30 junho, 2008

Na fila

Baseado em fatos reais.

Mais uma sombra no chão. Definitivamente mais uma sombra. Eu sinto que pelo menos tenho que me defender. Ando pelas ruas - Na verdade, me economizo. Paro numa fila de cinema. Eu tenho que lembrar a mim mesma que não sou a bandida aqui. Aparentemente muita coisa esta me perturbando, mas essas pessoas que estão na minha frente atrás de mim nessa fila estão me deixando tonta. “Calma é o cacete”, resmungo entre os dentes. Cruzo os braços e fico na fila do cinema esperando a minha vez. Apegue-se ao que é espiritualmente superior sem fazer caso do que as outras pessoas pensem ou façam. Mantenha-se fiel ás suas verdadeiras aspirações, não importa o que esteja acontecendo em torno de você. Eu vou sobreviver a essa fila, vou ver o filme e voltar pro meu quarto. Só que não parecia estar funcionando. Bem, depois de eu tentar ficar na minha, fazer algumas listas bobas – do tipo: quantas pessoas usam vermelho na fila; quantas mulheres usam salto e coisa e tal -, eu realmente estava irritada com a demora. Eu disse a mim mesma 'Estou bem' e mostrei o meu sorriso habitual eu não me senti em desespero, mas em um tipo de desafio, eu escondi a minha mão tremula, porque a simpatia deles era tão irreal. É o primeiro e o último tempo para você viver por você mesmo, você deveria desenhar o seu próprio caminho após analisar um grande mapa. Pessoas. Decidi, enquanto a fila andava, que teria que me tornar mais sociável, afinal alguém vai sentar do meu lado enquanto o filme estiver rodando. Ok, eu vou ficar na minha. Não fuzilarei ninguém com minha metralhadora de mágoas. Ser simpática com gente errada causa danos irreversíveis em minha mente. Então, na verdade é só uma autodefesa. Odeio ser eu a lhe dizer, mas pessoas me dão nojo.

Finalmente chegou minha vez na bilheteria. ‘Quantas?’, a mulher teve a cara de pau de me perguntar quantas? É. Quantas? Só pode ser uma daquelas velhas mau comidas que fazem apostas na mesinha de bilhar, sim. Apostas do tipo: quem tortura mais garotas, perguntando quantas entradas ela quer para o cinema, enquanto esta estampada na cara dela que ela esta sozinha. Ela é sozinha. Ok, se não for aposta e ela não participar de nenhuma seita macabra, creio que seja só superação pessoal. Ela deve ter uma meta, contar quantas garotas fracassadas entram pela aquela porta totalmente sozinhas. ‘Uma’, respondi. - Apenas podemos falar de sensações nas percepções se as considerarmos em si mesmas, sem considerar o que significam.

Comprei uma Coca e alguns chocolates – são meus fies companheiros, nunca interrompem o filme para fazer xixi ou fazem algum comentário do tipo: ‘Noooossa, você viu aquilo?!’-, só achei estranho uma coisa, o fato das demais pessoas que me acompanhavam na fila estarem indo para a outra sala do cinema, ou seja, só eu que preferi ver ‘Tubarões Assassinos’? Tudo bem que filmes desse tipo costumam ter fãs violentos, mas trocar Tubarões por um romance qualquer é no mínimo tedioso e de mau gosto. Nossos pensamentos são as sombras de nossos sentimentos - sempre mais obscuros, mais vazios, mais simples que estes. Entrei na sala e realmente só havia ali mais dois garotos, que creio eu fugiram de casa para ver o filme. Só não sei como conseguiram entrar. Eu sentei. Podia escolher cerca de 60 poltronas. Qualquer uma. Sentei bem no meio. Nem tão na frente, nem tão no fundo. Mas, se por acaso houvesse algum acidente a espera de acontecer estava perto da saída de emergência. Afinal, o filme é de tubarões assassinos. O filme começou.

Sinto-me vazia. Tão vazia quanto esta sala de cinema. Eu tenho tudo, mas sinto como se não possuísse nada. Talvez seja a falta de valor que eu deveria dar as coisas. Talvez seja apenas impressão. Não importa. Eu estava sentindo um vazio. Um vazio tão familiar que chegava a ser incômodo. Apenas uma vez eu senti isso. Uma vez foi o suficiente para sentir todo o chão desabando aos meus pés, antes mesmo que eu aprendesse a voar. Agora que eu aprendi, acho injusto sentir o mesmo vazio de antes. Eu tenho tudo. Tudo que necessito, pelo menos eu penso que tenho. O que falta, então?! Se eu soubesse a resposta, não estaria me perguntando. Vocês vão aprender que nesta vida não se pode mais errar. Vão descobrir que entre as estrelas e o chão existe o mar. E aí então a euforia, um belo dia, vai passar e cairá sobre seu mundo, num segundo, a traição. E naquele momento a sala vazia do cinema se abriu. Estava tão concentrada em meus pensamentos que não fui capaz de perceber. Estava cega, surda e muda durante meus delírios. E então, repentinamente, fui interrompida de meus pensamentos com um "Posso me sentar ao seu lado?". Um rapaz tão encantador quanto seus olhos azuis estava parado ao meu lado, segurando um pacote de pipocas e lançando a mim um sorriso tão doce quanto sua voz. A sala de cinema não estava mais vazia. E, bem, nem eu. Porém, não tinha me dado conta disso. Respondi com a diferença, a cena de um tubarão estar definhando um marujo muito do estranho veio em boa hora, com cerca de 60 poltronas ali, por que ele escolheu justo a vazia que estava do meu lado? Isso provocou uma reação. É. Minha indiferença provocou uma reação. Ele simplesmente sentou. Não que meu coração bateu forte quando sua mão encostou de leve o meu braço que estava apoiado no braço da poltrona, o que acontece é que eu estava com frio. É. Faz frio em maio aqui onde eu moro. E também esse garoto não tem noção de divisas de território? Aquele espaço era meu por direito. Meu território. As cores dele eram lindas, digo ele cheirava bem também. O garoto não o braço da poltrona. Eu não estou nervosa. É que quando eu estou nervosa costumo a falar demais, não que ele ou a situação me deixem nervosa. Ok. Melhor eu parar de falar. Já tenho escrito que o meu silêncio é feito de gritos abafados. Mas a vida é apenas um arrendamento provisório - um parêntese entre dois insondáveis infinitos.

