10 setembro, 2008

Só o que me resta

Hesito entre duas palavras, escolho uma terceira e no fim digo o sinônimo. Meu mundo se resume a palavras que me perfuram, a canções que me comovem, a paixões que já nem lembro, a perguntas sem respostas, a respostas que não me servem, à constante perseguição do que ainda não sei. Meu mundo se resume ao encontro do que são terra e fogo dentro de mim, onde não me enxergo, mas me sinto.
Se você perceber qualquer tipo de constrangimento, não repare, eu não tenho pudores, mas no raro, sofro de timidez. E note bem: não sou agressiva, mas defensiva. Impaciente onde você vê ousadia. Falta de coragem onde você pensa que é sensatez.
Não é por nada que olho: é que gosto de ver as pessoas sendo. E eu morrendo.

Pergunto-me se existem outras pessoas como eu. Entristece-me pensar assim, ou na verdade sou egoísta o suficiente acreditando que só eu sobreviva a tudo isso que não sei explicar. Tento acordar. “Bom dia tristeza! Você veio me ver.” – patético.
Mas mesmo assim, sempre pinta um momento qualquer em que eu esqueço todos os conselhos e sigo por caminhos escuros. Estranhos desertos. E, ignorando todas as regras, todas as armadilhas dessa vida urbana, dessa violência cotidiana (se você me assalta, eu reajo).
Um olhar, uma lágrima que cai, um abraço… Isso é muito pouco na vida. Então, isso vale mais que tudo para mim. Tempos atrás era muito mais fácil tentar ser feliz. Desde pequena, sempre quis voltar a ser criança. Porem, me esmaga o fato de muitas vezes constatar que o melhor da infância foi ter a abandonado. Eu bebo contradições. É relativo. Voce não precisa entender.

Muitas vezes me indigna o fato de não ter nenhum dom. Mas, eu tenho um ‘poder’; segundo muitas pessoas que tentam me animar, me mostrando o quanto eu posso ser importante, o quanto posso ajudar – se eu te contasse voce não acreditaria; então me pergunte se voce quiser detalhes.
Com o decorrer do meu crescimento fui conhecendo mais palavras, fui me embebedando de contradições e fui aprendendo, graças a Deus, a me defender. É o de mais agradável na natureza humana; chama-se tortura psicológica.
Meu sonho é ser uma escritora repugnante, indigesta, ramosa... Ser ovacionada, rejeitada, ver as pessoas se entupindo dos meus contos estúpidos, desabafos dramáticos e cretinos, histórias sem sal e vomitando aos meus pés...má sorte, destino, praga, olho gordo, inferno astral... Chame do que quiser, eu só quero acordar. Sou uma mentirosa, egoísta. E terminou a conversa.

Vou ser má, porque ser boazinha está fora de moda. Ser odiada me favorece muito mais, afinal não sei lidar com o amor. E eu te pergunto, eu me pergunto: o que me resta?
A resposta vem logo depois. ESCREVER. Só me resta escrever.


Nota da autora: Nem sou má, é tudo marketing.

5 comentários :

Anônimo disse...

bem-vinda ao mundo das meninas más (6) ;D

Maquinaria de Linguagem disse...

Eis o marketing perverso da menina má. Tem um livro maravilhoso do Maria Vargas Llosa que se chama "Travessuras da menina má". Ela chama o personagem de "bom menino"..rssrs. Uma história fascinante. Vai a dica. Beijo

Ana Sanson disse...

a m e i ! *O*

Padma Norbu disse...

Às vezes perdemos a intuição daquilo que nos fazia sorrir...

Anônimo disse...

texto de extraordinária lucidez. sim, poderíamos tomar café e conversar por horas. e quem sabe escrever palavras.