saber que ele estava ali. E apesar de tão distantes, juntos esperariam até o dia que o principezinho fosse grande o suficiente para chegar ao outro lado.

- Você só precisa confiar em mim – dizia ele com a voz incrivelmente doce.

De um lado ela, do outro ele. Entre os dois um muro cruel. E mesmo que o mundo estivesse entre eles, nada poderia detê-los. E nada fará a bailarina esquecer o quanto o principezinho a fez sorrir.

- Eu vou te esperar o tempo que for. – disse por fim a bailarina, desejando mais que tudo estar nos braços dele.

O dia mudou para sua cor favorita.

11 agosto, 2008

Muda de suspiros

Deixar os outros em paz não quer dizer indiferença, mas apenas demonstração de inteligência e maturidade. Não importa a onde eu vá, todos parecem estranhos. Somos responsáveis por aquilo que cativamos, mas ele deixou a flor. O Principezinho a deixou. Enquanto me sinto, não tento cativar nada nem ninguém, uso o silêncio de meus suspiros para não ter que gritar com minhas lágrimas. Porque nos abandonamos. – pense em uma interrogação ali.

Tenho tantas coisas importantes para dizer. Mas, é tão importante que prefiro não dizer. Só se é sincero aquilo que não se diz. Então isso também não é sincero. Também não. Só o silêncio é sincero. É preciso escutar o silêncio, não como um surdo, mas como um cego. Minha Nossa Senhora, que coisa bonita que eu falei. Teria sido linda se eu tivesse ficado em silêncio. O silêncio das coisas tem um sentido. Quem não entende isso, não entende nada. É preciso entender um olhar. Nunca fui boa em decifrar gestos.
É tudo o que eu digo, ou o que eu não digo. Não que eu ache atraente as coisas subentendidas, mas acostume-se, esse é meu silêncio. Quem tiver ouvidos para ouvir que ouça.
Sabe, a música também é silêncio. Bach sabia disso, Mozart também. Beethoven só soube quando ficou surdo – que Cláudia Leite a descubra, pelo amor de Deus. -, o vento não faz barulho? E o que é o vento senão ar? A música é o silencio em movimento, sendo assim faço dela minha cúmplice, e das palavras minha sombra, do meu silêncio meu óbito. As palavras estão em quem fala – a música em que a sente – e em quem escuta. O silêncio fica entre os dois, intocado, um silêncio enorme, intransponível. Ao passo que a música está entre nós, isto é, no que resta além de nós. E o resto é silêncio.

Sobram tantos medos que nem me protejo mais. Mas, decorei com exatidão como um passado que eu mesmo criei; tudo aquilo que ainda não possuo. De tudo só fiquei com meu silêncio, bendito o seja. Acredite, ficar calada não é tão ruim. Mas, não digo para você se tornar mudo, apenas use seu silêncio. Podemos até nos comunicar, aprecio pessoas que me deixem em paz. Prefiro que não me cative porem te odiarei se voce não tentasse. Mas, que fique claro que você não é uma flor, então não irei te abandonar. Pelo menos não até que voce o faça.

05 agosto, 2008

Encontro marcado

Calei-me.
Eu me recuso a escutar o que você tem a me dizer. De nada adiantou; a seguir um depoimento de alguém que eu nem sei se existe. Achei isso uma brincadeira de mau gosto.