Ele escuta minha respiração, eu finjo não notar. Brinco com os canudinhos na Coca talvez esse barulho irrite ele, e faça-o sentar em outro lugar. Ele fingiu nem notar. O que infelizmente ele provou, estendendo o pacote de pipoca para mim. ‘Não, obrigada.’ Tentei colocar um pouco a mais de acidez no meu tom de voz, ele precisar saber quem manda aqui. – Ele só me olhou.

...- Não o quê?
- Não quero sua pipoca e me incomoda você sentar aqui. – pronto, falei.
Por outro lado, não podia deixar de suspeitar que ele estivesse esperando por isso.

- Tudo bem, se sente em outro lugar então.
O quê? – perguntei irritada, com a voz mais esganiçada que nunca.
– Psiiiiiiiiiiiiiiiiiiu! – os dois garotos lá da frente pedindo silêncio.
-
Você não pode estar falando sério, cara! – esbravejei em tom baixo.
Bem. Só porque você tecnicamente chegou aqui primeiro não quer dizer que eu tenha que sair. – ele meio que riu -, os incomodados que se retirem.

A verdade é que ele esta certo. Merda! Ele não sairia dali, e nem eu. Menos provável ainda, assim seria como se ele tivesse ganhado. Certo, vou admitir. Entrei em pânico. Não sabia o que dizer, é. Não disse nada. Ficamos o resto do filme concentrados na tela, eu mal respirava. O filme acabou. Graças a Deus. Poderia ir para qualquer lado. Levantei, peguei minha bolsa e sai. Quando cheguei na saída percebi que havia esfriado. Eu deveria estar acostuma com essa mudança de clima. Lembrei que havia deixado o meu bolerinho lá dentro da sala. Antes que eu pudesse dar a volta o mesmo garoto dos olhos azuis e da pipoca estava estendendo um pedaço de tecido na minha direção. Às vezes é, às vezes não, e é simples assim!

- Você esqueceu lá dentro – disse ele.
Aham, já estava indo buscar. – falei.
- Você está sempre indo de um lado para outro, você não pára, mas afinal, do que você está fugindo? - perguntou ele. Riu - seja o que for essa coisa da qual você está fugindo, acho que ela não vai te alcançar nunca.
- Cale a boca! Você não me conhece .. - sibilei com os dentes trincados - Saia de perto de mim! - E eu lhe dirigi a maior frase que já havia dito em toda a minha vida. - Agora. - Completei.

25 junho, 2008

Momentaneamente desinteressada

Acordei e não consegui mais dormir. Olhava pela janela na madrugada, na tentativa de buscar alguma resposta do céu estrelado, ou até mesmo receber uma ligação por engano de alguma pessoa avulsa. Enfureci-me a idéia do sono me abandonar e me deixar entregue a tão abitolada insônia. As circunstâncias podem ser tão fúteis e derivadas de mais um dia de fracassos, o que acontece é que acordo durante a noite propositalmente. Exato. Não durmo por que não quero dormir. Meus olhos tentam minha cabeça não deixa. Talvez eu sinta dor. Afinal, a preciso sentir dor para fazer poesia, poeta sem sofrimento é a mesma coisa que Coca sem gás. A dor existe, e todo mundo é capaz de domina - lá, exceto quem a sente.

Se o que eu sou é também o que eu escolhi ser aceito a condição. Vejo-me como um estilete sem cabo. Quer pegar, pega. Só que não entro nem saio da vida de ninguém sem deixar marcas. Marcas boas ou ruins. Mas marcas. Eu não amo ninguém e não faço bulhufas, não quero nem tentar me distrair, ou esconder a verdade, a vida é uma sacanagem de merda, e cada segundo de lucidez é um suplício. Se beleza interior contasse... Ainda assim eu seria feia. Reviro-me na cama, às vezes penso que dormir irá me salvar, ilusão. Comporto-me como fugitiva, mas uma fugitiva esperta. Não deixo que me peguem. Sento e olho as paredes do quarto, ele não está totalmente escuro, grande parte está discretamente iluminado pelo poste da rua. Gosto de acordar durante a noite, ou não dormir porque fico nostálgica com o silencio que encontro. Não se escuta nada. Não se sente nada. Silêncio. Era divertida a época em que acreditávamos nas mesmas coisas. Era mais divertido pensar que íamos todos viverem juntos ou morrerem juntos e que nenhum de nós iria antecipar essa grande solidão.


