15 março, 2008

Urtiga

Sou estúpida e contagiosa. Quero plantar um filho, escrever uma árvore, e ter um livro.

Só queria acreditar que não há só maldade no mundo. A humanidade não merece ser salva, vamos deixar tudo assim. Antes se preocupar com que roupa você irá à festa do que com todas as crianças que morrem a cada 9 segundos num mundo completamente fusco.

Admito que no mundo ninguém esteja sozinho. Todo ser está interligado, um ato pode transformar tudo – o destino é sacana, não se prenda ao futuro.

Mas, não concordo.

Exato, não concordo. Não sou obrigada a concorda, ora. Os pensamentos são meus, as palavras são minhas, eu criei meu mundo – ele tem cores, consigo beijar o vento -, faço dele o que quiser. E estou aprendendo a ser egoísta o suficiente para não aceitar visitas.

Ou seja, para mim o humano não passa de um amontoado de ossos boiando em carne.
Aqui as únicas coisas que realmente possuem vida é o céu e o mar. O resto só existe.

Estou sem ritmo para pessoas acordadas.

Não sou, e não faço questão de ser alguém importante pra você – não quero que você pense em mim antes de adormecer.

Gosto de provocar brigas e inventar desculpas. Sou uma guria que não combina com ninguém. Não se iluda.

As sensações que desenho não me servem para nada, não quero sua pena. Mas, agradeceria se você me desse seu dinheiro. Prefiro dizer que não estou.

Eu vejo sangue pelo meu jardim, a Terra precisa ser adubada. As calotas estão derretendo e eu preciso fazer minhas unhas. Necessidades.

Haverá o dia – como disse Einstein -, em que matar um animal será tão grave quanto matar uma pessoa. Essa possibilidade me faz pensar. O que são pessoas?

Vou continuar a barganhar os pensamentos alheios, a observar minhas mãos e tentar poupar água.

Que fique claro que eu não sou explícita, o fato de eu não me demonstrar claramente não quer dizer que eu não sinta. Aliás, pisar em urtigas é bem doloroso, não tem como não sentir.

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