- Você é mais capaz de se fazer amada do que de amar. Sua lógica é irresistível, mas impiedosa, irritante. Sua compreensão do mundo, da vida e das coisas é surpreendente, seu olho clínico é infalível, mas voce é uma garota refreada, está sempre na defensiva – risos -, tem uma aura de pureza não conspurcada, porém é ascética demais, aprimorada demais. Não se contamina nunca, e isso humilha todo mundo – pausa para analisar a poeira que caminhava entre seus pés -, só que ao mesmo tempo não tem como não se prender ao seu olhar, intenso. Voce é um poço de contradições. Chego a acreditar que não há sensibilidade capaz de dar conta dessa tonelada de sensualismo. Tudo em voce é ostensivo. Mas, não posso esquecer de dizer a sua capacidade de amar anonimamente, sem pedir nada em troca, sem reconhecimento, sem perdão. – Ele estava buscando o meu olhar, eu o escondia. Como ele podia falar essas coisas? Continuou com um falso sorriso exuberado.
Dá-me medo o fato de pensar que pra sempre voce irá permanecer intocada, pensar que voce nunca vai superar esse horror ao compromisso, porque voce se julga uma comprometida com a dor, tem uma missão a cumprir, é uma escritora. Voce se torna extremamente forte quando justo lhe falta os braços, sua simpatia azeda e seu sorriso encantador, mas é cheia de arestas que ferem sem querer. Seu ar de quem está sempre indo a um lugar que não é aqui, para se encontrar com alguém que não sou eu. Seu desprezo involuntário, sua inteligência incomoda, seus argumentos até mesmo para o silêncio. Esse orgulho. – Eu queria sair correndo, mas ele estava me prendendo. Fechei os olhos. Ele buscou ar como se buscasse a si mesmo. Continuou... - Você é seu orgulho. Torna-se miserável, talvez desgraçada, porque se acha incapaz de ser feliz e amar sem renuncias, pelo orgulho, ou pela solidão, pelo medo.
Então eu falei:
- Voce é masoquista. Não sabe de nada – ou quase nada -, vou continuar largada, desesperada, desarvorada... Seu depoimento a meu respeito é menos interessante do que minhas próprias constatações. – pela primeira vez fingi que o encarava.
- Você é um demônio. – Seus olhos brilhavam, eu por algum momento queria que ele fosse real.
- Concordo – lancei um sorriso diabólico -, perto de mim o Diabo é bebê de colo.
- Eu te amo. – ele suspirou, seu tom era de alivio.
- Já eu acho uma perda de tempo me amar. – soltei meu cabelo e virei as costas.
- Perda de tempo é voce não deixar eu te amar absurdamente! – ele gritava, e sua voz cada vez mais distante; assim como eu.

31 julho, 2008

Interurbano

Caminho pela casa, quase como uma paranóia, como se estivesse fugindo de mim. Encontro-me em um labirinto coberto por um tapete de gelo, onde pateticamente derrapo entre a sala e meu quarto. Sigo até a cozinha, como se fosse encontrar as respostas dentro da geladeira ou algum alívio instantâneo num pacote qualquer da dispensa. Bebo água, mas ela não me mata a sede. A sede do desespero. Sustento essa postura fracassada, porque nem ao menos tenho força de olhar para fora da janela.
Uma ligeira impressão. Parece que quando simplifica, quando se iguala e humaniza, quando já prefere ficar a sair; meu gostar se torna tão incapaz!
Vou amontoando os segundos e encarando o relógio. Perto de mim o Leão Covarde do Mágico de Oz se torna uma espécie de exterminador do futuro fundido com Chuck Norris.

As pessoas ainda existem por aqui, mas me acostumei a ignorá-los e eles acabaram desistindo de mim. Acha que é assim com todos nossos sonhos e pesadelos? Tem que alimentá-los para ficarem vivos? – estou realmente apavorada que a idade leve junto com ela todo o escárnio que em mim habita.
Tento não pensar, volto pro quarto pego meus fones de ouvido, volume máximo do play. A música me lembra ele, maldita a seja. Mas, algo me impede de passar para a próxima. Eu sou tão sacana que sacaneio a mim mesma. Não adiantou, ela não me ajudou a parar de pensar. Joguei-me no chão, me sinto dentro de um clipe de Enrique Iglesias. Tento tirar proveito dessa situação, mas já se esgotou, não consigo mais. O celular está em minhas mãos. Espero ele tocar. Espero ele me ligar.
Sempre dói mais ter algo e perdê-lo do que não ter aquilo desde o começo. Pratico infinitas vezes o discurso que planejei para tentar convencê-lo a me deixar. Embora, quem eu esteja tentando convencer é a mim mesma. Quero que ele me ligue, e quando eu atender vou dizer algo do tipo “por que você ligou?” – por favor, me de um tiro bem no meio da minha testa -, quando ele perguntar como eu estou, vou esganiçar a voz e perguntar o que ele quer de mim.
Talvez depois da milésima segunda tentativa de dizer para ele me deixar ele vai só escutar minha respiração, esperar e dizer: “só te deixo se você disser que não quer me ver, só se você não quiser”. Nessas horas costumo responder com o silêncio, mas sou covarde o suficiente para não dizer com todas as letras: EU NÃO QUERO. Porque, eu realmente não quero, inferno!