Alguém dentro de mim é mais eu do que eu mesmo. E você acha que me importo? Me encontro momentaneamente desinteressada. Você nunca vai saber que ação ou reação esperar de mim. Sou ‘levemente’ imprevisível. Possuída, de fato, por mim mesma, em diversas versões. Preenchida de indagações, angústias, incertezas. Não recuo diante das encruzilhadas, não me amedronta com transgressões, não adoto as opiniões dos outros. Se eu tiver que andar sozinha, vou até onde eu quero. Eu tenho um dom de causar conseqüências. Já estou acostumada, mas só a idéia de daqui a alguns meses não ter que voltar a freqüentar aquela maldita escola, me deixa feliz. Exato, feliz! Não é a escola em si, a merenda até que é boa. O que não suporto são aquelas pessoas. Juro que não é implicância minha você me daria razão.
Muita coisa vai mudar, vão surgir novos motivos casuais para minhas amedrontadas noites de insônia. Se estiver preparada ou não eu não sei. O fato é que eu vou conseguir. Uma vez, li um livro chamado "Como ir pra frente". A chave do sucesso, diz o autor, é levantar da cama com um sorriso. Isso, aparentemente, é meio caminho andado. A outra metade é ser honesta o bastante pra poder dormir de novo no fim do dia. Honesta eu até sou. Nem por isso durmo bem à noite. Preciso largar do café.

Boa noite.


20 junho, 2008

Desconhecida

Sou muito mais do que essas letras, frases e fotos falam sobre mim... Sou as minhas atitudes, os meus sentimentos, as minhas idéias!
Se você já leu mais de um texto meu, poderá perceber o quanto (in) voluntariamente tenho necessidade de me descrever. Ser.
Mas, a verdade – incomoda, diga-se de passagem -, é que busco por mim mesma em meus parágrafos delineados. Minha mente perturbada - eu sou meio perturbadinha, você já deve ter reparado -, acaba que consequentemente me abandonando. Sobrevivo à solidão, porque a maior de todas que vivo é a interna, aquela sensação de não ter nada, de estar vazia. Eu me amo, embora não seja correspondia.

Ninguém pode ser exatamente como eu. Algumas vezes eu mesmo tenho problemas sendo assim. A verdade, é que os judeus só deram três gênios originais: Cristo, Spinoza e eu. Às vezes, eu tento ser modesta. Mas, aí começam a me faltar argumentos.
Preciso me tornar alguém. É desesperador ser desconhecida para si mesma, eu até tento acreditar que isso vai chegar ao seu apogeu e então acabar - a esperança seria a maior das forças humanas, se não existisse o desespero.
Meus princípios e vontades permanecem intactos apesar disso. Procuro parecer melhor do que sou. Outras vezes, procuro parecer pior. Hipocrisia por hipocrisia, prefiro a segunda.
Eu julgo as pessoas pelos sapatos. Depois reparo em seus joelhos e panturrilhas. – Ok, isso não saiu tão engraçado, é que você precisa ver meus gestos!- Primeiro estranha-se, depois entranha-se.

Minha mãe me ensinou a nunca falar com estranhos, por isso falo sozinha. E com isso, eu sempre sinto muito mais do que eu posso entender. Gostaria de me descobrir – que fique claro que me conheço. Já disse que adoro te confundir? Idiota. -, e começar a ESCREVER realmente. Fazer literatura, fazer algo notável, escrever para alguém e não para mim. Ter a ânsia de buscar o que as pessoas buscam e ter o prazer de ler meus textos e pensar que não há só vácuo concentrado dentro de mim. Obter algo que me faça dormir sorrindo. Conhecer uma escritora, ser esta escritora.
O mundo não pode ser mudado apenas com palavras bonitas. Palavras podem ser ditas escritas, mas se não forem realmente entendidas... Não modificam nada... São apenas palavras... Eu procuro um jeito de não padecer.
Não tenho nada a oferecer a ninguém, a não ser minha própria confusão. Eu não sou pessimista, o mundo que é péssimo, todavia eu tento a sorte porque o azar é inevitável.
Acostumei com a fossa agora só me surpreendo com um câncer ou com a volta de Cristo. Talvez ter nascido me estragou a saúde, mas isso não me fará perder a curiosidade de saber quem é essa tal Luara Quaresma. Patético. Digno. Eu.

15 junho, 2008

Vácuo

É fácil sofrer por amor ao próximo, por amor ao mundo ou por amor ao seu filho. Este sofrimento dá a sensação de que isso faz parte da vida, de que é uma dor nobre e grandiosa. É fácil sofrer por amor a uma causa, ou a uma missão: isto só engrandece o coração de quem sofre. – Tudo bem, fale isso para os milhões de órfãos e refulgidos de todo o Oriente. Eles sentem. Eu também sinto!
As pessoas sempre colocam a culpa em algo, principalmente Nele. O Cara deve ouvir tanto, mas tanto que creio que esteja mais acabado do que eu. Nas raras conversas que tenho com ele, dificilmente peço algo, afinal de conta ele é Deus, Ele sabe dos meus pensamentos antes mesmo de eu abrir minha boca, Ele sabe do que eu preciso. Então não vamos perder tempo. Nas minhas raras conversas com Ele, o silêncio predomina.
Estréio mãos e bocas todos os dias; mudo de pele, de olhos e de língua, e visto uma alma cada vez que for preciso, andando na contramão. É sempre mais difícil ancorar
um navio no espaço.

