29 outubro, 2013

Ocitocina

[parte I]
Porto Alegre de primavera.

Um pouco de Beatles.
Mas, não me esqueço de ouvir Chico.
Cor de laranja.
Esparadrapo vencido.
Hoje preciso te ver.

Não comi fruta nem verdura.
Tomei banho frio.
Dormi de lado, até te sentir.
Vou cortar o cabelo.
Mas tenho medo.
E não tenho tempo.

Tenho a impressão que alguém puxaria conversa comigo na fila do pão.
Só que faz tempo que eu não saio desse aperto no peito.
Tô lendo o jornal, de pés descalços e trança.
Volta e meia me lembro da nossa dança.
Sei que preciso lavar roupa.
Estender o passado no varal.
Deixar secar minhas lágrimas no sol.

Meu siso não me incomoda mais.
Provavelmente seja eu quem doa nele.
Meu corpo desiste de mim, mas não da gente.

Comprei uns livros pela a internet, Bukowski me entende.
As flores ainda estão te esperando.
Ontem vi um filme francês, tinha alguém que parecia você
Até parecia um brotamento.

Minha mãe acredita que você é uma boa influência para mim.
E ela sente a saudade que eu sinto de você.
Lembro da sua promessa: o céu.
Se não for você, um dia será
Posso fazer torta de bolacha
Ou torrada com guaraná.

Preciso escutar o teu riso
[ou o teu grito]
Você continua em todos os meus dias.
E já esgotou as suas ausências.
Meu coração é detalhista.
Você está no topo da minha lista.

Troquei o café por chá de poejo.
Faço desenho no açúcar que derramo pela mesa.
Tudo é tristeza
e consequência.

Te gosto até do avesso.
Só me restou os travesseiros.
Que ainda guardam o teu cheiro.
Eu preciso parar de ficar falando sozinha.

Ainda mais com Shakespeare.

Ainda mais por estar falando sobre você.

Como eu queria saber onde você está agora.
Se você ainda se atrapalha com o cordão da calçada.
E com os nós das sacolas.
Saudade dói muito.
E descobri que você não sente ela sozinha quando há amor.
Não sei onde está minha escova de dentes ou meu RG.
Meus pensamentos acordam e vão até você.

Eclipse, Edward Cullen - pág.76
Sim, a gente gostou de toda essa história.
São muitas expectativas que não deveriam ter nascido.
Já legalizaram aborto disso?
Deveriam.
Talvez eu invente algo legal e fique rica.
Talvez só contente.


Eu falo demais.
Eu sinto temais.
Eu fui demais para você?
Provavelmente deveria ter me contido,
Mas, como quando eu estava contigo?

Passo as minhas angústias com gibis.
Calvin e Mafalda sentem pena de mim.
Agora minha poesia é mimeógrafo.
Tenho Hiroshima dentro de mim.
Meu sono é sopro.
Meu dia está sem fôlego.
Volta pra mim?

3 comentários :

Prosas da Nay disse...

Adorável esse post, gostei muito!!

Flá Costa disse...

Luara, como você consegue sentir aí exatamente o que eu sinto aqui. A cada linha foi um soco no estômago, pois sou eu em cada palavra, em cada dor sentida, vírgula e sentimento.

A tua dor, me perdoa, até conforta. Se é que existe conforto para minha dor.

Camila disse...

Lindo, lindo.. nada melhor que um post assim para domingo :)