Já estou largada no chão. “Não pode acabar assim, não admito, não quero!” – sinto que se eu estivesse na frente dele agora, ele tentaria me convencer de outro jeito. Fecho os olhos, por que não tentar? -, todavia ele não se encontra aqui, ele não esta aqui. Isso predomina. O que pode acabar? Nada começou. Respondo tentando não me enxergar: “Não me importo”. Ele estava esperando por isso, preciso melhorar minhas frases feitas. “Não importa parece ser seu lema”, ele age como se me conhecesse. E me sinto culpada. Ele só age assim porque de alguma maneira eu soltei, eu cedi, eu deixei que chegasse até aqui. Foi descuido, não tenho justificativa, me responsabilizo. Errei, há tempos não cometia isso, mas dessa vez de alguma maneira ele conseguiu escalar esse muro, ele quer pular. Eu não posso deixar. Do outro lado só tem espaço para mim.
Respondo em prestações, “É, uma ideologia”. Está pra nascer o cara que vai me colocar num beco sem saída, tenho argumentos o suficiente para fazer ele me abandonar, se isso acontecer agora não será pior depois, prefiro antecipar o drama antes que ele se torne mais um número na minha lista de fracassos e decepções. Ele suspira, tenho a impressão que um sorriso torto também surgiu em seu rosto, mas tenho certeza que o olhar permanece o mesmo, “Que surgiu por causa de...”
Admito. Tudo bem. Tudo bem. Não quero que ele desligue. Embora esteja me provocando, ainda quero ficar aqui. Só por mais um instante. Despejo minha sinceridade tão afiada, “Instinto de sobrevivência. A questão é que sou um cadáver ambulante – prendo a respiração -, meu corpo ainda funciona – solto o ar como se estivesse deixando meu corpo -, mas meu coração está morto”.
Se você não tem a solução, você tem que agüentar. E meu amigo, eu agüento. Sou quase o Batman. A dor pode ser uma arma se você escolher assim... E acredite quando digo que sendo assim sou uma bomba, você não irá querer discordar comigo. Ele sempre soube o que dizer como dizer. Sua pretensão é um charme, mas é sua intensidade me fascina, “Por isso eu quero te ajudar. Eu não sou como os outros, não vou te fazer sofrer. Porque se você não se importasse com as coisas não iria sofrer.”. Golpe baixo. Ele está ficando bom. “Talvez eu sofra por não me importar.” – caprichei no meu tom agora, mas acho que acabou saindo mais como uma pergunta -, ás vezes ele consegue me deixar tonta. “Ou talvez se importe demais.”, ele acha que ganhou essa.

Não vou dizer que sinto a falta dele, nem soltar algo como ‘gosto de voce, gosto mesmo’. Não me seguro.
Dizer a verdade é o que nos diferencia dos demais animais. Não posso prometer nada a ele, estamos longe. Muito longe. Ao mesmo tempo tão perto, ao mesmo tempo tão distante. Chegou à hora de escolhermos entre o que é certo e o que é fácil. É fácil deixar você me abandonar. É fácil eu me enganar, é fácil fingir que aceito essa condição. É fácil não te esquecer. É fácil eu não deixar voce não se aproximar mais. É fácil eu desligar o telefone.
Vou até a cozinha, beber água. Perco-me no caminho da volta, sou vários caminhos, inclusive o fatal beco-sem-saída. As pessoas mais difíceis de serem amadas, normalmente são as que mais precisam de amor. “Por favor, por favor. Me liga de novo.”

23 julho, 2008

Temporariamente Morta

Despenco no vácuo de mim e me desespero. Sendo assim só morrer as vezes me acalma.




Nada de flores de plástico, por favor.

14 julho, 2008

Perder-te de novo

Não quero escrever uma história de amor, e sim sobre o amor.
Aborte este começo, não vou escrever história nenhuma. Não quero escrever história sobre o amor, caramba!
É inevitável.

Cada dia me surpreendo mais com o tempo que sou capaz de esperar, não aprendi a viver ainda. Desesperada. É tão forte essa sua ausência, saber que irei sem você. Tentar crer em nós dois. Mover o mundo para te recuperar, enquanto o céu está entre nós. Eu sinto uma confusão, acho que só preciso sentar. Basta abrir os olhos para te perder de novo.
Eu coleciono algumas canções, e assim tento descobrir até onde vai o eterno, como se essa ilusão fosse o motivo de eu existir. O destino escorrega pelas minhas mãos. Diga-me o que fazer. Só me diga!
Minhas emoções são para você. Eu tento me transformar em alguém melhor e continuar. Não que eu não acredite em nada, só não acredito em tudo. E acho que talvez isso me prive de estar contigo. Na verdade, você foi. Eu fiquei. E esta é a verdadeira solidão.