Eu me escondo de tudo, do mundo. Sinto-me tão vazia, e por segundos me desespero. Mas, isso passa. Assim, como passa quando me sinto arrependida de não ter sentido.
Pergunto-me se eu tenho algo predestinado – aprendi que todos têm -, se existe algo que eu seja útil, se eu tenho um lugar aonde chegar. Sim, todos são predestinados. Então porque eu me sinto assim? Algumas pessoas apenas fingem não saber o caminho. Ou se perdem. Talvez, eu só esteja perdida. A verdade é que eu sinto muito medo de sentir. O que acho mais estranho é quando um fato antigo parece inusitado e me provoca estranheza. Em menos de uma vida completa ouvi inúmeros comentários indiretos de pessoas que me conhecem apenas de vista. Um disse que sou calada demais, outro que sou alegre demais. Pela entonação nenhum deles me pareceu positivo e também não estou nem um pouco incomodada por isso – ninguém é unanimidade e não tenho qualquer pretensão de ser. Tem coisas que eu nem ligo mais, pra não ter que desligar.
É assim, eu prefiro não ter para não ter que perder. É patético, eu sei. Na verdade eu sou pratica. O tempo é algo que valorizo muito, faço de tudo para economizá-lo. Porem, muitas vezes todo meu eu entra em colapso, então me obrigo a escutar uma musica, ler algum romance ou simplesmente ver um rapaz carregando o amor de suas vidas nos braços, seguido da morte da mesma. Preciso chorar, soluçar, engasgar. Pra compreender que apesar de todo esse vazio, aqui existe alguém. Alguém que sente. Eu choro pelos outros, eu choro pelo fato do rapaz não ter dito a tempo para a garota o quanta a amava. Eu choro pelo tempo. Eu choro disfarçadamente por tudo isso, enquanto na verdade estou chorando por mim. Lágrimas não resolvem nada, mas as vezes basta só chorar.
Vivo como se ‘nunca é para ser’.

Tudo me cansa, mesmo o que não me cansa. A minha alegria é tão dolorosa como a minha dor. Raciocinar a minha tristeza? Para quê, se o raciocínio é um esforço? E quem é triste não pode esforçar-se. Nem mesmo abdico daqueles gestos banais da vida de que eu tanto quereria abdicar. Abdicar é um esforço, e eu não possuo o de alma com que esforçar-me. Os meus sonhos são um refúgio estúpido, como um guarda-chuva contra um raio. Entre mim e a vida há um vidro tênue. Por mais nitidamente que eu veja e compreenda a vida, eu não lhe posso tocar. Sou tão inerte, tão pobrezinha, tão falho de gestos e atos. Tenho as opiniões mais desencontradas, as crenças mais diversas. É que nunca penso, nem falo, nem ajo... Pensa, fala, age por mim sempre um sonho qualquer meu, em que me encarno de momento. Vou a falar e falo eu - outro. De meu, só sinto uma incapacidade enorme, um vácuo imenso, uma incompetência ante tudo quanto é a vida. Não sei os gestos a ato nenhum real; nunca aprendi a existir.
Eu nunca tenho o bastante, eu vejo sempre o "depois". Sou inquieta, egoísta, áspera e desesperançada. Uma covarde. Então escrevo. Sou triste porque escrevo. Escrevo porque sou triste. E percebo nuances de vida em todo lugar. Porque o mundo escreve em mim a cada segundo. Eu sou só um monte de retalhos. Muito do que senti eu nem posso lembrar, eu enterro na memória. Sou triste porque não me limito a apenas ser feliz. Não meto meta onde não cabe. Mas no fundo, lá no fundo da vida ela é muito boa. Porque ainda consigo chorar. Ainda consigo sentir. Eu, nessa constante agonia. E apesar de tudo, posso voltar o filme há alguns segundos atrás e ver o rapaz beijando a menina, o amor de sua vida.

