05 setembro, 2008

Monera

Talvez seja até angustiante todo o eufemismo que eu aplico a mim mesma. Pôr em evidencia todo esse tino que me faz cambalear não amortece tudo o que sinto. Eu, uma partidária do idealismo, minha mania de poetizar a banalidade alheia. Essa idéia de que todos são personagens de algum romance barato. Estou situada no limite entre viva e não-viva.

Quero poder escrever tudo o que penso, tudo o que sinto. Mas, a verdade é que não escrevo. Gostaria de saber por que somos sinceros só quando pensamos. O pior de tudo, é que nunca sabemos quando vem a hora da morte.

No fundo de todas as coisas só existe esta verdade triste: nós vivemos na solidão – se você não faltou à aula de biologia ou grego, o titulo fará algum sentido.

Eu lido muito bem com minha solidão, ela nunca se queixa do que eu penso, de como eu lido, do que eu vejo. Ela aceita tudo. E não é isso? Humanos adoraram se relacionar com o submisso, é fácil. Enquanto algumas pessoas se preocupam em como banir a solitude, eu me desespero com todos meus amores indefinidos. Deixa o coração um tempo alegre e perturbado e tem o encanto fugido e misterioso de uma música ao longe...

Outras lágrimas aparecem e seguem a primeira no brinquedo de patinar pelo meu rosto. Voce precisa compreender o grande precipício que existe entre o sentimento de solidão e o estado. Não, eu não vivo esse isolamento, eu o sinto. Ninguém ao meu arredor é capaz de se fazer presente – não de fato. Ninguém. -, provavelmente porque eu não estou aqui. Provavelmente nasci no tempo errado, no corpo errado, no mundo errado. Oh Deus, como eu sou errada. Creio que faço Darwin e Nietzsche chorarem.

Quando queremos olhar tudo, acabamos descobrindo o que há de feio no mundo. É engraçado. Vivemos com desilusões. O tempo é responsável por elas tanto quanto as outras pessoas.

Aprendi a disfarçar temporariamente tudo isso com a leitura, os versos, os poemas, os amores... Tornei-me indiferente a solidão, as pessoas e ao chão. Tudo sem importância. Porem eu sei, que o bonito de fato não é um verso de amor, mas sim o amor em si. O amor nos livros e nos poemas é muito ridículo para quem lê e não está amando. Mas o amor em si é a coisa mais bela – cretina, suicida, repugnante – do mundo. E digo mais, só quem não pode amar é que escreve versos de amor. Estando sós, ou não.

19 comentários :

Henrique Monteiro Alive disse...

Eu escrevo versos de amor.
Morri após ler a última linha do seu texto.

Luara Quaresma disse...

Eu costumo matar pessoas.

Anônimo disse...

Baby, é assim e assim será para sempre, houve o clique, o estalo, e tudo será para sempre incompreensível. Como se você escrevesse sobre mim, absorvo seu texto como se olhasse meus próprios dedos refletidos.

Luiz Phelipe disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Luiz Phelipe disse...

Instigante a sua facilidade com a primeira pessoa. Quanto ao conteúdo do texto, me agradam essas certezas incertas da vida. Parabéns, mais uma vez...

Jefferson disse...

"O amor nos livros e nos poemas é muito ridículo para quem lê e não está amando."

E não é?

No fim é mais uma palavra num romance imenso, que não acaba. Ou melhor, que a morte um dia faz acabar e desabar!

Que um dia amemos de verdade!

Vivian disse...

...amando ou não amando, é sempre muito bom falar de amor...bjus, minina linda!

Luara Quaresma disse...

Falo por não poder escrever em silêncio.

Maquinaria de Linguagem disse...

O amor é isso, escrever e amar tem esse paradoxo, nunca sabemos exatamento quando iremos parar de escrever mas sentimos o amor findar. Por aí vai, e se escreves do amor em si, o amor está em ti, até mesmo na ironia da tua escrita. Gostei.

Heduardo Kiesse disse...

gosteiii!!

Bonie disse...

Vou te dizer que eu não sou sincera nem quando eu penso...

:S

Luara Quaresma disse...

Talvez porque voce seja humana.

Albertt disse...

fico feliz..
brigado mesmooo
posso linkar vc?

adorei sseu blog....
muito show msm
~]

Marta disse...

Mas eu olhei o céu
Vazio, diga-se
E me apareceu uma andorinha...

Atormentador, direi

Se olhares em volta, não os vês
Mas fecha os olhos
Ouvirás luz
Sentirás energia
Pureza em tudo o que es
=D

Um Doce Beijo*

Anônimo disse...

solidão, amor ambos, cada um a seu jeito e modo, se entrelaçam, se complementam e nós, quem sabe, eternos mariscos. instigante. meu abraço.

Willian disse...

Devo confsesar qeu tehno uma leve dilsexia... Até o momento que vc disse sobre a aula de biolgoia, eu lia no seu título: Morena... huahuahuahuhuahuahuahua

Que merda!!!


Eu tenho medo de VOCÊ.... Mesmo sem conseguir dizer tudo o que você pensa, consegue dizer parte do que eu penso....

MALUCA!!!
MORENA!!!
MONERA!!!

Sua vida é cria e ativa

Gabi disse...

"Essa idéia de que todos são personagens de algum romance barato. Estou situada no limite entre viva e não-viva."

"Eu lido muito bem com minha solidão, ela nunca se queixa do que eu penso, de como eu lido, do que eu vejo. Ela aceita tudo."

"Ninguém ao meu arredor é capaz de se fazer presente – não de fato. Ninguém. -, provavelmente porque eu não estou aqui. Provavelmente nasci no tempo errado, no corpo errado, no mundo errado."

Trechos que fizeram com que me apaixonasse pelo texto. Nao são somente esses, mas uau, realmente amei.

Nathália E. disse...

Somos sós, mas não estamos sós.
Ai, dá um nervoso isso.

Luara Quaresma disse...

Cocegas.