Agora eu sei, não tenho duvidas que você seria tudo o que eu pedi. O que em meus sonhos eu buscava e que em você eu descobri. Mas, foi tarde demais. Arrancaram-me de ti, não deu tempo. Não deu. Cada vez que me viro pro passado percebo que meu lugar é ao teu lado. Por que você teve que ir?
Você foi capaz de preencher cada parte do meu ser, você é tudo que minha alma vazia precisava sentir. Dizem que pra amar não se tem idade, a gente não se importava com isso. O ‘eu te amo’ era possível sentir no olhar. Dizem que as crianças amam com uma força muito maior. Nosso amor era mais forte que tudo, e mesmo assim ele não foi capaz de te salvar. Eu não acredito nele. Porque nem foi capaz de me dar esperanças. Você foi cedo demais, muito cedo.
Eu já não tenho mais coração. Minha única duvida é o porquê de você não poder estar aqui comigo agora. Saudade. Sei que me lugar é junto de você.
Tudo mudou. Tudo está igual. Meu olhar se converteu, foi tão fácil te entregar minhas mãos. O destino não sabia, e te tirou de mim. Não é possível que você não acorde com o barulho infernal de cada estrela que explode. Já se foi à época em que eu me importava com explicações. Eu tenho aquilo que você chama de "vazio".

Já matei todo esse drama, só queria que você soubesse que esse é meu último pedido. Antes de ir embora e seguir o meu caminho queria poder voltar naquele dia que foi o ultimo que meus olhos te viram, e te abraçar. Quando eu me dei conta de tudo que eu sentia, me disseram que assim seria melhor. Não sei se onde você está agora pode sentir tudo isso que eu transbordo. Não sei se você poderá ler isso. Sei que o correio não chega ate aí, a altitude não permite. Maldita física moderna. Eu estou te esperando ou logo estarei indo. É meu ultimo pedido. Tenha certeza que quando me perguntarem o que eu mais gostei daqui, direi que foi de você.

11 julho, 2008

Entrevista com Clarice

No programa de hoje iremos conversar com Clarice Lispector, a grande escritora e poeta, que nos proporcionou uma vasta coleção de intensos pensamentos.

Luara - Tenho que confessar que estou realmente honrada e extremamente lisonjeada com a presença da senhora em meu programa essa noite. Sou uma grande fã sua.
Clarice – “Divertir os outros, um dos modos mais emocionantes de existir”.

L - Como você definiria a mulher Clarice Lispector?
C - '‘... Sou como você me vê... Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania, Depende de quando e como você me vê passar... ''

L – Mas, quem realmente é você?
C – (risos) “É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo."

L – E por que você escreve?
C – “Escrevo por não ter nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens. Escrevo porque sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse sempre à novidade que é escrever, eu me morreria simbolicamente todos os dias.” – “Escrevo para me manter viva.”

L – Por que essa certeza?
C – “Talvez a pergunta vazia fosse apenas para que um dia alguém não viesse a dizer que ela nem ao menos havia perguntado. Por falta de quem lhe respondesse ela mesma parecia se ter respondido: é assim porque é assim”.

L – Como é para você esse misterioso ato de escrever?
C - "Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro...”.

L - E sobre a solidão, que é tão presente em suas palavras?
C – “Minha força está na solidão.”.

L – E ela não te incomoda?
C – “
E ninguém é eu, e ninguém é você. Esta é a solidão”.

L – A partir disto surge seu silêncio?
C – “Há um silêncio dentro de mim. E esse silêncio tem sido a fonte de minhas palavras”.

L - E o amor?
C- “Quando se ama não é preciso entender o que se passa lá fora, pois tudo passa a acontecer dentro de nós...”.

L – Sobre a saudade?
C – “Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida...”

L – Você pode definir o quanto a sente?
C – “Há momentos na vida em que sentimos tanto a falta de alguém que o que mais queremos é tirar essa pessoa de nossos sonhos e abraçá-la”.

L – Como a Clarice de hoje vê a Clarice aos 15 anos?
C – “O que obviamente não presta sempre me interessou muito”. – “E se me achar esquisita, respeite também. Até eu fui obrigada a me respeitar”.