12 junho, 2008

Hoje não é meu dia

A contagem regressiva acabou.
Às vezes eu me pego olhando para o nada, segurando as lágrimas que vão nascendo em meus olhos. Segurando a angustia, o medo, o sofrimento. As nuvens mudam sempre de posição, mas são sempre nuvens no céu, assim devemos ser todo dia, mutantes, porém, leais com o que pensamos e sonhamos, lembre-se, tudo se desmancham no ar, menos os pensamentos. E com isso, vivo em mim.
Hoje é só mais um dia, só mais uma quinta-feira, só mais um Dia dos Namorados. Nada que possa me abalar e coisa e tal, só me fizeram analisar as perspectivas. Primeiro esse dia é de total importância e nostalgia para todos aqueles casais extremamente apaixonados e bláblá. Esses mesmos. Aqueles que fazem loucuras, declarações e o Diabo A’4 para provarem seu amor eterno. Também tem aqueles casais que não se preocupam muito, que acaba surgindo alguns ‘problemas de última hora’ e com isso vem as decepções, ou seja, esse “dia especial” não foi tão especial assim. Não posso deixar de mencionar aquelas pessoas que entram em depressão por ver na televisão comercias de companhias telefônicas, do tipo : “De um VIVO para sua namorada e fale mais 55512154212656526565656232 minutos gratuitamente com seu amor”. É trágico. Resta para esses viventes se afogarem em glicose e dramas convencionais holiwoodianos – por exemplo, o relacionamento de Jack e Rose e seu final, digamos...romântico -, se lamentam e esperaram que essas miseráveis 24 horas passem o mais rápido possível. Elas não passam. Pois é, o tempo continua em seu curso normal.
E registrar aqui minha admiração pelas pessoas que simplesmente por estarem livres, leves – ou nem tanto -, soltas nem se importam com tal data. É só 12 de junho. Vamos sair, balada, sexo, bebida, rock, mais sexo selvagem e trabalho no outro dia. Simples, pratico e fácil. Só palavras não conquistam corações. E minha última perspectiva racional e solene a minha relação com esse dia. Não que eu me importe... Você já sabe como as coisas funcionam por aqui: eu simplesmente não me importo! Então, esse não é meu dia.

Do seu crescimento você vai descobrindo os seus pedaços adicionais; cada um que se enquadra ao seu ser. A cada um dos fatos (não) consumados, as (a) venturas que acaba tendo. O giz vai atritando contra o quadro negro e o mesmo é recebido pelo quadro. Vai formando seus traços de expressão, vai formando o seu coração (ou até o destruindo).
Chega uma hora que você olha o reflexo contrário ao espelho e não entende mais o que aconteceu... Por que o seu corpo permaneceu...
Vamos fazer de conta que eu me importo, que isto significa algo para mim, que eu acredito no amor – é só faz de conta ok? -, o Dia dos Namorados seria sim o ‘algo mais’, porem eu não saberia manter um relacionamento em que tivesse que esperar pelo dia 12 de junho pra me sentir amada. Confesso que meu sonho é receber flores. É. Não um sonho, sonho. É um sonho. Assim, rosas vermelhas. Um buquê bonito e digno de minha pessoa e queria receber na verdade uma rosa por dia, todo dia. É. Ter surpresas lá de vez em quando, escutar TE AMO nos momentos mais inusitados, ser beijada nos momentos errados, querer pegar na mão pra ver TV. Se eu acreditasse em amor, acho que não seria nem um pouco egoísta ou estranha. Talvez. Não consigo me imaginar num conto de fadas, qual é.
Sou realmente exigente – e difícil. Mercenária também -, não quero alguém que me complete. Quero alguém que me complemente. Que goste de fazer coisas bobas, que recite Camões e que diga que minhas pantufas do Pooh são um charme. Quero dar um beijo estilo ‘homem-aranha’. Quero entrar naquelas maquininhas de fotos instantâneas, em que você pode fazer careta e fotos alegres e apaixonadas. Guardar as tirinhas e ir dividir um algodão doce. Quero não ter uma trilha sonora, mas abraçá-lo e ligar o rádio. E a musica que estiver tocando naquele momento se torne nossa. Assim como tudo. Como o mundo. Mas, se eu acreditasse claro. Até porque não existe ninguém perfeito, até que você se apaixone por ele.
Provavelmente eu esteja vivendo no piloto automático, embora acredite que isso só seja praga de madrinha. E que estou longe de ser antagonista de um final feliz. Estou na espera de algo inédito.
Ninguém pode ser exatamente como eu. Algumas vezes eu mesmo tenho problemas sendo assim. Padeço só na agonia de me despedir, pra saber que só assim sou capaz de compreender a profundidade do meu amor.
O meu partido é o coração partido. E o que te faz pensar que eu me importo?
Embora, dando uma olhada rápida por mim mesma chego à conclusão de que de fato devo ser um pouco mais terna do que outras meninas da minha idade. Tudo é colorido, delicado e tem um toque divertido em meu modo de encarar a lua. E não vejo perspectiva de que isso mude com o passar dos anos. As pessoas mudam, crescem, erram, aprendem e acertam, mas acredito que a nossa essência está imune a qualquer amadurecimento.

Há momentos na vida em que se deveria calar... E deixar que o silêncio falasse ao coração; Pois há sentimentos que a linguagem não expressa... E há emoções que as palavras não sabem traduzir. E nem tem tal necessidade.
Enquanto a internet não disponibiliza uma versão melhor, eu fico com esse meu coração de sempre, que já não acredita em romances “express”, nem se contenta com amostras grátis de amor. Eu não vou amar até o dia que me for apresentado o amor de verdade. Não vou ser capaz de fingir até lá. Continuarei com toda essa insanidade misantropa, meus gestos delicados e minha frieza graciosa. Se por acaso resolver me mandar flores, não esqueça dos chocolates com avelã. E que fique aqui meu manifesto e revolta, pois se pudesse reinventar o mundo, nele existira sim, o amor.
Nesse momento há 6 bilhões, 470 milhões, 818 mil, 671 pessoas no mundo.
Algumas estão ganhando flores, outras dando; algumas estão amando, outras se doando; algumas estão sorrindo, outras chorando; algumas estão perto estando longe, outras estão longe estando perto; algumas estão nascendo, outras morrendo; algumas estão ouvindo eu te amo, outras estão perguntando se são amadas; algumas estão com o coração partido, outras com o coração aos pulos; algumas estão em jantares românticos às luzes de velas, outras dividindo uma pizza calabresa; algumas estão fazendo amor, outras só se olhando; algumas estão dançando Julio Iglesias, outras cantando Cazuza – ‘Exagerado’; algumas estão lembrando; outras vivendo; algumas estão lendo esse texto, outras escrevendo cartas de amor; algumas são como eu, outras tentando não ser. Seis bilhões de pessoas no mundo, seis bilhões de almas...
E às vezes tudo que nós precisamos é apenas uma!