L – E a Clarice de hoje?
C – “Com todo perdão da palavra, eu sou um mistério para mim”.

L – Você acredita em Deus?
C – “Eu já começara a adivinhar que Ele me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.”

L - Apesar desse sofrimento você foi feliz?
C-
"E umas das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi criadora de minha própria vida".

L – Suas palavras são músicas sem melodias. Fale um pouco do seu método de trabalho.
C – “É preciso coragem. Uma coragem danada. Muita coragem é o que eu preciso. Sinto-me tão desamparada, preciso tanto de proteção... Porque parece que sou portadora de uma coisa muito pesada. Sei lá porque escrevo! Que fatalidade é esta?”.

L – Você define sua profissão como vocação ou talento?
C – “Vocação é diferente de talento. Pode-se ter vocação e não ter talento, isto é, pode-se ser chamado e não saber como ir”.

L – Você se interessa pela reação que seus livros provocam nos leitores?
C – “Eu fico muito contente quando as pessoas chegam perto de mim e dizem que me entenderam. Ainda que seja uma compreensão que não se possa ser expressa por palavras. Mas que seja aquilo que eu chamo de compreensão por osmose, que passa de pele pra pele”.

L – E é difícil entende-la?
C – “Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato, a questão é... Ou toca, ou não toca”.

L – Muitos escritores da nova geração a vêem como inspiração. O que pensa sobre isso?
C – "
A palavra é o meu domínio sobre o mundo."

L – Já faz 31 anos que você nos deixou. O que é a morte para você?
C – “Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome”.

L – Você se arrepende de algo que fez ou deixou de fazer em vida?
C – “Estava permanentemente ocupada em querer e não querer ser o que eu era, não me decidia por qual de mim, toda é que não podia ser; ter nascido era cheio de erros a corrigir. Só tinha tempo de crescer. O que eu fazia para todos os lados, com uma falta de graça que mais parecia o resultado de um erro de cálculo. Na minha pressa eu crescia sem saber pra onde”.

L - Agradeço sua presença aqui hoje, que fique aqui minha total admiração por você. Realmente nem acredito que foi possível conseguir a liberação do ‘Todo Poderoso’ para você poder dar a entrevista.
C – “Ela acreditava em anjos, e por ela acreditar eles existiam”.

L – Ficamos por aqui, e quem sabe no próximo programa Dercy Gonçalves será nossa convidada, isso se ela não me interrar primeiro.

*Aplausos*

09 julho, 2008

Senta aqui

Quando me pego a observar o marasmo, noto que não é o meu passado que me condena, visto que ele é o responsável por alguns de meus sacrilégios de nostalgia. O que realmente está prestes a armar uma sentença para mim é o presente. Maldito o seja. Minha sinceridade me aniquila. Cometo constantemente suicídios emocionais, eu desperdiço minha vida. Eu deito na minha cama e imagino tudo o que pode acontecer, enquanto não toco de verdade na vida para não cansar demais e depois não ter forças para viver a verdade. E qual é a verdade? A desgraçada se disfarça, eu não tenho dificuldade de enxergar o obvio – tudo bem que nasci meio míope, mas é um charme natural, ué.

Encontro-me em um caminho errado, uma estrada de mão única. Me diz o que é sossego que eu te mostro alguém afim de te acompanhar...Prometo não conversar, creio que você irá se habituar com meu silencio e com minhas frases mal acabadas, não que eu não seja capaz de conversar, apenas não quero ter que te contar o que sou. Considerando as circunstâncias, vou precisar de mais do
que estar só bem certa. Está bem, vou estar bem certa pra valer!

Existe até quem me ache legal, mas na verdade eu sou insuportável. Tenho hábitos e manias que certamente as pessoas só agüentam por delicadeza ou amor. Sofro de tênue transtorno bipolar; isto significa que alterno ocasiões de histérica suposta alegria com depressões inexoráveis (o que, na Idade Média, costumava-se chamar carinhosamente de possessão demoníaca). Defendo teses estapafúrdias, considero qualquer coisa que eu goste a melhor do mundo, qualquer coisa que não goste a pior e procuro, a todo custo, fazer com que os outros tenham a mesma opinião. Eu estou certa e você errado e ponto. Sou uma espécie de acionista majoritária da verdade e da razão. Como se não bastasse, acordo de madrugada para preparar sanduíches e conseqüentemente, acabo esquecendo as luzes acesas ou produzindo ruídos incompatíveis com o horário. Falo muito palavrão e o "foda-se!" aumenta minha auto-estima, me torna uma pessoa melhor – nunca gostei de intelectuais que não soubesse xingar. Sou considerada um mau-exemplo e isso me excita.