Nota da autora: 
- Quando eu postei já era passado da meia-noite,
entao FELIZ DIA DOS NAMORADOS!
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
 
É querer estar preso por vontade;
Éservir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor;
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
                        Luís de Camões


10 junho, 2008

Cansaço existencial

Cansei desse lixo diário, cansei dessa gente descartável, cansei das pessoas vazias, cansei dessa vida de marasmos. Os fatos revelam tudo, as atitudes confirmam. O que você diz - com todo respeito - é apenas o que você diz. Retire o respeito, não me importo com você.
Então, outro dia surgiu um garoto que até pensei na possibilidade de criar alguma relação instantânea com ele, o problema é que não sei mais como começar tal processo, e sendo assim ele concluiu algo realmente digno de minha atenção. Segundo suas constatações, eu sou uma menina que sofreu uma grande desilusão ou trauma com algum membro do sexo oposto e tento compensar tentando me sair cruel e fria, enquanto no fundo sou uma menina com uma necessidade incontrolável de ser amada.
Não é realmente compreensível? Alguém que nunca me viu, age como se me conhecesse – pausa para reflexão. Risos. Até parece que eu me importo.
Talvez pelo fato dele ter um pouco – eu disse um pouco -, de razão não lhe joguei nenhuma praga, até porque se me abalasse com cada critica e reflexo aceitável e quase involuntário da casca que me cobre, creio que todo esse meu espírito misantropo e heterofóbico perderia todo o encanto do mistério.
Já nem sei por onde este garoto anda, provavelmente eu atormentei seus pensamentos por alguns instantes – tenho essa mania de grandeza, e não sinto muito.
Sempre desprezei as coisas mornas, as coisas que não provocam ódio nem paixão, as coisas definidas como mais ou menos, um filme mais ou menos, um livro mais ou menos. Tudo perda de tempo. Viver tem que ser perturbador, é preciso que nossos anjos e demônios sejam despertados, e com eles sua raiva, seu orgulho, seu asco, sua adoração ou seu desprezo. O que não faz você mover um músculo, o que não faz você estremecer, suar, desatinar, não merece fazer parte da sua biografia. Apesar de tudo isso, eu poria entre os Mandamentos: nunca falar de si em vão.
Deixem-me cá com todas minhas farpas e autoflagelação, e vá cuidar de seus problemas. Por mais que eu pense, que eu sinta que eu fale, tem sempre alguma coisa por dizer, nunca é o suficiente. Quem muito diz não tem muito a dizer. Então, não vou falar nada!

Eu aprecio todas as palavras que você não disse, as pessoas têm que perceber que não estou aqui para me agradar ou as fazer felizes. Eu já nasci desencarnada, fato!
Dentro de mim há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que sou – talvez essa menina citada pelo garoto que acha Victor Hugo mais atraente que Nietzsche-, sendo assim sou sempre o alvo das críticas.
Eu sou fiel às minhas vontades. É preciso ter um caos dentro de si para dar a luz uma estrela cintilante, no entanto nunca abdiquei do controle da minha vida.
Já me acostumei a estar entre a cruz e a espada, pessoalmente a espada me atrai mais, porém a cruz sempre foi quem me defendeu, embora não acredite nesse escudo tão tolerante. Quando não se tem mais em que acreditar, acabamos por introduzir em nossa vida tudo aquilo que por algum segundo se tornou necessário, até mesmo o amor. Uma necessidade. Incontrolável. O que você não tem, você não precisa agora, o que você não sabe, você pode sentir de algum modo.
Nessas horas costumo responder com o silêncio, não existe argumento que possa revidá-lo – ele é a melhor arma. Sou alguém nadaptado do mundo, sou feliz somente quando durmo.
Só a antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente. Única lei do planeta. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz. Portanto, não existe amor, muito menos essa necessidade incontrolável dentro de mim.

08 junho, 2008

Refugiada Anônima

Sou todo amor e sentimento. Desses que fazem um acordo com as palavras, só para brincar com elas no jardim. Semeando-as pouco a pouco em minhas idéias, meus amores, meus sentimentos extintos. Uma vez, lembro-me, escrevi que sou uma equação matemática, tirando de mim meus amores e minhas palavras, nada sobra. Parecer anônima seria como uma conservação a minha mediocridade, me escondo no que escrevo. Sou o que escrevo. Sou o que não sou.
O engraçado disso tudo, é que no fim sempre acabamos com tudo o que amamos. Às vezes, não sei se me dói o todo pelo o que está havendo do lado de fora ou do lado de dentro.
Escrevi sobre amor, mas estava falando sobre mim.
Escrevi sobre ódio, mas estava falando sobre mim.
Sempre falo sobre mim, uso o sujeito do tanto faz pra fazer um charme e disfarçar toda soberba que minhas palavras insinuam. Escrevo sobre mim até quando não é sobre mim, o meu eu se enfurece por não entender e não conseguir mudar o que insiste em me causar essa ânsia cruel. E como lutar contra o vento norte.


Posso ser uma idiota em grau maior, posso resistir mesmo quando já está fora de moda, posso ser a queridinha mais recatada, que seja tão pessimista como eu sou algumas vezes. Posso ser a garota mais inteligente que você já conheceu, posso ser a alma mais bondosa com que já teve contato, posso ter o coração mais valente, que seja tão otimista quanto eu algumas vezes. Eu culpo todo mundo, mas não assumo a minha parte, minha passividade agressiva pode ser devastadora. Estou assustada e desconfiada, que seja tão fechada quanto eu sou algumas vezes. Aquilo que eu resisto persiste e fala mais alto que eu. Grita.
Volta e meia quando percebo que preciso fazer alguma coisa, que não quero mais ser assim, que ser diferente se tornou tão banal e que o normal é exótico, me pergunto por que dessa disputa externa com tudo e todos a minha volta – quando a maior e mais ostenta guerra acontece dentro de mim -, então, como uma refugiada me resta escrever o que vejo e sinto como memórias de alguém que não vai sobreviver, que não vai viver o bastante pra ver o que faz desse mundo algo tão implicitamente belo. E no bom combate, atacar ou fugir fazem parte da luta. O que não faz parte da luta é ficar paralisado de medo. O medo é uma dor externa, advertindo o corpo de perigos possíveis. Perseverança sozinha não ganha guerras.

Pertenço àquela espécie de gente que mergulha nas coisas às vezes sem saber por que. Não sei se na esperança de decifrá-las ou apenas pelo prazer de mergulhar. Luto sem o menor esforço. Não sei nadar.
Não tenho explicação, fato. Ofereço toda essa confusão para quem gosta de se entediar com aflições alheias. Fique a vontade, tome um café.
Vejo oceanos descendo pelo ralo, eu nunca tenho o bastante, eu vejo sempre o "depois". Preciso de uma coragem pra perceber que pode valer a pena e ainda mais uma loucura pra fazer acontecer. Eu não quero o que a maioria – grande maioria- das pessoas quer, eu não busco por aquilo em que as pessoas pedem toda noite pro Cara lá de cima – quando eu falo com Ele, marco hora. Às vezes Ele me atende. Às vezes não. Às vezes Ele está muito ocupado. Quase sempre me atraso. Quase sempre Ele não está mais ali.

Bem, nós fazemos o que podemos, e tem que ser bastante bom, e se não for bastante bom, tem de servir.
Era divertida a época em que acreditávamos nas mesmas coisas. Era mais divertido pensar que íamos todos viverem juntos ou morrerem juntos e que nenhum de nós iria antecipar essa grande solidão. Eu gosto do fim antes do começo. Vêem mísseis e homens bomba fantasiados de saudade. Seria mais fácil se o hoje pudesse se vestir de ontem. Eu, nessa constante agonia. Um pouco de tudo e mais ainda do nada. O cru faz sentir-me em casa. Sinto-me desconfortável, por isso sei que estou viva.

Estou em guerra. Uma guerra que não é minha, eu acabo pagando caro por todo esse confronto. Sou inocente. Inocente!


Refugiada Anônima.

P.s.: Em quanto a cor da pele for mais importante que o brilho dos olhos haverá guerra. B.M

A guerra, a princípio, é a esperança de que a gente vai se dar bem; em seguida, é a expectativa de que o outro vai se ferrar; depois, a satisfação de ver que o outro não se deu bem; e finalmente, a surpresa de ver que todo mundo se ferrou.

05 junho, 2008

Asas de papel machê

Meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais, há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que nem mesmo eu compreendo, pois estou longe de ser uma pessimista; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está e que tem saudade sei lá de que...Não me pergunte de onde eu venho nem aonde estou, não te direi para onde vou, aliás qualquer informação que você me pedir eu direi errado, adoro me divertir com a dúvida alheia.
Tento manter meus pés no chão, mas nada que eu faça poderá preencher todo esse vazio, nada que eu diga justificará tudo que quebrei, que deixei, que não fiz. Eu prefiro não saber quem eu sou. Não me importar com as pessoas. Com as outras pessoas. São somente elas. Eu não falo de dor, eu falo da angústia que é não sentir nada. Ou sentir tudo. E não saber o que fazer a respeito.

Qualquer caminho que eu decida seguir me levará até onde eu tenho que chegar. Contrapondo a maior parte das pessoas, tenho consciência da merda que sou, e não mascaro minha mediocridade com auto-afirmações. Sou assim, transparente. Quase invisível.
Não sou um conceito, sou só uma garota ferrada procurando por paz de espírito. Não sou perfeita. Você vai achar coisas, e vou ficar entediada e me sentir presa, pois é isso que acontece comigo. Eu estou presa. Eu sou presa. Só queria voar, é voar! Qual parte do V-O-A-R você não entendeu, infeliz?
Eu moro no teto do mundo. Eu pertenço ao vento. Eu quero bater na sua cara, de modo que você se sinta bem, mas só por alguns instantes e depois falta ar e você sinta frio. Escuto e esqueço, vejo e recordo, faço e entendo, nem sempre nessa ordem, nem sempre isso é verdade.