Não tenho talento algum, embora o eu viva abraçada ao caos e brigue por conseqüências, é divertido o espanto que causo nas pessoas, eu sou quase uma aberração sentimental, vivo da patologia interior. Sei que tem muitas evidencias que comprovam o quanto deixei estar, eu não me importo. A minha relação com o mundo é um fracasso e isso me diverte. Meu único desespero é meu relacionamento com o tempo. Pessoas costumam me causar sono. Sou uma covarde, muito covarde. Embora ninguém consiga por algemas em mim, só me resta esperar o julgamento. Sente aqui e espere comigo. Não que sua companhia me agrade, eu só preciso de alguém pra pôr a culpa.

Inocente, até que se prove o contrário. Ou não.



07 julho, 2008

Geladeira

Aprendi a ler e escrever cedo, bem mais cedo que as outras crianças da minha idade, e isso me proporcionou algumas passagens para outros lugares, lugares que eu fui e voltei, lugares que eu fazia as regras, que eu comandava que eu amava. Lugares que nunca conheci, distancia e saudade de coisas que nunca senti. Eram só palavras, palavras que nem minhas eram. Só palavras. Eu fui jogada aqui, pouca coisa chama minha atenção, pra que usar tanta educação? Busco sempre por cores ainda sem nome. Eu tenho mágoas, muita mágoas. Eu tenho armas, armas que matam. Eu sempre tenho escolhas, poso usá-las ou só ameaçar. Greve de fome nunca adiantou.
Se me lembro bem tudo era motivo pra escrever, contar algo em parágrafos e me manter humana e normal ao usar as palavras – nunca entendi o que isso de fato quis dizer -, meus primeiros rascunhos eram bilhetes que eu pendurava na geladeira, coisas do tipo: ‘mãe me acorde as 8, quero ver A caverna do Dragão!’, ‘pai, quero dinheiro para merenda’; e assim por diante. Sempre achei mais inteligente escrever do que dizer; é como se a escrita tivesse realmente poder, poder de transformar as coisas, talvez as pessoas. Somos livres para escolher nossas ações, mas prisioneiros de nossas conseqüências. Depois descobri que podia inventar histórias, meu Deus! Isso me deixava presa em mim. Quanta historia inventei, escrevi, sonhei. Acho que me refugiar nesse mundo realmente salvou minha infância, só não sei em que momento da minha existência eu a perdi. Talvez pelo fato de ser poeta e não aprender a amar. Eu não sou poeta, eu não sei amar. Mas, ainda estou viva. Desespero. Cansei. Vou-me embora desse lugar para um onde não haja pessoas como você.

Eu já estou farta de mudar as coisas de lugar, olhar pra fora e buscar tempo, buscar ar. Escrever foi a única forma que encontrei pra sobreviver. Os fatos me repartiram em antes e depois. Lembro de tudo aquilo que sou e agradeço por ser um ser que não perdeu o dom de se encantar com as maravilhas pequenas. Talvez deva culpar as palavras. Aprendi que enquanto escrever vou me encontrar sã, a minha maneira de ver as coisas e de não ver. De sentir e fingir. Escrevendo eu sempre vou me encontrar respirando, eu vou estar sempre intacta. Porque eu já me decidi: eu quero morrer jovem ou viver para sempre! – eu estou ficando cada vez mais dramática; preciso pagar a conta do analista -, e pra escrever você não precisar ter algo para contar, eu não tenho nada para sentir, não tenho sentimentos porque não tenho tempo para filosofar a arte do amor. Isso pra mim não existe, nunca existiu, mas talvez um dia exista. Não sinto nada por ninguém, sou o desprezo vivendo dentro de um corpo vazio. Não choro porque não quero me integrar nessa falsidade unânime de expressar dores que não existem. Não quero parecer cética nem tão pouco ignorante, só quero fazê-los entender que não sou o modelo de ser humano que você está acostumado a encontrar no meu rosto. Sou apenas o que a vida fez de mim: carne, ossos, palavras e nada mais. Quase uma geladeira.