Portanto só queria saber quais são minhas chances, o que será de mim. Toda vez que tento brincar de anjo percebo que invadi esse mundo, que daqui eu não pertenço, deixo estar. Aqui temporariamente é meu lar. Deixo estar. Outro lugar só me fará continuar de pé, não posso voar. Não, assim como eu quero. É, voar mesmo. Pergunto-me se teria para onde ir, deixo estar e finjo que aqui é meu lugar. Alguém sabe onde posso conseguir asas?
Quando escrevo as palavras insistem em esbanjar uma charmosa sonoridade, elas pulam e se enterram no papel, e eu não sei o que fazer. Deveria saber? Eu então escrevo. Até quando continuarei assim? Não sei se busco algo fora ou dentro de mim, só sei que talvez você possa me salvar talvez me faça voar. Contenha-se. Eu disse talvez. Qual parte do T-A-L-V-E-Z você não entendeu, infeliz?
Vamos combinar que nada disso aconteceu - se mate, será menos pior do que quando eu o fizer.
Enquanto eu penso, tanto entendo que é mais fácil não pensar, o que era certo eu aprendi a sempre questionar. Não sei se eu serei tudo isso para sempre – entenda o tudo isso é um sacrifício -, eu não estou aqui agora, eu quase esteja. Preciso guardar todo esse papel e cola, de que me adianta asas de papel marche se elas não suportaram meu peso? Elas me tornaram um quase anjo. E vou te falar, de quase eu estou transbordando. Então, me deixe ser uma quase escritora. Uma quase imortal. Um quase alguém.

Nota da autora: Não aconselho fazer asas de papel e tentar pular do telhado da sua casa. Você não ira conseguir voar. Não conseguirá! Não tente isso em casa. Ok, ok. Não diga que não avisei.

02 junho, 2008

Entrevista com Nietzsche

Hoje estamos aqui com o grande filósofo alemão do século XIX nascido em Röcken, Alemanha, Friedrich Nietzsche.


Luara - Agradeço muito a sua presença em nosso programa, por favor, fique a vontade

Nietzsche- "A vontade se supera um afecto não é, em último análise, senão vontade de um outro ou de vários outros afectos. "

L – Qual seria sua religião?

N- "Para mim o ateismo não é nem uma conseqüência, nem mesmo um fato novo: existe comigo por instinto!".

L - então, para o senhor Deus não existe, certo?

N- “Deus está morto. Viva Perigosamente. Qual o melhor remédio?”


L- O que o senhor define como (in) certezas e perigo?

N- "Aquilo que não me mata, fortalece-me."

L - Verdade que o senhor é fã de Beatles e Caetano Veloso?

N- “Sem música, a vida seria um erro.”

L - O que o senhor tem a dizer sobre a política?

N- "O Homem evolui dos macacos? É existem macacos!".

L - E esses camaradas que estão sempre na oposição?

N – “Quem luta com monstros deve velar por que, ao fazê-lo, não se transforme também em monstro. E se tu olhares, durante muito tempo, para um abismo, o abismo também olha para dentro de ti.”

L - E a respeito do amor?

N- "Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal."

L – O senhor pediu Lou Salomé em casamento, ela não aceitou?

N – “Fiquei magoado, não por me teres mentido, mas por não poder voltar a acreditar-te.”

L – Como foi isso para o senhor?

N- “É mais difícil ferir a nossa vaidade justamente quando foi ferido o nosso orgulho.”

L – Então o senhor superou?

N – “O verdadeiro homem quer duas coisas: perigo e jogo. Por isso quer a mulher: o jogo mais perigoso.”

L – Mudando de assunto, e o trabalho?

N – “Uma pessoa continua a trabalhar porque o trabalho é uma forma de diversão. Mas temos de ter cuidado para não deixarmos a diversão tornar-se demasiado penosa.”

L – Ouvi dizer que o senhor gosta de altura.

N – “Quanto mais nos elevamos, menores parecemos aos olhos daqueles que não sabem voar.”

L – O senhor acredita em sorte?

N – “O homem precisa daquilo que em si há de pior se pretende alcançar o que nele existe de melhor.”

L – És materialista?

N – “Apenas devia ser possuidor quem tem espírito: não sendo assim, a fortuna é um perigo público.”

L – O que o senhor tem a dizer sobre sua carreira e sucesso?

N – “O sucesso tem sido sempre um grande mentiroso.”

L – Qual foi uma de suas maiores dificuldades em vida?

N –“É difícil conviver com as pessoas porque calar é muito difícil.”

L – Então, o senhor gosta do silêncio e da solidão?

N – “Odeio quem me rouba a solidão sem em troca me oferecer verdadeira companhia.”

L – O que é melhor em estar morto?

N – “A recompensa final dos mortos é não morrer nunca mais.”

L - O que diz para nossos telespectadores?

N – “Torna-te quem tu és.”

L – Muito Obrigada, o senhor é muito franco em suas respostas.

N - "Até os mais corajosos raramente têm a coragem para aquilo que realmente sabem."

L – De qualquer modo, desculpe por havê-lo incomodado. Mas, é que neste programa sempre entrevistamos alguém que já morreu...

N – “Abençoados sejam os esquecidos, pois tiram maior proveito dos equívocos...”



*Aplausos*